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sexta-feira, 27 de novembro de 2015

O fantástico mundo do PT



Por Augusto Nunes, 21/08/2015, www.veja.com.br

Editorial publicado no Estadão:

O Partido dos Trabalhadores (PT) tem aprimorado sistematicamente a sua capacidade de construir uma realidade própria. Diante de fatos inequívocos – por exemplo, as graves denúncias de corrupção e as mais que evidentes provas de um governo inepto, que leva o país à garra –, o PT refugia-se num universo onírico, criado com o único e exclusivo intuito de se isentar de responsabilidade pela crise que assola o país e criar constrangimento a todo aquele que não dê anuência a seu projeto de poder.
Nesse mundo paralelo, as palavras ganham significado peculiar, escolhido a dedo de acordo com as circunstâncias. Intolerante não é aquele que não admite a opinião alheia. Intolerante passa a ser todo aquele que ousa manifestar opinião contrária aos interesses petistas. Se o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso expressa sua opinião de que a renúncia da presidente Dilma, ou ao menos o reconhecimento dos erros cometidos, seria um gesto de grandeza de sua parte, ele é imediatamente tachado de intolerante e instado a se calar, porque ex-presidente deve se recolher à sua insignificância. Exceto, é claro, o mais ilustre de todos, Lula da Silva, cujos conselhos são ouro puro.
Esse é o método petista – acuar quem não concorda com o jeito de governar do PT. Na ótica petista, a manifestação da opinião política – como a que se viu no último domingo, por todo o país – já não faz parte da liberdade de expressão e da liberdade política. É golpismo, revanchismo de quem não aceita o resultado das eleições.
Da mesma forma, quem considera que há razões legais e constitucionais para o impeachment da presidente Dilma é simplesmente golpista. Levada ao extremo a interpretação que esses petistas dão à lei e aos fatos, o fundamento do Estado não é a Constituição Federal. O Estado é o partido – e a legalidade deixa de ser uma régua que mede a todos, para ser uma linha fluida e incerta, que protege não a coletividade, mas os interesses bem particulares do partido e de seus sobas.
No universo particular petista, o mal não é a corrupção. O que causaria prejuízo ao país são as investigações que trazem à tona a corrupção. Essas investigações travam a economia. As investigações policiais, portanto, precisariam ser contidas, pois trazem o risco de afetar empresas, que geram emprego e crescimento econômico. Pelo menos algumas empresas e empresários – não por acaso aqueles que contribuem generosamente para o projeto petista – precisam ser blindados. Trata-se de dever patriótico de todo aquele que quer o progresso do Brasil.
Na defesa de seus interesses, o PT, partido do progresso e da transformação, não teme assumir contornos conservadores. Quer a todo o custo que tudo fique como está. Principalmente, que não se esclareça muita coisa, que não se investigue a fundo, que não se puna de acordo com a lei. A delação premiada – simplesmente por ter sido o instrumento para expor ao país tantos atos de corrupção praticados ao longo dos anos de PT no governo federal – passou a ser execrada publicamente, como se fosse a mais alta imoralidade. Com essa atitude, transforma-se em valor moral da mais elevada extração a omertà, o silêncio cúmplice, que perpetua as máfias.
A construção da onírica realidade petista não é inocente. Com ares de preocupação social, manipula a linguagem com a única preocupação de proteger amigos e agentes – a tigrada que vinha tirando o que podia do Tesouro para sustentar as aventuras eleitorais do partido e, de quebra, enriquecer um pouquinho.
A “criatividade” petista – que nada mais é do que uma fuga do mundo real, com suas constrangedoras responsabilidades – manifesta desespero político. Abandona qualquer pretensão de coerência em troca de uma tábua de salvação.
A legitimidade democrática passa necessariamente por respeitar a realidade e as palavras. Tolerância, liberdade, legitimidade, honestidade são palavras muito sérias, que exigem respeito, já que definem grandes bens que precisam ser protegidos. Abusar delas é imoral. E antidemocrático.

Comentários:

David Mandryk
22/8/2015 às 10h40min
Fantástico editorial! Uma página para a História do Brasil.

