Por Reinaldo
Azevedo, 15/07/2015, www.veja.com.br
O PT liderou na noite desta terça-feira
um ato em defesa do mandato de Dilma. Contou com o apoio de partidos como o
PCdoB e o PDT. Leio na Folha que o ultra-esquerdista PCO também estava lá… Que
coisa, né? Vai ver é a Versão Petrolão da Quarta Internacional Socialista. Até
o trotskismo já foi melhor no Brasil. Que gente! Mas sigamos.
O ato, realizado nas dependências da
Uninove, em São Paulo, uma das universidades privadas que lucram muito com o
ProUni e com o Fies — ah, como é bom socializar o nosso dinheiro!!! —, se
transformou, na verdade, numa manifestação em favor da volta de Lula, dom
Sebastião da derrocada petista.
Na raiz dessa patacoada está um misto
de mentira, má-fé e vigarice política, a saber: estaria em curso um golpe
contra Dilma. E seria desfechado por quem? Provavelmente, pelas leis, não é? Já
que só elas podem derrubar a mandatária. No entusiasmo, Rui Falcão, presidente
do PT, lê no Estadão, se traiu e afirmou:
“Não se esqueçam, companheiros e
companheiras, que gritamos ‘Fora Collor’ e gritamos ‘Fora FHC’. E o
ex-presidente Collor saiu da Presidência num processo legal, dentro da
democracia, e é isso que eles pretendem fazer agora: expelir a Dilma dentro de
um processo democrático.”
Foi à primeira coisa sensata que Falcão
disse em muitos anos. É isto mesmo: o que se quer é expelir — o verbo é um
pouco grosseiro, próprio da retórica da falcoaria — Dilma dentro de um processo
democrático.
Se, com as contas rejeitadas, houver
uma denúncia contra a presidente por crime de responsabilidade e se 342
deputados a aceitarem, ela se afasta. E poderá ser cassada pelo Senado. Há aí a
combinação da Lei 1.079 com a Constituição. Se o TSE decidir que houve abuso do
poder político e econômico na eleição, ela perderá o mandato: nesse caso, há o
enlace da Lei 9.504 com, ora vejam, a Constituição de novo! E ainda há a
possibilidade de haver o feliz casamento entre a Carta Magna e o Artigo 359 do
Código Penal.
Rui Falcão tem razão! Tudo dentro do
mais legítimo processo democrático.
De forma apropriada e acertando na
pessoa verbal, disse ele: “Gritamos ‘Fora Collor’ e ‘Fora FHC’”. Sim, os
petistas gritaram! Contra Collor, os motivos eram evidentes. Contra FHC, era só
berreiro político. Aliás, aproveito para discordar aqui do bom senador Aloysio
Nunes Ferreira (PSDB-SP): com efeito, Dilma não é Collor, mas, não nos
esqueçamos nunca, os crimes daquele governo, na comparação com os da era
petista, mereceriam ir para um Tribunal de Pequenas Causas, certo?
Depois de deixar claro, ainda que sem
querer, que gritar “Fora Dilma” é, sim, democrático, Falcão tentou explicar que
diabos, afinal de contas, faziam ali os, então, convertidos em golpistas contra
a democracia. Segundo ele, o problema está no “monopólio da mídia”. E ensaiou,
em outro desdobramento de sua confusão mental:
“Nós temos uma democracia imperfeita ainda, que queremos reformar e está regredindo, garantindo financiamento empresarial, reduzindo tempo de TV, reduzindo a participação das mulheres na vida política, reduzindo a maioridade penal. Estamos perdendo sucessivamente, e é isso que precisamos reverter.”
“Nós temos uma democracia imperfeita ainda, que queremos reformar e está regredindo, garantindo financiamento empresarial, reduzindo tempo de TV, reduzindo a participação das mulheres na vida política, reduzindo a maioridade penal. Estamos perdendo sucessivamente, e é isso que precisamos reverter.”
Ah, entendi. Pedir o “Fora Dilma” é,
sim, democrático, mas os petistas e congêneres devem dizer o contrário porque,
muito democraticamente, sua agenda está sendo derrotada pela sociedade e pelo
Congresso Nacional, legitimamente eleito. Donde se conclui que democracia que
não aprova as propostas do PT e das esquerdas, ou que francamente as rejeita,
democracia não é.
Os golpistas reunidos nesta terça —
segundo a Folha, 900 — fizeram ainda um coro de “Volta Lula”. Falcão,
inspiradíssimo, afirmou:
“Sabe o que as pessoas dizem no interior,
quando você viaja para outros estados? ‘Olha, tudo isso que está acontecendo, a
gente até entende; que haja corrupção, nós já estamos acostumados. O problema é
impedir a volta do Lula em 2018′. É disso que se trata, porque a volta do Lula
não é questão de messianismo, nem de salvação nacional, é a continuidade de um
projeto que precisa avançar ".
Nossa! Em que estado se diz isso? E o
que quer dizer o “estamos acostumados com a corrupção”? Quem “estamos”?
Corrupção de quem? Essa, dos 13 anos da era petista? Fico contente com a
manifestação desta terça. É sinal de que eles não vão encontrar o rumo tão
cedo.
E sobraram, claro! Críticas para a
Operação Lava Jato. Aí um cretino de plantão, que sabe que me atacar rende
trânsito na Internet, poderia emendar: “Ah, mas você também critica…”. Critico
desmandos, manifestações circenses e exageros, os mesmos que o PT aplaudiu no
passado quando os alvos eram seus adversários. Eu aponto os aspectos negativos
da operação justamente porque tenho horror aos petralhas: para eles, PF e MP
bons são os que cometem arbitrariedades com seus inimigos e que protegem seus
amigos. Se esses entes fazem o contrário ou se generalizam o pega-pra-capar, reclamam.
Para mim, PF e MP bons são os que não cometem ilegalidades contra ninguém.
As minhas diferenças com o petralhismo
não são apenas de lado, mas também de valores e de métodos. Quando vejo hoje
alguns trouxas a aplaudir procedimentos que antes condenavam só porque, desta
vez, os alvos são os petistas, sinto um misto de asco e desprezo. Ou terá
havido antes interesses que eu ignorava? É puro lixo moral e intelectual. São
da mesma escola de Rui Falcão.
Encerro
O presidente do PT comandou, em suma, uma reunião de golpistas contra as regras do Estado de Direito. E está dando início, sete meses depois da posse de Dilma, ao movimento “Volta Lula”.
O presidente do PT comandou, em suma, uma reunião de golpistas contra as regras do Estado de Direito. E está dando início, sete meses depois da posse de Dilma, ao movimento “Volta Lula”.
Volta Lula?
Trilha sonora do evento: “Walking
Dead”.
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