Por Laryssa
Borges, de Brasília,
01/10/2015,
www.veja.com.br
Ministro João Otávio de Noronha
encerra o mandato no TSE com discurso crítico a escândalos de corrupção e 'manipulação
da democracia'
O corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro
João Otávio de Noronha, encerrou nesta quinta-feira seu mandato no Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) com críticas aos sucessivos escândalos de corrupção e
ao fisiologismo no Congresso Nacional. Noronha, que foi relator de um dos
processos que pede investigações por irregularidades praticadas na campanha da
petista Dilma Rousseff à reeleição, disse em seu discurso de despedida que o
país passa por um conjunto de crises, entre elas o "sumiço da ética".
"Somos bombardeados a todo momento por
notícias de corrupção como se o Brasil fosse uma terra minada", disse
Noronha. "A baixa cotação do homem honesto, da crescente disputa entre os
mercadores do parlamento, de multiplicação dos compradores de opinião e até de
votos nos leva a questionar se persiste a necessidade de a Justiça continuar
com os olhos vendados."
"Vivemos dias de profundas transformações no
cenário nacional. Mudanças que não prevíamos e nem prevenimos e cujas conseqüências
não antecipamos. Fala-se o tempo todo em crise, crise de moralidade ante a
banalização da inversão de valores, (...) crise econômica e financeira
creditada à globalização e à má gestão do dinheiro público, crise de
autenticidade flagrada na proliferação dos bodes expiatórios usados para
desviar os olhos do eleitor das distorções do poder público, crises de
referência em razão do sumiço da ética, crise de enfraquecimento do Estado em
contraposição à crescente tentativa de manipulação da democracia pelo ranço do
jeitinho brasileiro", discursou o ministro.
O Plenário do TSE tinha em pauta a retomada do
julgamento de uma ação que pode levar à cassação do mandato da presidente Dilma
Rousseff (PT) e do vice-presidente Michel Temer (PMDB) por abuso de poder político
e econômico. O processo é uma Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME)
apresentada pelo PSDB após a diplomação de Dilma e Temer. O processo estava
paralisado por um pedido de vista da ministra Luciana Lóssio. Noronha já votou
no caso e entendeu que a ação contra Dilma deve ter seguimento. O julgamento,
porém, não foi retomado nesta quinta.
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