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quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Teatro nacional (Fonte: CP 06/09/2013).

Por Juremir Machado da Silva, www.correiodopovo.com.br.
Q
uando parece que vai, convenhamos aí é que não vai. Depois das manifestações de rua, o Congresso Nacional fingiu dar grandes passos à frente e deu mesmo alguns para trás. A Câmara de Deputados aprovou o orçamento impositivo. Em português de gente, legitimou o balcão de negócios dos deputados com suas comunidades, cabos eleitorais e eleitores, pelas tais emendas parlamentares. Tirou o governo da parada. Como funciona? Cada deputado tem direito a destinar alguns milhões para projetos que aprovar. O governo é que libera o dinheiro. Só o faz para quem se comporta bem. Pela nova regra, o Executivo não poderá mais controlar essa torneirinha.
Os nossos representantes tiveram a oportunidade de cassar o quadrilheiro e presidiário Natan Donadon. Não o fizeram. Quatorze gaúchos de uma bancada de 31 tiveram alguma razão para não comparecer à constrangedora sessão de degola ou de salvação do colega: Afonso Hamm (PP), Alceu Moreira (PMDB), Alexandre Roso (PSB), Beto Albuquerque (PSB), Elvino Bohn Gass (PT), Darcísio Perondi (PMDB), Eliseu Padilha (PMDB), Enio Bacci (PDT), Giovani Cherini (PDT), José Otávio Germano (PP), Dionilso Marcon (PT), Renato Molling (PP), Ronaldo Zulke (PT) e Vilson Covatti (PP). Todos tinham algo mais importante a fazer naquela noite. Alguns alegaram desconhecimento de que o assunto seria votado naquele dia, uma terça-feira normal de trabalho em Brasília.
Depois desse episódio grotesco, os deputados resolveram aprovar o fim da votação secreta em todas as situações. O Senado já declarou que, diante das resistências fatiará a proposta. O impoluto Renan Calheiros, presidente da Casa, só colocará em votação a parte que se refere a cassações de mandato. Não deixa de ser um passo importante no lento avanço rumo à transparência. Servirá para sepultar as chances de absolvição dos mensaleiros petista José Genoíno e João Paulo Cunha. O STF, porém, desconfiado de que nem isso aconteça, já definiu que dará a última palavra nesse assunto. O problema do STF é que muda de opinião toda hora. Aquilo que vale num caso pode não valer no outro. Depende dos ministros. Passa a ideia de que não existem critérios claros, mas simplesmente interpretações livres.
O teatro nacional continua. Navalha na carne? Nunca. Só jogo de cena. Não se encontra um deputado ou senador para o papel de masoquista. Alguns preferem atuar como sádicos. Acham mais divertido. Fazem caretas, mímicas, discursos e grandes representações> Roubam a cena. Opa! Aí é que o bicho pega. Não que todos sejam desonestos. Há gente boa no parlamento. Esse pessoal só não consegue impor as regras, frear o apetite dos desonestos e dirigir a peça. O pior está em cartaz há décadas. É teatro para televisão. Os atores brilham especialmente nos papéis de vilão. Um é melhor (pior) do que o outro. Não temem a reação do público. Diante de vaias, fingem recuar, deixam escapar lágrimas técnicas e, passado o rumor da plateia, retomam o texto original e o desempenho de sempre. A entrada parece ser franca. Paga-se por outros meios. Impostos. Até agora ninguém conseguiu trocar o canal.

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