Eduardo Martignago
22/8/2015 às 10h02min
Como parece fácil para alguns colocar em palavras o pensamento de todos. Parabéns ao editorial do estadão!

Walter
22/8/2015 às 3:23
PT, um partido de calhordas e ingênuos úteis.

Valentina de Botas
22/8/2015 às 02h45min
Xampum, creme rinse. Xampu não tem m no final e ninguém fala creme rinse, pai, é condicionador. Obrigado, dizia cordialmente desinteressado, vou me lembrar. Que nada! Seria sempre assim. Quando tomava chuva e voltava com frio, minha mãe não dizia palavra. Antes avisara que levasse um guarda-chuva, homem, que vai chover e um casaco que vai esfriar, mais e essa tua bronquite é danada. Sabia disso, mas, quê diacho! Ele não era criança, então, saía sem guarda-chuva e casaco. 50 anos viveram assim. Na volta, nem precisava ver os olhos da cabocla para adivinhar a censura silenciosa. O armistício era na cozinha intermediado pelo cheiro pacificador do café feito inda agorinha. Sentavam-se à mesa, falavam de tudo, menos do guarda-chuva e do casaco, até riam. É o jeito de o teu pai ser livre; de primeiro, achei que a bronquite ia matar ele, depois vi que era disso que ele ia morrer não, mas se eu deixar de falar que ele pegue o guarda-chuva e o casaco e, aí, Deus Nosso Senhor usa essa bronquite pra levar ele nesse dia, só vou lembrar que foi porque não falei do guarda-chuva e do casaco; é lembrança pouca demais pra tantos 50 anos. Minha mãe doce me explicou. As fatias diárias da nossa convivência surgiram monolíticas no trajeto até o hospital enquanto todos aqueles outdoors me viam passar pela marginal Pinheiros naquela manhã desnecessariamente azul de 7 de janeiro de 2013 de um azul que azulejava tudo em volta. O que fazer com a beleza daquele dia? Beleza sem lugar, fora de hora. Um auto-engano me dava à certeza de que o pior já tinha passado: depois do telefonema pouco antes das 6 da manhã chamando a família ao hospital e da notícia da morte. Escalada para receber o corpo, segui o funcionário que abria umas portas até uma sala fria. Me intriga se era um ventilador, alguma janela aberta ou só o vendaval indiferente do que a gente passa e do que passa pela gente que fazia o cabelo prata e liso voar para fora do lençol. É meu pai amado, amado, amado, falei na lucidez levada às últimas conseqüências para admitir que nada é pior do que forçar a razão ao que o coração já sabe. Só talvez agora que sei - de um saber provisório como só o saber sabe ser - que o pior nunca passa: a ausência. Encontrei nesta tarde, entre uns papéis por organizar, a lista de compras que meu pai escrevia quando teve o derrame que o matou. O homem direto, claro e simples não deturpava o sentido das coisas como no asqueroso mundo petista; meu pai repudiava essa coisa com tudo dentro. Profetizava que a farsa cairia de repente e, tão imensa, cairia de uma vez. Releio a lista, penso na dádiva que seria ter só um dia com ele, mostrar-lhe a profecia que se cumpre e aproveitar para me desculpar por erros evitáveis. Lembro-me que estou sem condicionador, quando terminar este comentário vou prender um lembrete na geladeira: comprar creme rinse. Um beijo eterno, pai; um beijo, pais; um beijo, Augusto

CARLOS FRANCISCO DE FARIAS
22/8/2015 às 02h03min
O partido dos trabalhadores ao assumir o poder contrariou toda sua ideologia de honestidade ao se alinhar com partidos viciados pra se perpetuar no poder.

Lia
22/8/2015 às 0:34
Como pode um partido político ser legal, como o PT, se não se insere e obedece a isso:
Titulo 1 – Disposições preliminares da Lei dos Partidos Políticos
Art. 5º A ação do partido tem caráter nacional e é exercida de acordo com seu estatuto e programa, sem subordinação a entidades ou governos estrangeiros.
Oras o PT obedece ao foro de São Paulo, com suas resoluções e agenda em evidente conflito de interesse com a soberania nacional.
Nem assinou a constituição... Pêra lá como comem mosca neste país.

