A política
de consertar as inconsistências da economia com improvisações e puxadinhos está
levando a um beco sem saída.
Por Celso
Ming, 16/01/2013, O Estado de São Paulo.
Os seguidos adiamentos dos
reajustes dos combustíveis, por exemplo, vêm criando distorções que tornam
quase inevitável a recomposição dos preços no pior momento para o governo -
justamente quando as correções dos preços se acumulam.
A principal distorção é o estrago
que a prática de subsídios e o atraso dos reajustes provocam nas finanças da
Petrobrás. Ainda ontem, "fontes da empresa" reafirmaram que a
Petrobrás precisa do reajuste de 15% dos combustíveis para atualização do seu
Plano de Negócios - ou seja, para dar seguimento a sua carteira de
investimentos de US$ 236,5 bilhões até 2016. Além disso, está claro que a
empresa vai perdendo capacidade de endividamento e que, provavelmente, precisa
criar condições de mercado para novo reforço do capital.
A outra distorção
recai sobre o setor de etanol. O governo pretende aumentar a proporção de álcool anidro na gasolina, de 20%
para 25%, com o objetivo de reduzir o consumo de gasolina e a dependência de
importações. No entanto, a produção das usinas segue desestimulada. O etanol
tem apenas 70% da capacidade energética da gasolina. Como os preços da gasolina
estão congelados, não é possível cobrar mais pelo etanol, porque o consumidor
migraria para a gasolina. Com sua margem de retorno fortemente comprimida pela
elevação dos custos, os usineiros e os produtores de cana-de-açúcar adiam seus
investimentos ou descuidam dos canaviais.
A falta
de flexibilidade na área dos combustíveis, por sua vez, é o resultado de uma
política de riscos altos assumida pelo governo e pelo Banco Central, baseada na ideia
de que "é preciso fazer o que ninguém fez e, se alguma coisa der errado, a
gente vê como conserta depois".
A inflação vem com força e deverá
saltar para acima dos 6,0% em 12 meses, porque o governo Dilma entendeu que
tinha de cuidar preferencialmente do crescimento econômico. Por isso, foi mais
permissivo na administração das contas públicas e levou o Banco Central a
derrubar os juros a níveis macroeconômicos inconsistentes.
A ideia de que uma inflação mais
alta seria tolerável porque garantiria mais atividade econômica foi outra vez
desmentida pela sucessão de pibinhos que vieram depois. Os resultados são a
pior combinação: inflação alta, entre as mais elevadas entre os países
emergentes; e atividade econômica fraca, quase parando, que, por sua vez,
desestimula o investimento, numa paisagem de custos trabalhistas no pico.
O governo federal já vinha se
esforçando para segurar a inflação no muque - em vez de obter resultados
naturais com políticas consistentes. O achatamento dos preços dos combustíveis
faz parte desse jogo. As reduções de impostos na compra de automóveis e de
aparelhos domésticos, somadas ainda às negociações com as principais
prefeituras do Brasil para adiar os reajustes das tarifas de transporte
público, também fazem. Manobras desse tipo compram algum tempo, mas represam
pressões telúricas que um dia vazam - ou irrompem.
Por enquanto, o governo Dilma
ainda confia em que a volta do crescimento econômico robusto, da ordem de 4,0%
ao ano, devolverá a confiança e ajudará a resolver todas as pendências. O
problema é que essa virada pode não vir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário