Por Reinaldo
Azevedo, 23/12/2016,
www.folhades.paulo.com.br
Documentos
divulgados pelo Departamento de Justiça dos EUA apontam que a Odebrecht pagou a
fábula de mais de US$ 1 bilhão em propina: US$ 599 milhões foram distribuídos a
patriotas brasileiros, e US$ 439 milhões, a estrangeiros.
Estrangeiros? Sim, autoridades de Angola,
Moçambique, Venezuela, Equador, Argentina, Colômbia, República Dominicana,
Guatemala, México, Panamá e Peru se deixaram corromper. No grupo, há ditaduras
de esquerda, quase ditaduras, quase democracias, regimes propriamente
democráticos, fazendolas comandadas por milícias etc. Sem preconceitos!
Só se compra quem está à venda. Só se vende quando
há compradores. "Ah, já sei, isso é que se chama lei do mercado, né?"
Errado, gafanhoto! Essa é a lei universal e atemporal da canalhice. Afinal,
Angola, Moçambique, Venezuela e Equador, por exemplo, até em razão de seus
respectivos regimes políticos, são exemplos não exatamente do funcionamento das
leis da oferta e da procura, mas de seu colapso.
A Odebrecht e as demais empreiteiras envolvidas no
petrolão, como resta claro a esta altura, pagaram caro, obtendo lucros
fabulosos, para que as regras de mercado não funcionassem.
O que todos esses países têm em comum com o Brasil,
ainda que em graus variados, mas sempre acima da média dos países de
institucionalidade avançada? A resposta é simples: Estado na economia. Em todos
eles, é a arbitragem do governo –ou seu arbítrio– que define as regras do jogo.
E a corrupção é diretamente proporcional à capacidade que tem esse Estado de
definir vencedores e perdedores.
Não tenho aqui as contas, mas asseguro, por
princípio e lógica, que, considerado o tamanho de sua economia, Angola
lideraria o ranking da corrupção entre esses 12. Afinal, é o que fornece as melhores
condições estruturais para o exercício da cleptocracia porque o mais
autoritário.
O Brasil tem-se deixado enredar num debate nem
sempre esclarecido sobre o que fazer para combater a corrupção. Com alguma freqüência,
o moralismo rombudo e oportunista tem ocupado a cena, com suas respostas
estridentes e sua vocação para disciplinar os costumes com cordas e
guilhotinas. Movimentos assim costumam resultar em cabeças cortadas, pescoços
quebrados e emergência de novos viciados em velhos vícios. Sabemos que, na
revolução de bichos, os porcos aprendem depressa a andar sobre duas patas...
Não há endurecimento possível da legislação penal
ou reforma do Judiciário capaz de responder a contento ao quadro de descalabro
que há no Brasil - e, certamente, nos demais países da Lista da Vergonha. Ainda
que se proceda a julgamentos sumários, em praça pública, para que os faltosos
sintam a força do exemplo, continuaremos a produzir corruptos e corruptores, só
que com um pouco mais de barbárie.
Precisamos, em suma, é de mais democracia se
queremos menos corrupção. E a tanto só chegaremos com a diminuição da presença
do Estado na economia. No dia em que não houver estatais para vender
dificuldades, haverá menos gente para pagar por facilidades.
Infelizmente, apesar dos descalabros que vieram à
luz, o Estado, o verdadeiro algoz da sociedade, tem saído incólume. Alguns
imbecis têm preferido oferecer como remédio o ataque às garantias democráticas.
Ou por outra: querem é ainda mais arbítrio do aparelho estatal, o pai de todas
as corrupções, a tempo privatizado por empreiteiras e afins.
PS - Este escrevinhador tira três semanas de folga.
Só volta a escrever no dia 20 de janeiro. Que todos possamos estar nestes dias
e em todos os outros, em espírito ao menos, perto dos nossos amores. Até a
volta.
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