Editorial do Estadão, 11/11/2013,
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Nunca antes na história deste
país o aparelho do Estado foi tão acintosa e despudoradamente colocado a
serviço dos interesses eleitorais dos detentores do poder. Dilma Rousseff não
consegue fazer a máquina do governo funcionar com um mínimo de eficiência para
planejar e executar os grandiosos projetos de infraestrutura que anuncia com
enorme estardalhaço. Mas como numa campanha eleitoral – no momento, a
prioridade absoluta do lulopetismo – o que vale é o marketing, o discurso,
Dilma está bem instruída e firmemente empenhada em transformar em palanque essa
imensa e inoperante máquina, e dele não pretende descer antes das eleições
presidenciais do próximo ano.
No feriado de Finados, Dilma
reuniu no Palácio da Alvorada 15 ministros que atuam nas áreas social e de
infraestrutura para puxar orelhas e exigir “agilidade” no anúncio de novos
projetos e na execução daqueles em andamento. E deixou perfeitamente claro,
para quem pudesse não estar entendendo do que se tratava, que precisa
incrementar urgentemente uma “agenda positiva” a ser exibida em seus
pronunciamentos oficiais e suas cada vez mais frequentes viagens por todo o
País.
Antes que alguém pudesse levantar
alguma suspeita maldosa sobre toda essa movimentação ter a ver com objetivos
eleitorais, coube à ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann – ela própria
candidatíssima ao governo do Paraná – explicar: “Isso tem a ver com resultado
de governo. Nós estamos num momento de prestação de contas e entregas”. E
acrescentou: “São várias entregas que a presidente cobrou, que se agilizassem
alguns resultados para que nós pudéssemos prestar contas para a população”.
Então, está explicado.
Dá para entender a aflição de
Dilma. Uma reeleição considerada favas contadas no primeiro semestre do ano
passou a ser vista com preocupação pelos próprios petistas a partir do instante
em que os índices de popularidade da presidente despencaram com as
manifestações populares de junho e, apesar de se terem recuperado em parte,
mantêm-se ainda muito abaixo dos mais de 50% de aprovação anteriores.
Permanecem teimosamente empacados nos 38%. Isso significa que, na melhor das
hipóteses, a se manter o quadro atual, Dilma poderá se dar por satisfeita se
conseguir levar as eleições presidenciais para o segundo turno.
Não é por outra razão que Luiz
Inácio Lula da Silva, inventor do poste que conseguiu transformar em
presidente, decidiu chamar para si a responsabilidade de confrontar os
candidatos de oposição. Mergulhou de cabeça na tarefa de fazer o que Dilma pode
ter vontade, mas não tem vocação nem carisma para fazer, apesar de toda a
máquina governamental à sua disposição: comunicar-se com a massa popular.
Nessa linha, o ex-presidente tem
usado e abusado de seu insuperável populismo. Ele sabe que, mais do que
“prestar contas” ou “entregar” realizações de governo, o importante é encantar
os eleitores com as palavras que eles querem ouvir, ditas de um modo que eles
gostam de escutar. E nisso Lula é mestre. Apesar de integrar hoje, movido por
sua megalomania, o mais seleto jet set internacional, Lula tem logrado
preservar a imagem de “homem do povo”, sustentada por altíssimos índices de
popularidade. E isso lhe permite ignorar a lógica, o bom senso, o pudor, a
civilidade e, sobretudo, a verdade, quando deita falação sobre as maravilhosas
realizações com as quais resgatou o Brasil das mãos do “poderosos” e o
transformou neste paraíso em que automóveis e filé mignon estão ao alcance de
todos.
Transformar a máquina do governo
em palanque eleitoral como Dilma Rousseff está fazendo, portanto, é apenas uma
das consequências da erosão da moralidade pública que há mais de uma década se
tem acentuado gravemente no País. Lula e o PT, é claro, não inventaram os
malfeitos no trato da coisa pública. O Brasil sempre sofreu com a tradição
paternalista e patrimonialista. Mas foi prometendo acabar com essa pesada
herança que Lula e sua turma conquistaram, ou melhor, se apropriaram do poder.
Natural, portanto, que se disponham a usar o que consideram seu para se
eternizarem onde estão.
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