Para manter o Brasil do jeito que está, os populistas prometem aos
eleitores direitos, vantagens e proteções sem ter a menor chance de entregá-los
Por Augusto
Nunes, 06/05/2017,
www.veja.com.br
Texto de J.R. Guzzo publicado na revista EXAME
A resistência, verdadeira ou fabricada, às poucas e
modestas reformas ora propostas pelo governo na área trabalhista e na
previdenciária mostra mais uma vez quanto o “populismo”, muito mais do que o
marxismo, o comunismo e outras teorias gasosas, tornou-se o grande inimigo
atual da liberdade econômica ─ e, no fim das contas, dos regimes democráticos.
Marxista é uma espécie que só sobrevive no ambiente protegido da universidade
onde, em geral, tem sua subsistência fornecida pelos salários que recebe do
Estado. Na vida real não existe nem em Cuba. Da mesma forma, os regimes
considerados “progressistas” pela esquerda brasileira e mundial, por se
apresentarem como uma alternativa virtuosa ao capitalismo ─ lugares como
Venezuela, Coréia do Norte e ditaduras africanas ─, aparecem muito nas
primeiras páginas e nos horários nobres da mídia, mas, pelo que se sabe, não
chegam a inspirar revoluções populares mundo afora nem contribuem para o avanço
da causa proletária internacional. Já os populistas são artigo de outra
qualidade. Combatem com eficácia, persistência e vastos recursos financeiros
qualquer mudança que possa melhorar a chance de sucesso de quem se dispõe a
empreender alguma atividade econômica por conta e risco próprio. O mandamento
central de sua religião é negar a legitimidade do esforço individual em busca
da prosperidade, do trabalho que dá lucro e do mérito pessoal.
O objetivo real do populismo, em seu esforço atual
para manter no Brasil tudo do jeito que está, sem transformação nenhuma, é
continuar mandando no país com a utilização de um conto do vigário básico.
Trata-se de prometer aos eleitores todos os direitos, vantagens e proteções que
possam ser colocados num pedaço de papel ─ sem que, de um lado, os
beneficiários tenham executado algum trabalho, produzido alguma coisa ou
mostrado algum mérito para receber os benefícios; e sem que, de outro lado, os
autores das promessas tenham a menor possibilidade de cumpri-las. Costuma dar
certo, ou tem dado certo até agora, para os trapaceiros profissionais que há
décadas tiram seu sustento e sua fortuna do exercício da vida pública. Vivem
ganhando votos desse jeito, dentro da idéia geral segundo a qual o eleitor
jamais está disposto a abrir mão de direitos que não tem e sempre estará pronto
a aplaudir a promessa de direitos que não terá. Aparecem como “defensores do
povo”, ou dos “pobres”, ou da “maioria” ─ e, se for o caso, também das
“minorias” ─, sem ter a menor responsabilidade pela execução do que aprovam ou
pelas despesas que criam. Só sobrevivem dentro do sarcófago que é o Estado
brasileiro de hoje, cada vez mais enterrado nos gastos que fabrica e na prática
da extorsão fiscal. Por isso mesmo, não admitem mudar nada.
Tudo é muito difícil numa sociedade em que os que
querem produzir alguma coisa têm de pedir autorização a quem não produz nada.
Difícil só para quem trabalha, é claro ─ já para os parasitas que vivem de dar
as autorizações, escrever as regras e gastar o dinheiro que vão tirar do bolso
do contribuinte, o Brasil é um paraíso. Reformas? Por que diabos aceitariam
reformas que só os prejudicam? Por que um sindicalista, por exemplo, aprovaria
a extinção do imposto sindical ─ um dos mais abjetos da legislação tributária
do mundo? Muito melhor fazer uma “greve geral” em que ninguém corre risco
nenhum. Ou, como disse uma das vozes “progressistas” mais estimadas pela
imprensa nacional, considerando-se a quantidade de vezes que aparece no
noticiário, cálculos aritméticos estimando o déficit da Previdência Social são
“inconstitucionais”.
Só está dentro da lei, pela visão de mundo dos
inimigos das reformas, a matemática segundo a qual o caixa da Previdência está
estourando de tanto dinheiro guardado. Ou que as empresas privadas têm recursos
de sobra para pagar todos os “direitos trabalhistas”, atuais e futuros. Ou que
o Tesouro Nacional se recusa a distribuir renda para os pobres. É onde estamos.
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