Presidente americano e líderes europeus ajudaram a depor tiranos
asquerosos e permitiram a ascensão do mal maior
Por Reinaldo Azevedo, 16/11/2015,
www.veja.com.br
Potências ocidentais
são, sim, em parte culpadas pela dimensão que tomou o terror, mas não pelas
razões perturbadas apontadas pelas esquerdas, que pretendem voltar às Cruzadas
para justificar os assassinos.
Eu sei o quanto
apanhei neste blog e em alguns outros veículos porque chamei, desde o início,
de terrorismo aquilo a que se assistia na Síria e na Líbia, por exemplo. Aliás,
nunca cai no conto da Primavera Árabe — que primavera nunca foi. Aqueles que
assistiram a um debate de que participei no clube Hebraica, em São Paulo, há
mais de três anos, sabem disso.
“Eu não sou um
entusiasta disso que chamam ‘Primavera Árabe’, vocês sabem. Acho que,
infelizmente, é o radicalismo islâmico que está ganhando espaço nessa jornada.
Custará caro. E espero, obviamente, estar errado. O fato de Bashar Al Assad ser
um ditador asqueroso, a exemplo de outros que já caíram, não deve servir de
pretexto para considerar aceitáveis certos métodos. Aquilo a que se assistiu na
Síria nesta quarta-feira tem nome: atentado terrorista. Condescender com isso
corresponde a aceitar qualquer método, inclusive os de Assad, ora essa!”.
Dias antes da
derrocada de Muamar Kadhafi, na Líbia, apontei os erros cometidos pela OTAN,
sob os auspícios de EUA e Reino Unido, que prepararam o caminho para que os
terroristas derrubassem o ditador. Escrevi no dia 22 de agosto de 2011:
“A Líbia de Kadafi foi, durante muitos anos, um celeiro de terroristas — aliás, era governado por um. Aí o homem se engraçou com o Ocidente, declarou inimigos os jihadistas e passou a colaborar efetivamente com o combate ao terrorismo, tanto que recebeu o afago dos governos dos EUA e da Grã-Bretanha. O jihadismo se alinhou com os rebeldes. Alguns de seus soldados são veteranos ainda da guerra do Afeganistão contra a… União Soviética! Quem dará o tom do novo governo? É uma tolice imaginar que toda a sociedade líbia repudia Kadaf.”
“A Líbia de Kadafi foi, durante muitos anos, um celeiro de terroristas — aliás, era governado por um. Aí o homem se engraçou com o Ocidente, declarou inimigos os jihadistas e passou a colaborar efetivamente com o combate ao terrorismo, tanto que recebeu o afago dos governos dos EUA e da Grã-Bretanha. O jihadismo se alinhou com os rebeldes. Alguns de seus soldados são veteranos ainda da guerra do Afeganistão contra a… União Soviética! Quem dará o tom do novo governo? É uma tolice imaginar que toda a sociedade líbia repudia Kadaf.”
Há quem aposte na
memória curta de leitores, de ouvintes, de telespectadores, de internautas. É
claro que, naqueles dias, o mais difícil era defender a opinião de que EUA e
Europa faziam muito mal em estimular a queda de, digamos, ditadores amigos,
estimulando os defensores da suposta “Primavera”, que abriu caminho para o
jihadismo. Mas era a coisa sensata a fazer.
Como o sensato, em
dias recentes, não era claro! Escorraçar os refugiados, mas, quando menos,
criar critérios mais severos para a entrada deles na Europa. Ou alguém duvidava
de que aquele movimento estivesse na mira do terror e de que se abria uma
janela formidável para a entrada em massa de terroristas? Se o Estado islâmico
blefa ou não quando anuncia que infiltrou milhares de seus militantes no
continente, não sei. Basta, meus caros, que isso fosse possível - e é claro que
era.
Mas o Ocidente gosta
de se enganar. Gosta de pensar que a democracia é dessas coisas que fazem parte
do ar que respiramos, como se ela não fosse uma construção humana, uma escolha,
um conjunto de princípios volitivos.
O mundo pagará caro,
por muitos anos, pelos erros cometidos por Barack Obama e por seus aliados
europeus quando, sob o pretexto de apoiar a Primavera Árabe, pavimentaram o
caminho do terror.
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