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sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A pizza do Renan e dos seus amigos senadores

Renan não está sozinho.
Na política, tudo costuma ser jogada ensaiada. Se um deputado sinaliza fortemente que está indo para um lado, há fortes possibilidades de que vá para o outro. A isso se chama de astúcia política, mais ou menos como se jogar para cavar o pênalti enganando o árbitro. Se um candidato potencial a um cargo afirma que não está pensando no caso ou que talvez não concorra, é balão de ensaio: quer ver a reação para impor a sua vontade. Como se diz popularmente, político não prega prego sem estopa. O jovem senador Randolfe Rodrigues vem fazendo o papel que lhe caba, o de “enfant terrible” da casa. Há dois dias, revelou o esquema secreto que vem garantindo a vergonhosa candidatura de Renan Calheiros à presidência do Senado.
É simples como são, em geral, as armações da políticas. Simples e funcionais: Calheiros trabalhou para transformar em pizza a CPI do Cachoeira, que, apesar de relatada por um petista, incomodava muita gente importante, inclusive do petismo. Resultado: ninguém foi indiciado. O governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo, atolado até o último fim de cabelo, escapou limpinho. O PT gostou e resolveu apoiar Renan para a chefia do Senado. Renan Calheiros, desde o tempo em que era colorido, é um mestre na arte do toma lá dá cá. Randolfe denunciou o “mensalão do Renan”, uma troca de votos na CPI do Cachoeira pelo apoio à sua tomada da presidência do Senado. Nada mudou. Cada voto tem preço.
Randolfe Rodrigues, pelo jeito, daria um ótimo presidente do Senado. Seria um choque de renovação. Aos olhos das velhas raposas, porém, ele é cheio de defeitos: é muito jovem, não gosta de pizza política, integra o PSOL, que incomoda por ser marxista e “radical”. Na política tradicional brasileira radical é um rótulo para adversários da “sensatez”  e a “moderação” dos arranjos convencionais que perpetuam os Renan, Sarney, Jader Barbalho, Paulo Maluf e outros da mesma laia nas suas zonas de conforto. Os “radicais” são cheios de convicções “desagradáveis” e costumam defender temas inconvenientes como ecologia, combate à homofobia e ao trabalho escravo, fim de mordomias do tipo salário-moradia para magistrados que moram nas suas casas e outras coisinhas desse tipo que não chocam os “razoáveis” encastelados no poder.
Dificilmente Randolfe Rodrigues será presidente do Senado. Ele tem qualidades demais para isso. Na vida, quase sempre é muito perigoso ter excesso de competência. Provoca inveja e prevenção. Além disso, ele comete um pecado mortal em política: diz o que pensa publicamente. A grande arte da política consiste em pensar uma coisa e dizer outra para ludibriar o oponente. É no jogo de esconde-esconde que se constroem os grandes poderes. Renan Calheiros não tem moral para presidir um lupanar. Não me choca que ele insista. Faz parte da sua falta de superego. Chocante é que seus colegas o apoiem. Por que não transferem seus votos para Randolfe Rodrigues? Será que quase todo mundo tem o rabo preso em nosso Senado?
Renan Calheiros não está sozinho.
Há muitos coleguinhas dispostos a votar nele.
Sinal de que o Senado ainda não se tornou republicano. Por Juremir Machado da Silva, 31/01/2013, Correio do Povo – Política.


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