BRASÍLIA - O Ministério Público Federal
vai investigar o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva com...
"Ex-presidente
não comentou a decisão do MPF"
BRASÍLIA
- O Ministério Público Federal vai investigar o ex-presidente da República Luiz
Inácio Lula da Silva com base na acusação feita pelo operador do mensalão,
Marcos Valério, de que o esquema também pagou despesas pessoais do petista. O
procurador-geral da República, Roberto Gurgel, decidiu remeter o caso à
primeira instância, já que o ex-presidente não tem mais foro privilegiado. Isso
significa que a denúncia pode ser apurada pelo Ministério Público Federal em
São Paulo, em Brasília ou em Minas Gerais.
A
integrantes do MPF Gurgel tem repetido que as afirmações de Valério precisam
ser aprofundadas. A decisão de encaminhar a denúncia foi tomada no fim de
dezembro, após o encerramento do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal
Federal (STF). Condenado a mais de 40 anos de prisão, Valério, que até então
poupava Lula, mudou a versão após o julgamento.
Ainda sob
análise do procurador-geral da República, o depoimento de Valério em setembro
do ano passado, revelado pelo Estado, e os documentos apresentados por ele
serão o ponto chave da futura investigação que, neste caso, ficaria
circunscrita ao ex-presidente.
O
procurador da República que ficar responsável pelo caso poderá chamar o
ex-presidente Lula para prestar depoimento. Marcos Valério também poderá ser
chamado para dar mais detalhes da acusação feita ao Ministério Público em 24 de
setembro, em meio ao julgamento do mensalão. Petistas envolvidos no esquema
sempre preservaram o nome de Lula desde que o escândalo do mensalão foi
descoberto, em 2005.
Mentiroso.
Ao tomar conhecimento das acusações feitas por Valério, Lula o chamou de
mentiroso. "Eu não posso acreditar em mentira, eu não posso responder
mentira", reagiu o ex-presidente, em dezembro do ano passado.
No
depoimento de 13 páginas, Valério disse ter passado dinheiro para Lula arcar
com "gastos pessoais" no início de 2003, quando o petista já havia
assumido a Presidência. O empresário relatou que os recursos foram depositados
na conta da empresa de segurança Caso, de propriedade do ex-assessor da Presidência
Freud Godoy. Nas palavras de Valério, Godoy era uma espécie de
"faz-tudo" de Lula.
Ao
investigar o mensalão, a CPI dos Correios detectou, em 2005, um pagamento feito
pela SMPB, agência de publicidade de Valério, à empresa de Freud. O depósito
foi feito, segundo dados do sigilo quebrado pela comissão, em 21 e janeiro de
2003, no valor de R$ 98,5 mil.
Oficialmente,
Freud Godoy afirmou que o dinheiro serviu para o pagamento de serviços
prestados durante a campanha eleitoral de 2002. Esses serviços admitiu Freud
Godoy à época da CPI, não foram formalizados em contrato e não houve
contabilização formal das despesas.
No
depoimento, Valério disse que esse dinheiro tinha como destinatário o
ex-presidente Lula. Ele, no entanto, não soube detalhar quais as despesas do
ex-presidente foram pagas com esse dinheiro. Conforme pessoas próximas, Valério
afirmou que esse pagamento ocorreu porque o governo ainda não havia descoberto
a possibilidade de gastos com cartões corporativos.
Gurgel
volta de férias na próxima semana e vai se debruçar sobre o assunto. A
auxiliares, o procurador já havia indicado que seria praticamente impossível
arquivar o caso sem qualquer apuração prévia. No fim do ano, a subprocuradora
Cláudia Sampaio e a procuradora Raquel Branquinho, que colheram o depoimento de
Valério, foram orientadas por Gurgel a fazer um pente fino nas denúncias.
A
intenção era identificar possíveis inconsistências no depoimento e armadilhas
jurídicas. Gurgel, por mais de uma vez, manteve reservas sobre a acusação feita
por Valério. E publicamente afirmou que o empresário é um jogador. Mas não
desqualificou de pronto as afirmações do operador do esquema.
O
advogado de Valério, Marcelo Leonardo, disse que seu cliente vai aguardar
"o destino que será dado ao expediente".
Cobrança.
No STF, a revelação das acusações levou integrantes do tribunal a cobrarem
investigações. O presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, afirmou em
dezembro que não haveria outra saída senão investigar. "O Ministério
Público, em matéria penal, no nosso sistema, não goza da prerrogativa de
escolher o caso que leva adiante, que caso ele vai conduzir. É regido pelo
princípio da obrigatoriedade, tem dever de fazê-lo", disse. Por Felipe Recondo e Alana Rizzo, 09/01/2013,
de O Estado de S. Paulo, estadao.com.br
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