Ministra vê como natural o toma lá dá cá, um costume do sistema político
eleitoral.
Ideli
Salvatti: promessa de levar pleito dos prefeitos à presidente Dilma (Antonio
Cruz/Agência Brasil).
Enfrentando uma das mais agudas
crises entre Executivo e Legislativo, a ministra das Relações Institucionais,
Ideli Salvatti, admitiu que o Congresso às vezes faz chantagem com o governo e
diz que a prática não é vista com bons olhos pela presidente Dilma Rousseff.
Adianta que na próxima semana vai liberar R$ 2 bilhões em emendas
parlamentares, o que deve desanuviar o céu de Brasília. E recomenda "divã
e maracugina" aos parlamentares.
"Vou te dizer que essa
possibilidade (de chantagem) existe e de vez em quando acontece", disse
Ideli. Na posição de mediadora entre os dois Poderes, a ministra atribui a
culpa desse costume ao sistema político eleitoral, que obriga a formação de um
governo de coalizão.
"A questão dos cargos, que
não é prerrogativa dos parlamentares, acaba sendo uma, digamos, decorrência da
obrigatoriedade de fazer coalizão. O aliado pensa: 'Se vou ajudar aqui (no
Executivo), o meu partido vai ajudar lá (no Legislativo)'. Então é legítima
também a postulação de compartilhamento dos postos de execução do
governo."
Em outras palavras, a ministra vê
como natural o toma lá dá cá. Mas reconhece que nem sempre o universo é
harmônico e detecta abusos. "É claro que isso, em muitas situações, acaba
provocando distorção, como apresentação de nomes que não são compatíveis, ou
exigências que passam da conta, passam do razoável para a coalizão."
Além de aspirar a nomeações, os
legisladores estão ressentidos porque o dinheiro das emendas parlamentares
ainda não começou a pingar. A ministra se esquiva: "No ano passado, que o
orçamento foi votado na época certa, eu já estava empenhando as emendas em
abril e este ano ainda nem comecei. Mas foi responsabilidade nossa? Não. Eles
poderiam ter votado o orçamento no ano passado".
Legislativo x Executivo - Sentada há dois anos na "pior cadeira" da Esplanada, Ideli diz
se sentir como um problema de Física - disciplina na qual é licenciada para dar
aulas - por sofrer pressões da Presidência, dos parlamentares, prefeitos e
governadores. "Tudo bem, pode ter flechinha de força vinda de todos os
lados, o importante é a força resultante. E a nossa resultante é positiva.
Apesar das flechas e das flechadas."
Para recordar, força resultante na
Física é o somatório vetorial de todas as forças que atuam sobre um corpo. Na
política, significa aprovar no Congresso matérias de interesse do governo, como
desonerações, MP dos Portos, Código Florestal.
A ministra considera o momento
"apimentado" entre os dois Poderes como consequência da antecipação
do calendário eleitoral, iniciado, na visão dela, não pelo ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. "Aécio (Neves, provável candidato tucano à
Presidência) já estava a mil pelo Brasil e Eduardo Campos (possível candidato
do PSB à Presidência) já estava com dedinhos à mostra, ambos querendo se tornar
conhecidos nacionalmente."
Na visão de parlamentares ouvidos
pela reportagem em condição de anonimato - "porque ninguém quer pôr o
rostinho", espeta Ideli -, as principais críticas ao trabalho da ministra
são a falta de autonomia e de jogo de cintura, atributo de ex-titulares da
pasta como o atual ministro do Tribunal de Contas da União José Múcio Monteiro,
e a proeza de desagradar até parlamentares do PT. A ministra tenta se explicar.
"A grande dificuldade do meu
cargo é que aqui não tem nada que seja da minha total governabilidade. Nada.
Não executo nada, todo o meu trabalho depende dos outros. Múcio foi mesmo muito
competente. Mas tem uma rapaziada que faz de conta que não entende que durante
determinado período estava uma outra personalidade presidindo o País",
diz. "A maneira de o senhor Luiz Inácio Lula da Silva, digamos, interagir
é diferente da maneira da presidente Dilma. Ela é extremamente preocupada com a
questão do monitoramento. Lula delegava mais". De 16/06/2013, veja.com.br.
(Estadão conteúdo).
Nenhum comentário:
Postar um comentário