Se criador e criatura forem
convincentes, os gringos talvez até saiam do local da entrevista avisando aos
berros que não vai ter golpe
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MOMENTOS DE
2016
Publicado em
24 de março
Lula elogia imprensa internacional e diz que ela é
fiel aos fatos,
informou em 2 de dezembro de 2010 o título da reportagem do Globo sobre
a entrevista coletiva concedida pelo ainda presidente a correspondentes
estrangeiros baseados no Rio e repórteres vindos de outros países. Antes que as
perguntas começassem, o entrevistado contemplou os presentes com afagos que
sempre negou à imprensa nacional.
“Temos acompanhado as informações que têm saído na
imprensa internacional e elas têm correspondido exatamente ao que tem
acontecido no Brasil”. Começou a rasgação de seda com o elogio que cutucava a
mídia reacionária, infestada de reacionários a serviço da elite golpista. “A
cobertura favorável também é responsável pela boa imagem que o Brasil goza no
exterior”, foi em frente o palanque ambulante.
Só publicações em outros idiomas, por exemplo,
haviam captado o clima de euforia reinante no País do Carnaval. “O otimismo do
brasileiro é o mais extraordinário entre todos os países”, recitou. “Acabou o
complexo de vira-lata, porque hoje somos respeitados no mundo inteiro. Só não
enxergam isso aqueles que torcem pelo fracasso do governo que governa para os
pobres.
A lengalenga prosseguiu nos anos seguintes, em
dueto com Dilma Rousseff e o endosso entusiasmado dos colunistas estatizados,
blogueiros de aluguel, artistas dependentes de patrocínio federal e escritores
que brilham no ranking dos mais comprados pelo MEC. “Neste país, o principal
partido de oposição é a imprensa”, declamou em outubro de 2012 o padrinho que
não lê nem sabe escrever. “Pra saber o que acontece aqui é preciso ler o que
sai nos jornais lá fora”, concordou em março de 2013 a afilhada que ou não sabe
o que diz ou não diz coisa com coisa.
Neste começo de outono, o que estão achando o chefe
supremo, a sacerdotisa doidona e o resto da seita do que os principais jornais
e revistas do planeta têm publicado sobre o Brasil? Desconfiam que as redações passassem
ao controle de coxinhas poliglotas, financiados por capitalistas selvagens
decididos a conferir dimensões internacionais à conspiração contra o governo do
PT?
O que não podem admitir é que, como tantos milhões
de brasileiros, a imprensa estrangeira enfim descobriu que caiu no conto do
Brasil Maravilha, aplicado pelo bando de incapazes capazes de tudo. Há poucos
dias, por exemplo, The New York Times publicou um editorial com o
título “A crise no Brasil se aprofunda”. Entre outras observações
desmoralizantes, o texto qualificou de “ridículas” as explicações gaguejadas
por Dilma para fingir que Lula se refugiou no ministério não para fugir da
cadeia, mas para servir à nação.
No domingo, um editorial do jornal inglês The
Guardian aconselhou a governante desgovernada a renunciar ao comando do
barco saqueado e à deriva. Nesta quarta-feira, a presidente que já não preside
coisa alguma virou à senhora da capa da revista The Economist. Uma Dilma
com cara de demitida por justíssima causa desvia os olhos para a esquerda, como
se quisesse escapar da leitura de três palavras penduradas sobre a sua cabeça:
TIME TO GO. Hora de ir. Ir embora, ir para casa ─ pela simples e boa razão de
que já não há como ficar.
“Fiel aos fatos”, como disse há cinco anos o dono
do sítio que não é dele, a publicação inglesa apresenta aos leitores um cortejo
de verdades perturbadoras: o escândalo do Petrolão, a relevância histórica da
Operação Lava Jato, o desempenho sem precedentes do juiz Sérgio Moro, as
bandalheiras milionárias protagonizadas por Lula, a destrambelhada patifaria
forjada para transformá-lo em ministro, as portentosas manifestações de rua, a
incompetência do governo que produziu a maior crise econômica enfrentada pelo
Brasil desde 1930.
Fica claro que chegou a hora de Dilma ir embora —
ou com as próprias pernas, pelo caminho da renúncia, ou arrastada pela trilha
do impeachment. Antes que o drama chegue ao desfecho, a criatura e seu criador deveriam
convidar os representantes da imprensa internacional para outra entrevista
coletiva, e explicar-lhes que os culpados são inocentes.
Se forem convincentes, os gringos talvez até saiam
do local da entrevista avisando aos berros que não vai ter golpe. Caso
contrário, os jornais e revistas estrangeiros vão transferir o noticiário
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