Há justificados clamores de indignação da sociedade diante dos termos do
acordo que consagrou a impunidade de Joesley Batista
Por Zero Hora,
21/05/2017,
www.zerohora.com.br
Editorial
de Opinião da RBS
Ainda que controversas, no geral as delações
premiadas têm se configurado em elemento fundamental para o avanço da faxina
ética do país. No entanto, há justificados clamores de indignação da sociedade
diante dos termos do acordo que consagrou a impunidade de Joesley Batista, um
dos donos da JBS, conglomerado erguido sobre os alicerces da corrupção e da
promiscuidade com o poder público.
Já havia questionamentos sobre delatores desfilando
suas tornozeleiras por refúgios dourados. Agora, destampou-se um amplo
desconforto com o fato de a punição a Joesley limitar-se ao pagamento de uma
multa irrisória para o tamanho do patrimônio que acumulou ilicitamente e, com
isso, ser autorizado a deixar o país rumo a seu exílio em Nova York, legando um
rastro nunca antes visto de corrupção e a maior crise política da história
recente do Brasil.
Com o beneplácito da Procuradoria-Geral da
República, Joesley viajou tranquilamente em seu jato particular e deixou para
trás inúmeras dúvidas e respostas não esclarecidas em seus depoimentos. Entre
elas, está o súbito esquecimento do nome dos cinco deputados que teria comprado
por intermédio de João Bacelar (PR-BA) para que votassem contra o impeachment
de Dilma Rousseff. Todos os nomes dos parlamentares, que entregaram devidamente
a mercadoria, precisam vir à tona para que o grupo de vendilhões seja
devidamente processado e cassado.
Não menos inquietantes são as evidências de que a
JBS faturou alto com a crise, vendendo ações antes que, previsivelmente,
despencassem quando a delação se tornasse pública. A JBS foi mais além, com
evidências de que efetuou uma compra bilionária de dólares na véspera da
inevitável disparada da cotação desencadeada pelo terremoto no Planalto.
Só essa manobra de inside trading,
inaceitável em qualquer país com regras minimamente decentes, seria suficiente
para rever os beneplácitos concedidos a Joesley e remetê-lo à senda da Justiça
de Curitiba. A Procuradoria-Geral da República, aliás, ainda precisa explicar,
com transparência, como e por que concordou com tamanho favorecimento a quem já
se caracteriza como um dos maiores distribuidores de propinas da história
mundial.
Se há um ponto certeiro no discurso de sábado do
presidente Michel Temer, é o de que Joesley praticou um crime perfeito.
Corromper como ele corrompeu e sair livre e ainda mais rico é uma mancha na
operação que pretende passar a limpo o Brasil. Tal evidência, porém, não exime
em nada a condição de Temer. Ao contrário, torna ainda mais evidente e
inadequada a relação promíscua que o chefe da nação mantinha com o líder do
conglomerado que cobriu com o manto da corrupção grande parte do poder político
nacional.
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