Por Rogério
Mendelski, 24/06/2013,
www.correiodopovo.com.br
O Brasil decente está respondendo a uma pergunta
feita, em 1976, pelo então presidente da Arena, o deputado federal Francelino
Pereira (nascido no Piauí, mas com carreira política em Minas Gerais): “Que
país é este?” Renato Russo já tinha se manifestado a respeito quando compôs o
rock com o mesmo nome da pergunta de Francelino, em 1987: “Nas favelas e no
Senado/Sujeira prá todo lado/Ninguém respeita/A Constituição/Mas todos
acreditam/ No futuro da nação…” Os brasileiros também responderam a Francelino
Pereira nos comícios das diretas e nas caras pintadas que ajudaram a derrubar
Fernando Collor, mas é bem provável que nunca, em tempo algum, o Brasil tenha
mostrado o seu lado decente e cheio de indignação como neste mês de junho de
2013. Nosso país, como dizia outro compositor jovem como Renato Russo, Cazuza,
está mostrando a sua cara, “pois queremos ver quem paga prá gente ficar assim”
E estamos pagando para ver e para o Brasil (oficial) nos dizer “qual é o teu
negócio e o nome do teu sócio?” Os poderosos, em todas as épocas, que
jamais se assustaram com movimentos populares estão como porteiros de boate que
só têm medo quando alguma autoridade pede para furar a fila dizendo “você sabe
com quem está falando?” Nesta outra volta do parafuso, como dizia Henry James,
chegou à vez do nosso carteiraço para os donos do Brasil: “Vocês aí, falsos
proprietários do poder, sabem com quem estão falando?” E a nossa identidade
legítima que centenas de milhares estão bradando num eco rigorosamente
geográfico – do Oiapoque ao Chuí – é o carteiraço da cidadania. E por que os
brasileiros estão gritando e protestando com chuva e frio aqui no Sul ou com
calor no Norte, interrompendo pontes, rodovias e avenidas das grandes cidades?
Por uma razão que pode ser singela nas sociedades mais avançadas que a nossa,
mas decisiva para todos nós. Queremos abrir uma porta para a dignidade que não
pode ser mais um espaço exclusivo de uma elite muito bem conhecida de todos
nós. Lá dentro vamos encontrar leitos hospitalares, escolas para nossos filhos,
transporte coletivo decente, segurança pública, empregos, paz e tranqüilidade.
Chega de pagar o banquete e comer apenas a sobra da mesa. Quando sobra…
Ritos de passagem são celebrações que marcam
mudanças de status de uma pessoa no seio de sua comunidade. A jovem democracia
brasileira estaria nestes dias fazendo a sua cerimônia coletiva? Ela cansou de
seus representantes eleitos e que deixaram de corresponder às suas expectativas?
A presença do povo brasiliense nas portas do Congresso Nacional pode ser
uma cerimônia de mudança?
O antropólogo Roberto da Matta diz que a malandragem
brasileira é o reflexo de uma classe política. “A malandragem é uma prática
quase que diária: é o dinheiro não declarado na declaração de renda, é o sinal
de trânsito que o sujeito fura, é a gambiarra. De certo modo, a malandragem é o
sintoma de uma sociedade que tem relação ruim com o Estado".
Mudar esse estado de malandragem institucional – um
dos fatores dos protestos do povo brasileiro – necessita do que chamamos de
vontade política; e vontade política não diz respeito simplesmente a fazer
leis. Roberto da Matta entende que tudo “tem a ver com a percepção de que a
sociedade é construída pelo Estado e pelos seus costumes”. “É uma dialética, um
caminho que queremos que a sociedade trilhe, mas nenhuma sociedade conseguiu se
desenvolver com facilidade. Todas tiveram seus problemas”.
Entreouvido num restaurante, em Brasília:- Os EUA
lançaram um plano para comprar ativos podres. - E será que eles sabem que no
nosso Congresso tem 513 deputados e 81 senadores à venda?
Ainda no mesmo restaurante, em Brasília, dois
parlamentares conversando. -Vossa Excelência está sabendo que as manifestações
populares não brigam apenas por 20 centavos a menos na passagem do ônibus, mas
exigem também educação, saúde, segurança e transporte de qualidade? - Nobre
colega, mas quem eles pensam que são? Nós?
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