Os golpes contra o eleitor e o contribuinte mostram o pânico que se
abateu sobre a classe política
Por Ruth de
Aquino, 17/03/2017,
A frase
lapidar é de Romero Jucá, um dos
homens fortes do governo Temer, aquele que queria “estancar a sangria da Lava
Jato”. Foi uma reação à “lista de Janot”, o procurador-geral da República que
pediu ao Supremo Tribunal Federal a abertura de 83 inquéritos. A lista atinge
cinco ministros do governo, o Legislativo e ex-presidentes. “Estamos na
guerra”, disse Jucá, o Congresso “não pode ficar paralisado, tremendo”.
Nessa guerra, não são os políticos que costumam
morrer – embora alguns estejam presos. Eles dão crias, ressuscitam, fazem
conchavos, comem, riem e bebem juntos, criam leis para obrigar você a pagar a
campanha deles. Criam leis para aumentar sua própria remuneração. Criam leis
para manter seus privilégios. Criam leis para aumentar impostos e cobrir assim
os rombos milionários no Orçamento, derivados de roubos e incompetência na
gestão deles. Criam cargos para adular o amigo influente.
Não passarão. Os golpes ensaiados contra o eleitor
e o contribuinte demonstram o pânico que se abateu sobre nossa classe política.
Aí vai uma lista, mais uma.
A auto-anistia.
Como os políticos ainda acreditam conseguir aprovar
uma lei que os anistie de crimes delatados na Lava Jato? No aniversário de três
anos da operação, “falar em anistia é um suicídio coletivo do Congresso, seria
um desastre”, afirmou o deputado do PMDB Jarbas Vasconcelos, de 74 anos. “A
auto-anistia é absolutamente inconstitucional”, afirmou o procurador regional
da República Douglas Fischer. Ninguém pode anistiar a si mesmo.
O caixa dois
inocente.
O ministro do Supremo Gilmar Mendes afirmou:
“Temos o caixa dois que é defeituoso do ponto de vista jurídico, mas nada tem
de corrupção”. Dois outros luminares da Justiça discordam. O ex-presidente do
STF Ayres Britto declarou: “Caixa dois é um atentado à Constituição. Uma
desfaçatez”. A atual presidente do STF, Cármen Lúcia,
afirmou: “Caixa dois é crime, é uma agressão à sociedade brasileira”. A
população está paralisada e tremendo, à espera de uma definição que pode melar
as investigações de propina.
O “Fundão”
partidário.
Sem financiamento de empresas, proibido pelo
Supremo há dois anos, e com dificuldade óbvia para recorrer ao caixa dois, os
políticos pensaram, pensaram, pensaram. E decidiram. A melhor fórmula para
financiar suas campanhas é aumentar o Fundo Partidário, que já foi aumentado de
R$ 300 milhões para R$ 800 milhões. Gilmar Mendes, na qualidade de presidente
do Tribunal Superior Eleitoral, revelou que apenas as campanhas para deputado
federal em 2014 consumiram, oficialmente, R$ 5 bilhões (sem medir o caixa dois,
claro). Repetindo: só deputado federal. Repetindo: R$ 5 bilhões. O Brasil é um
país rico. O que você acha de aumentar a verba pública, a vaquinha para os
candidatos? O eleitor está paralisado e está tremendo.
A lista
fechada de candidatos.
Sob o argumento oficial de fortalecer os partidos e
reduzir o personalismo, os parlamentares ensaiam um golpe à autonomia e ao
livre-arbítrio do eleitor. Querem alterar regras eleitorais para ressuscitar o
voto em lista fechada e, dessa forma, não só conseguir o dinheiro direto para o
Partido, mas também esconder os delatados pela Lava Jato. Lista fechada, na prática,
funciona assim: o eleitor só tem como opção votar numa lista de candidatos a
senador, deputado e vereador previamente armada pela direção de cada partido.
Assim, você não vota mais no seu candidato, mas numa lista do partido. A
mudança nas regras precisa ser regulamentada até setembro. Câmara e Senado
estão correndo. E nós estamos paralisados e tremendo.
A alta de
impostos.
Não adianta mostrar por A + B que o Brasil é um dos
países com maior carga tributária no mundo. Prefeitos, governadores e presidentes
sabem onde pegar dinheiro para saldar suas dívidas ou disfarçar a incompetência
na gestão. A União tem um rombo de R$ 65 bilhões no Orçamento. Como a União,
devido ao voto do Supremo, deixará de arrecadar o dinheiro do ICMS e pode vir a
perder também o do ISS, os economistas do Planalto já fazem contas para elevar
alíquotas de outros impostos. Não se fala em cortar despesas nunca. De onde
tirar dinheiro para pagar mais impostos? O contribuinte está paralisado e está
tremendo.
E é por isso – não só pelo conteúdo impopular – que
a reforma da Previdência leva multidões às ruas. Não se dá crédito a uma casta
com tantos crimes nas costas e tantos privilégios fiscais e vitalícios.
Manifestos e manifestações já exigiram redução de 81 senadores para 54 e de 513
deputados para 386. Um projeto sem chance de ir a plenário, mesmo com nome,
sobrenome e endereço do autor.
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