Paulistana
21/8/2015 às 21h10min
O Estadão, tão respeitado em tempos idos, hoje só existe em seus editoriais, infelizmente. Q essa excelência volte a ocupar todos os seus espaços, está fazendo falta.

Mari
21/8/2015 às 19h40min
Bem, agora é só questão de tempo, mas tempo bem próximo para darmos o golpe final. Deixa a bomba mais um pouco no colo da rainha e do rei mor. Deixa sangrar mais um pouco. Deixa os bolsa esmola começarem a fazer passeata e exigir aumentos na esmola, a sentirem no bolso o preço que estamos pagando pela alimentação. Quem vai derrubar e tirar o coro da rainha e do rei mor será eles. Mas o fim já chegou, o PT está com hemorragia grave.

Gilmar Fernandes
21/8/2015 às 19h35min
O PT tem um projeto de poder, sim! Mas, afinal, qual é o problema de se ter um projeto de poder? Todo mundo pode ter um. Eu também tenho um projeto de poder… ver todos os caciques do PT na cadeia!

Sinn-Klyss
21/8/2015 às 19h30min
Existe o EI lá das outras bandas do mundo; e existe o EI daqui, o daqui é EI = Encostados Imundos, que é o séquito regalado NO ROUBO aos brasileiros, e que a população que labuta PAGA.
Até agora, alguém viu algum ‘ministério’ ser extinto? OU, já encaixotaram as ‘encomendas’ de vagabundos dentro dos outros ministérios?
Pessoalmente digo: Já houve brasileiro que escapou de balaço à queima roupa, tomou paulada, conseguiu se sair de cachorro brabo solto em cima, e veneno (já duas vezes — dessa vez foi como a canção do Ritchie, a covardia veio com o apelido de ‘nininha veneno’ em visita de 1/2 litro tipo uma garrafada de uma vez só impregnada até nas paredes, e depois em pequenas doses até atingir os ossos, dentes, pulmões, etc.).
Brasileiro assim já sofreu ataques de sobra, e a defesa é direito. Jamais tiraria a via de uma pessoa justa (canalhas adoram se gabar de ter tal dificílimo valor), mas gosto da Justiça com a Sentença Executada, e há uma lista numerosa com vermes que, se dissolvidos será o mais saudável possível para uma Nação.
Porque vemos que CRIMINOSOS estão largados no nababo, e uma monteira de covardes se esbaldam a tripudiar de tudo e de todos, pois estão escorados em tudo com travestidos de ‘legalidade’.
O mal que fazem é muito, e a ‘segurança’ espalhada nas ruas é a INSEGURANÇA e a covardia contra o cidadão; é a que assegura que canalhas nos roubem, nos espanque, estupre, nos assassine, atormente-os dia e noite, nos vigie, nos dobre como escravos que os sustenta.
ISSO VAI ACABAR.

PedroPpauloTtulaki
21/8/2015 às 19h27min
Interessante é que eles insistem em dizer que Lula é do povo e que quem mexe com Lula mexe com o povo. 92% dos brasileiros querem é que LULA E TODOS ELES SE EXPLODAM.

Flavio
21/8/2015 às 19h08min
Eita! O Estadão, como antigamente. Acuando a macacada em seu próprio galho podre, reduzindo-os a insignificância da onde nunca deveriam ter saído. Engraçadamente trágico, a esquerdalha furibunda, é a própria “DIREITA” que tanto combatem. Hehehehehe. Freud explica???

