A drástica mudança de rota anunciada pelo chanceler José Serra implodiu
a opção preferencial pela infâmia que envergonhou o país decente por mais de 13
anos
Por Augusto
Nunes, 05/01/2017,
www.veja.com.br
MOMENTOS DE
2016
Publicado em 20 de maio
O pedido de socorro remetido por Dilma Rousseff à
comunidade internacional foi ouvido por cinco países da série D ─ Cuba,
Nicarágua, Bolívia, Venezuela e Equador ─ e duas organizações regionais: Alba e
Unasul. A isso se resumiu a aliança com a qual a presidente de férias no
Palácio da Alvorada pretendia neutralizar o golpe imaginário e voltar ao
emprego: uma ditadura caribenha, uma irrelevância centro-americana, três
vizinhos bolivarianos e duas siglas inúteis. Sete anões. Com a adesão de El
Salvador, segundo baixinho da América Central a meter-se em assunto de gente
grande, os sete viraram oito. Ou sete e meio.
Dilma viu no punhado de pigmeus insolentes a
perfeita tradução da “indignação internacional diante da farsa aqui montada”.
Governantes de nações civilizadas, que têm mais o que fazer, só conseguiram ver
um tedioso esperneio de cúmplices da nulidade demitida com a aplicação de
normas constitucionais. O ministro das Relações Exteriores, José Serra, viu um
bando de embusteiros insones com a suspeita de que uma das primeiras vítimas da
troca de governo seria a política externa da cafajestagem. E decidiu mostrar
com quantas palavras se desfaz um desfile de bravatas.
Bastaram duas notas oficiais e meia dúzia de
declarações para calar o coro dos cucarachas. Nesta quarta-feira, em seu
discurso de posse, o chanceler concluiu o desmonte da usina de falsidades. Como
constatou o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, o país que presta não vai
mais envergonhar-se com a submissão do Itamaraty aos velhacos da seita
lulopetista e aos matusaléns do Foro de São Paulo. “A política externa será
regida pelos valores do Estado e da nação, não do governo e jamais de um
partido”, resumiu Serra ao anunciar a prioridade número 1.
A prioridade número 2 formalizou a retomada da
defesa sistemática dos direitos humanos, da democracia e da liberdade “em
qualquer país e qualquer regime político”. Que se cuidem, portanto, os gigolôs
da diplomacia do cinismo, nascida do acalamento incestuoso de stalinistas
farofeiros do PT e nacionalistas de gafieira do Itamaraty — uns e outros ainda
sonhando com a Segunda Guerra Fria que destruirá para sempre o imperialismo
ianque. Em janeiro de 2003, acampado na cabeça baldia de Lula, o aleijão que
pariram subiu a rampa do Planalto.
Nos oito anos seguintes, fantasiado de potência
emergente, o Brasil acanalhado pela revogação de valores morais eternos não
perderia nenhuma chance de reafirmar a opção preferencial pela infâmia. O
governo Lula acoelhou-se com exigências descabidas do Paraguai e
do Equador, suportou com passividade bovina bofetadas desferidas pela
Argentina, hostilizou a Colômbia democrática para afagar os narcoterroristas
das FARC, meteu o rabo entre as pernas quando a Bolívia confiscou ativos da
Petrobras e rasgou o acordo para o fornecimento de gás.
Confrontado com bifurcações ou encruzilhadas, nunca
fez a escolha certa. E freqüentemente se curvou a imposições de parceiros
vigaristas. Quando o Congresso de Honduras, com o aval da Suprema Corte,
destituiu legalmente o presidente Manuel Zelaya, o Brasil se dobrou as vontades
de Hugo Chávez. Decidido a reinstalar no poder o canastrão que combinava um
chapelão branco com o bigode preto-graúna, convertido ao bolivarianismo pelos
petrodólares venezuelanos, Chávez obrigou Lula a transformar a embaixada brasileira
em Tegucigalpa na Pensão do Zelaya.
Para afagar Fidel Castro, o governo deportou os
pugilistas Erislandy Lara e Guillermo Rigondeaux, capturados pela Polícia
Federal quando tentavam fugir para a Alemanha pela rota do Rio. Entre a
civilização e a barbárie, o fundador do Brasil Maravilha invariavelmente cravou
a segunda opção. Com derramamentos de galã mexicano, prestou vassalagem a
figuras repulsivas como o faraó de opereta Hosni Mubarak, o psicopata líbio
Muammar Kadafi, o genocida africano Omar AL-Bashir, o iraniano atômico Mahmoud
Ahmadinejad e o ladrão angolano José Eduardo dos Santos.
Coerentemente, o último ato do mitômano que se
julgava capaz de liquidar com conversas de botequim os antagonismos milenares
do Oriente Médio foi promover a asilado político o assassino italiano Cesare
Battisti. Herdeira desse prodígio de sordidez, Dilma manteve o país
de joelhos e reincidiu em parcerias abjetas. Entre o governo
constitucional paraguaio e o presidente deposto Fernando Lugo, ficou com o reprodutor
de batina. Juntou-se à conspiração que afastou o Paraguai do MERCOSUL para
forçar a entrada da Venezuela. Rebaixou-se a mucama de Chávez até a morte do
bolívar-de-hospício que virou passarinho. Para adiar a derrocada de Nicolás
Maduro, arranjou-lhe até papel higiênico.
Ao preservar a política obscena legada pelo
padrinho, a afilhada permitiu-lhe que cobrasse a conta dos negócios
suspeitíssimos que facilitou quando presidente, sempre em benefício de
governantes amigos e empresas brasileiras bancadas por financiamentos do BNDES.
Disfarçado de palestrante, o camelô de empreiteiras que se tornariam casos de
polícia com a descoberta do Petrolão ganhou pilhas de dólares, um buquê de
imóveis e a gratidão paga em espécie dos países que tiveram perdoadas suas
dívidas com o Brasil. Fora o resto.
Enquanto Lula fazia acertos multimilionários em
Cuba, Dilma transformava a Granja do Torto na casa de campo de Raúl Castro,
também presenteado com o superporto que o Brasil não tem. Ela avançava no
flerte com os companheiros degoladores do Estado Islâmico quando a Operação
Lava Jato começou. Potencializada pela crise econômica, a maior roubalheira da
história apressou a demissão da mais bisonha governante do mundo.
Os crápulas que controlavam o Itamaraty hoje descem
ao lado da chefe a ladeira que conduz ao esquecimento. “O Brasil vai perder o
protagonismo e a relevância mundial”, miou Dilma nesta quinta-feira. O que o
país perdeu foi o papel que desempenhou desde 2003: o de grandalhão idiota e
obediente aos anões da vizinhança. A recuperação da altivez há tanto tempo
sumida vai antecipar a colisão entre o Brasil e os populistas larápios, os
ditadores assumidos e os tiranos ainda no armário que prendem quem discorda,
assassinam oposicionistas e sonham com a erradicação do Estado de Direito.
O compadrio vergonhoso acabou. Os incomodados que
se queixem ao bispo. Ou a Dilma, caso a desterrada do Alvorada esteja por lá.
Ou a Lula, se o parteiro da Era da Canalhice ainda estiver em liberdade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário