Lava Jato é hoje a única força
estruturada no país; discurso de Dallagnol na Câmara vê-se agora, antecipou
nova fase da operação.
Por
Reinaldo Azevedo, 23/06/2016,
www.veja.com.br
Como se chama mesmo a mais recente fase
da Operação Lava Jato, que, no entanto, se quer uma operação independente?
Custo Brasil. Ela é deflagrada um dia depois de Deltan Dallagnol comparecer a
uma audiência na Câmara para defender o polêmico projeto do MP com as 10 medidas
de combate à corrupção. Ao longo dos dias, veremos por que polêmico. Não é esse
o objeto deste texto.
No discurso que fez na Câmara,
Dallagnol ensinou aos deputados que a corrupção é uma “serial killer”, que mata
criancinhas, põe buracos nas estradas, leva à falta de medicamentos nos postos,
aumenta a pobreza, induz aos crimes de rua. Chegou a citar a morte de uma
pessoa na Bahia porque recebeu tardiamente um medicamento, com data vencida e a
preço superfaturado. Faltava à moral da história, e Dallagnol deu: “A corrupção
mata”.
Ou por outra: um dia depois de o
coordenador da Lava-Jato dizer na Câmara que a corrupção responde pelo chamado
“Custo Brasil”, é deflagrada, então, a “Custo Brasil”, que prende o peixão mais
graúdo do PT até agora: Paulo Bernardo. Pode ter um papel no PT menos
estruturante do que Vaccari, mas é o companheiro preso que ficou mais tempo na
Esplanada dos Ministérios e serviu tanto a Lula como a Dilma.
Isso quer dizer alguma coisa?
Ah, quer dizer, sim, ora essa! A
Operação Lava Jato, nas suas três faces — Ministério Público, Polícia Federal e
Justiça (Sergio Moro) —, é a única força política hoje estruturada no país e
que consegue atuar com elementos táticos — de curto prazo e apelo midiático — e
estratégico. Os rapazes do MP já deixaram claro que têm uma ideia na cabeça e
uma caneta na mão: refundar a República. E estão avançando.
É evidente que, quando se associa o
nome da nova fase ao discurso feito no dia anterior, estabelece-se um nexo
entre as duas coisas. Estamos diante de um sentido.
A Lava-Jato, por seu turno, vai gerando
crias, como é o caso das Operações Turbulência e Custo Brasil. A primeira
atinge a campanha de Eduardo Campos-Marina Silva e o PSB. Mesmo que pescado
pelo pé e ainda que, por ora ao menos, na periferia do furação, o PSDB também
já foi tragado. O PMDB está com múltiplas escoriações.
Lembro-me de uma frase que citávamos
muito ali pelo fim dos anos 1980, quando se falava da crise das ideologias. Há
variantes. A repetida na minha turma era assim: “Deus está morto, Nietzsche
está morto, Marx está morto, e eu mesmo não ando me sentindo muito bem…”. É
mais ou menos esse o clima em Brasília e em toda parte.
Até outro dia, aqui e ali, alguns
falavam em novas eleições… Pensem na cena, senhoras e senhores! Como indagaria
Noel Rosa, “com que roupa?”. A vida, afinal, não está sopa, não é mesmo? Se o
candidato não for Dallagnol, podemos considerar as hipóteses de Levi Fidelix,
José Maria Eymayel, Eduardo Jorge… Luciana Genro não dá. O PSOL já é
establishment demais!!!
Que tempos, né?
Como num conto de Lygia Fagundes
Telles, “vivos e mortos, desertaram todos”.
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