Por Marco
Antonio Villa, 27/01/2017,
www.istoé.com.br
O STF foi uma criação da República. Desde seus
primeiros tempos não esteve sintonizado com a cidadania. Foi um instrumento do
Estado contra a sociedade civil. Na República Velha silenciou frente às
arbitrariedades do florianismo. Basta recordar as violações aos direitos
humanos cometidas no sul do País durante a Revolução Federalista. Os que
recorreram ao STF em busca de proteção constitucional receberam o silêncio como
resposta. Líderes operários deportados no início do século XX também não
encontraram no tribunal qualquer forma de guarida.
Veio a Revolução de 1930 – que cassou diversos
ministros do STF – e o tribunal manteve a sua triste sina. Fechou os olhos
frente à barbárie do Estado Novo que, na prática, começou em 1935 após a
derrota da rebelião comunista de novembro. Milhares de presos sem processos,
torturas, assassinatos, e o STF não deu nem um pio. Foi obediente frente à
ditadura mais sanguinária da nossa história.
Com a redemocratização de 1945 esperava-se um
tribunal mais atuante em defesa da Constituição – recordando que, em 1946, foi
promulgada a Carta Magna mais avançada da nossa história até aquele momento.
Ledo engano. Continuou a marcha de servilismo. Quando acionado, como na crise
de novembro de 1955, se omitiu.
O STF foi uma criação da República, mas
desde seus primeiros tempos não esteve sintonizado com a cidadania
Durante boa parte do regime militar, o STF foi
amestrado pelo Executivo. A exceção foi a crise que levou ao Ato Institucional
nº5. No início de 1969 três ministros foram cassados (Victor Nunes Leal,
Evandro Lins e Silva e Hermes Lima). Dois acabaram se aposentando em protesto e
os outros ficaram obedientemente servindo o regime – vale lembrar que tinha
sido ampliado o número de ministros para dezesseis, o que permitiu ao governo
ter o controle da Corte. As trágicas violações aos direitos humanos no período
foram ignoradas pelo STF. Nada disse também contra a absurda Emenda
Constitucional nº 1, de 1969.
Veio a Constituição de 1988. O STF teve amplas
garantias para o exercício das suas atribuições, como nunca na nossa história.
Mas nada mudou. Boas partes dos ministros que lá chegaram não estavam à altura
da importância do cargo. Méritos? Nada disso. A maioria alcançou o posto pelo
caminho da política – no pior sentido da expressão – e não do saber jurídico.
Agora, Michel Temer tem a oportunidade de designar um ministro comprometido com
os valores republicanos. Terá coragem para fazê-lo?
Nenhum comentário:
Postar um comentário