Ulysses
21/8/2015 às 18h42min
Manipular a linguagem. Eis, o cerne da visão maniqueísta do PT. Só que, temos um batalhão de aguerridos combatentes – uns, com a coragem dos visionários que se insurgem contra as tramas dos obscurantistas-, como Augusto Nunes, Reinaldo Azevedo, Valentina de Botas, o Oliver, o Rodrigo Constantino e, com não menos dedicação e entusiasmo, os leitores que pontuam com seus comentários largos em lucidez, propagando num esforço diuturno, a inabalável fé em nossas instituições.
Todos os que defendem uma história diferente pro nosso país, aprendem com o embate de idéias no dia-a-dia, a ganhar musculatura, a não aceitar com passividade o esgarçamento social que presenciamos, já, numa intolerável escala.
Não quero este país que tentam moldar, pros meus filhos e netos. Quero, sim, fazer parte de uma elite e passar estes valores, inerentes aos melhores, mais preparados e responsáveis, buscando a igualdade de justiça e a liberdade de escolhas como princípio de vida
Perfeito, caro Ulysses. É uma honra brigar ao lado do timaço de comentaristas e dos leitores que a coluna tem. abração

Sovir
21/8/2015 às 18h34min
Criou-se um estado parasita que vive do suor do trabalhador e criou uma nomenclatura parasita do estado, que vivendo do estado, na mais completa satisfação, tira do povo o pouco que o seu labor proporciona. O pior de tudo é que não aconteceu por acaso, como disse o editorial, mas foi meticulosamente construído. Finalmente a sociedade acordou e está fazendo valer sua força e cabe a cada um de nós não deixar esmorecer. Se Dilma tiver um pouco de “mulheridade” RENUNCIA, para o bem de todos.

Ronaldo
21/8/2015 às 17h54min
O PT tem um projeto de poder?
Nós, o Juiz Sérgio Moro e a Polícia Federal também temos um projeto para o PT.
Em breve o PT e seus amigos serão simplesmente CINZAS DO PASSADO.

João Alves
21/8/2015 às 17h21min
A canalhada feia e horrorosa do PT já começou a sair do esgoto aonde se escondiam! Já contam como certa a não possibilidade do impeachment da sonsa e mentirosa sargentona prussiana, que lembra aquele sargento que inicia o filme “o mais longo dos dias”! 

Carlos
21/8/2015 às 17h19min
Maravilhoso texto. Ideal para os meus princípios...

Newton
21/8/2015 às 17h13min
Acho que a Dilma não deve ser cassada agora. Deixa prenderem o Lula primeiro, senão vão querer punir só a Mandioqueira, e deixar o batráquio barbudo solto, achando que está de bom tamanho. Mas não está. Como o problema do PT é a ideologia antidemocrática, tem que acabar com a raça toda.

Vinícius de Oliveira
21/8/2015 às 17h12min
Não resta mais nada senão apelar para o velho feitiço dos comunistas: a novilíngua. Feitiço hoje inútil porque só atinge a minguada militância, a pequena parcela de estudantes de DCE e os professores de humanas.

Affonso
21/8/2015 às 16h58min
Tudo e’ valido para “eles” se os fins são bons… para “eles”. O que interessa e’ o poder. O resto; bem, o resto é tudo aquilo que possa mante-los no poder…

Hellena Andrade
21/8/2015 às 16:56
Bravo!

Olavo
21/8/2015 às 16h44min
Resumindo: é o PT do marketing e da mentira deslavada. Acho que a cura dessa doença está num tratamento de choque chamado impechment!

Maria-maria
21/8/2015 às 16h40min
Boa análise do modo petista de viver num universo paralelo.

Incisiva
21/8/2015 às 16h39min
Obrigada, Augusto Nunes, por permitir, através de sua página, ler um Editorial dessa categoria. Abre as entranhas do mundo petralha, deixando de fora as vísceras que tentam contaminar o País, com tantas idéias e ações apodrecidas do ponto de vista moral e político. É a tentativa do vale tudo, da degradação do Brasil, por um projeto podre de poder. Assim, os ditos socialistas e falsos defensores de programas sociais, chafurdam no dinheiro público, que não é para a farra de supostos líderes, mitos destruídos pelo rabo que deixam no caminho. Ninguém engana o tempo todo, né? Chegou a hora de desinflar os bonecos que pensavam e vendiam a imagem de gente de bem. São maléficos e merecem um lugar, onde o fogo possa arder em todos os matizes.

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