Por Juremir Machado da Silva,
www.correiodopovo.com.br.
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parece que vai, convenhamos aí é que não vai. Depois das manifestações de rua,
o Congresso Nacional fingiu dar grandes passos à frente e deu mesmo alguns para
trás. A Câmara de Deputados aprovou o orçamento impositivo. Em português de
gente, legitimou o balcão de negócios dos deputados com suas comunidades, cabos
eleitorais e eleitores, pelas tais emendas parlamentares. Tirou o governo da
parada. Como funciona? Cada deputado tem direito a destinar alguns milhões para
projetos que aprovar. O governo é que libera o dinheiro. Só o faz para quem se
comporta bem. Pela nova regra, o Executivo não poderá mais controlar essa
torneirinha.
Os
nossos representantes tiveram a oportunidade de cassar o quadrilheiro e
presidiário Natan Donadon. Não o fizeram. Quatorze gaúchos de uma bancada de 31
tiveram alguma razão para não comparecer à constrangedora sessão de degola ou
de salvação do colega: Afonso Hamm (PP), Alceu Moreira (PMDB), Alexandre Roso
(PSB), Beto Albuquerque (PSB), Elvino Bohn Gass (PT), Darcísio Perondi (PMDB),
Eliseu Padilha (PMDB), Enio Bacci (PDT), Giovani Cherini (PDT), José Otávio
Germano (PP), Dionilso Marcon (PT), Renato Molling (PP), Ronaldo Zulke (PT) e
Vilson Covatti (PP). Todos tinham algo mais importante a fazer naquela noite.
Alguns alegaram desconhecimento de que o assunto seria votado naquele dia, uma
terça-feira normal de trabalho em Brasília.
Depois
desse episódio grotesco, os deputados resolveram aprovar o fim da votação
secreta em todas as situações. O Senado já declarou que, diante das
resistências fatiará a proposta. O impoluto Renan Calheiros, presidente da
Casa, só colocará em votação a parte que se refere a cassações de mandato. Não
deixa de ser um passo importante no lento avanço rumo à transparência. Servirá
para sepultar as chances de absolvição dos mensaleiros petista José Genoíno e
João Paulo Cunha. O STF, porém, desconfiado de que nem isso aconteça, já
definiu que dará a última palavra nesse assunto. O problema do STF é que muda
de opinião toda hora. Aquilo que vale num caso pode não valer no outro. Depende
dos ministros. Passa a ideia de que não existem critérios claros, mas
simplesmente interpretações livres.
O
teatro nacional continua. Navalha na carne? Nunca. Só jogo de cena. Não se
encontra um deputado ou senador para o papel de masoquista. Alguns preferem
atuar como sádicos. Acham mais divertido. Fazem caretas, mímicas, discursos e
grandes representações> Roubam a cena. Opa! Aí é que o bicho pega. Não que
todos sejam desonestos. Há gente boa no parlamento. Esse pessoal só não
consegue impor as regras, frear o apetite dos desonestos e dirigir a peça. O
pior está em cartaz há décadas. É teatro para televisão. Os atores brilham
especialmente nos papéis de vilão. Um é melhor (pior) do que o outro. Não temem
a reação do público. Diante de vaias, fingem recuar, deixam escapar lágrimas
técnicas e, passado o rumor da plateia, retomam o texto original e o desempenho
de sempre. A entrada parece ser franca. Paga-se por outros meios. Impostos. Até
agora ninguém conseguiu trocar o canal.
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