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domingo, 18 de outubro de 2015

‘Ladroeira, vá lá, mas sem deboche’



Por Augusto Nunes, 03/07/2013, www.veja.com.br

Texto de Carlos Brickmann

O roubo faz parte do poder; um inglês famoso, lorde Acton, dizia já em 1887 que todo poder corrompe. Rouba-se no Brasil desde quando o Brasil era colônia (D. João 6º, ao voltar para Portugal, esvaziou os cofres do país); roubou-se no mundo comunista (Erich Honneker, o último líder da Alemanha Oriental, acumulou alguns bilhões de dólares), rouba-se no mundo capitalista (Helmut Kohl, que liderou a reunificação alemã, caiu por receber dólares, digamos, não contabilizados). Rouba-se em ditaduras e democracias. Faz parte.

O que não faz parte, e que responde pelas grandes manifestações, é o deboche. Nunca por aqui alguém brigou pela corrupção dos outros. Mas quando um senador que teve de renunciar para não ser cassado vira presidente do Senado, quando ministros afastados por “malfeitos” voltam a circular no Governo, quando deputados condenados à prisão por corrupção não apenas continuam exercendo o mandato como vão para a Comissão de Constituição e Justiça, quando o Poder torna sigilosos os gastos do cartão corporativo de uma servidora que se dizia grande amiga do então presidente, aí é demais. É juntar o roubo ao escárnio. É dizer “vou tomar seu dinheiro e contar pra todo mundo que você é otário”.

Mentir faz parte do deboche. Quando o ministro da Fazenda diz que as contas batem graças a uma tal “contabilidade criativa”, está debochando. Na ditadura, acochambravam-se os índices (era a expressão da época), mas negava-se a bandalheira. Hoje a bandalheira é afirmada, enfiada na cara do cidadão.
É abuso.

Padrão Dilma
Dilma diz que seu Governo é Padrão Felipão. Bela comparação: foi o Padrão Felipão que levou o esquadrão do Palmeiras à Segunda Divisão.

Depois da queda
Nem o Palácio do Planalto deve se assustar, nem a oposição se embandeirar, com a queda do índice de popularidade do Governo Dilma. As manifestações derrubaram os índices dos governantes em geral (e era inevitável que assim fosse). Mas a queda pode ser passageira, dependendo de como se fizer o manejo da crise. O importante não é a queda causada pelas manifestações: como num terremoto, o importante é o que ocorre nas camadas subterrâneas. Mostra a pesquisa Datafolha: a expectativa de aumento da inflação passou de 51 para 54%; a avaliação positiva do comando da economia caiu de 49 para 27%; a expectativa de crescimento do desemprego passou de 36 para 44%. 

Este é o nó a desatar.
Bolsarney
O caro leitor está desempregado, sem perspectivas? Seus problemas acabaram! Dependendo de sua posição partidária e importância política, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, tem bons empreguinhos a oferecer. Por exemplo, o Conselho de Gestão Estratégica das Políticas Públicas do Governo, Congep. O Maranhão, segundo Estado mais pobre do país (e há 50 anos sob o comando férreo da família Sarney), paga 206 conselheiros com assento no Congep. Cada um dos laboriosos escolhidos recebe R$ 5.800 mensais para comparecer a uma reunião no Congep, de 30 em 30 dias. Não, explica o Governo maranhense, não se trata de uma boca rica, daquelas de ganhar sem trabalhar: os conselheiros se esfalfam intensamente todos os dias, escravos que são da cidadania, em contato permanente com a comunidade, buscando, analisando e coordenando informações de sua região, e as levam para uma discussão geral todos os meses. 
São 206 beneméritos, que ganham o pão maranhense com o suor de seu rosto, não é?
Muito prazer, Sra. Dilma

A presidente Dilma talvez tenha se inspirado na reunião dos 206 da governadora Roseana para reunir pela primeira vez seus 39 ministros ─ vários dos quais ainda não tinham se reunido a sós com ela. Dos 39, vieram 36. Faltou até Mercadante, que pela primeira vez perde a chance de enfiar-se na foto atrás de Dilma. 
Não se decidiu nada; mas os que foram ao menos puderam apresentar-se a ela.

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