Um país vai para o brejo quando
políticos lutam por cargos em secretarias e ministérios não porque tenham
qualquer relação com a área, mas porque secretarias e ministérios têm verbas
Por Augusto
Nunes, 13/12/2016,
www.veja.com.br
Texto de Cora Rónai publicado no Globo
Um país não vai para o brejo de um momento para o
outro — como se viesse andando na estradinha, qual vaca cruzasse uma cancela e,
de repente, saísse do barro firme e embrenhasse pela lama. Um país vai para o
brejo aos poucos, construindo a sua desgraça ponto por ponto, um tanto de
corrupção aqui, um tanto de demagogia ali, safadeza e impunidade de mãos dadas.
Há sinais constantes de perigo, há abundantes evidências de crime por toda a
parte, mas a sociedade dá de ombros, vencida pela inércia e pela audácia dos
canalhas.
Aquelas alegres viagens do então governador Sérgio
Cabral, por exemplo, aquele constante ir e vir de helicópteros. Aquela paixão
do Lula pelos jatinhos. Aquelas comitivas imensas da Dilma, hospedando-se em
hotéis de luxo. Aquele aeroporto do Aécio, tão bem localizado. Aqueles jantares
do Cunha. Aqueles planos de saúde, aqueles auxílios moradia, aqueles carros
oficiais. Aquelas frotas sempre renovadas, sem que se saiba direito o que
acontece com as antigas. Aqueles votos secretos. Aquelas verbas para “exercício
do mandato”. Aquelas obras que não acabam nunca. Aqueles estádios da Copa.
Aqueles superfaturamentos. Aquelas residências oficiais. Aquelas ajudas de
custo. Aquelas aposentadorias. Aquelas vigas da perimetral. Aquelas diretorias
da Petrobras.
A lista não acaba.
Um país vai para o brejo quando políticos lutam por
cargos em secretarias e ministérios não porque tenham qualquer relação com a
área, mas porque secretarias e ministérios têm verbas — e isso é noticiado como
fato corriqueiro da vida pública.
Um país vai para o brejo quando representantes do
povo deixam de ser povo assim que são eleitos, quando se criam castas
intocáveis no serviço público, quando esses brâmanes acreditam que não precisam
prestar contas a ninguém — e isso é aceito como normal por todo mundo.
Um país vai para o brejo quando as suas escolas e
os seus hospitais públicos são igualmente ruins, e quando os seus cidadãos
perdem a segurança para andar nas ruas, seja por medo de bandido, seja por medo
de polícia.
Um país vai para o brejo quando não protege os seus
cidadãos, não paga aos seus servidores, esfola quem tem contracheque e dá
isenção fiscal a quem não precisa.
Um país vai para o brejo quando os seus poderosos
têm direito a foro privilegiado.
Um país vai para o brejo quando se divide, e quando
os seus habitantes passam a se odiar uns aos outros; um país vai para o brejo
quando despenca nos índices de educação, mas a sua população nem repara porque
está muito ocupada se ofendendo mutuamente nas redes sociais.
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