Por Augusto
Nunes, 03/07/2013, www.veja.com.br
Texto de Carlos
Brickmann
O roubo faz parte do poder; um inglês famoso, lorde
Acton, dizia já em 1887 que todo poder corrompe. Rouba-se no Brasil desde
quando o Brasil era colônia (D. João 6º, ao voltar para Portugal, esvaziou os
cofres do país); roubou-se no mundo comunista (Erich Honneker, o último líder
da Alemanha Oriental, acumulou alguns bilhões de dólares), rouba-se no mundo
capitalista (Helmut Kohl, que liderou a reunificação alemã, caiu por receber
dólares, digamos, não contabilizados). Rouba-se em ditaduras e democracias. Faz
parte.
O que não faz
parte, e que responde pelas grandes manifestações, é o deboche. Nunca por aqui
alguém brigou pela corrupção dos outros. Mas quando um senador que teve de
renunciar para não ser cassado vira presidente do Senado, quando ministros
afastados por “malfeitos” voltam a circular no Governo, quando deputados
condenados à prisão por corrupção não apenas continuam exercendo o mandato como
vão para a Comissão de Constituição e Justiça, quando o Poder torna sigilosos
os gastos do cartão corporativo de uma servidora que se dizia grande amiga do
então presidente, aí é demais. É juntar o roubo ao escárnio. É dizer “vou tomar
seu dinheiro e contar pra todo mundo que você é otário”.
Mentir faz
parte do deboche. Quando
o ministro da Fazenda diz que as contas batem graças a uma tal “contabilidade
criativa”, está debochando. Na ditadura, acochambravam-se
os índices (era a expressão da época), mas negava-se a bandalheira. Hoje a
bandalheira é afirmada, enfiada na cara do cidadão.
É abuso.
Padrão Dilma
Dilma diz que seu Governo é Padrão Felipão. Bela
comparação: foi o Padrão Felipão que levou o esquadrão do Palmeiras à Segunda
Divisão.
Depois da queda
Nem o Palácio do Planalto deve se assustar, nem a
oposição se embandeirar, com a queda do índice de popularidade do Governo
Dilma. As manifestações derrubaram os índices dos governantes em geral (e era
inevitável que assim fosse). Mas a queda pode ser passageira, dependendo de
como se fizer o manejo da crise. O importante não é a queda causada pelas
manifestações: como num terremoto, o importante é o que ocorre nas camadas
subterrâneas. Mostra a pesquisa Datafolha: a expectativa de aumento da inflação
passou de 51 para 54%; a avaliação positiva do comando da economia caiu de 49
para 27%; a expectativa de crescimento do desemprego passou de 36 para
44%.
Este é o nó a desatar.
Bolsarney
O caro leitor está desempregado, sem perspectivas? Seus problemas acabaram! Dependendo de sua posição partidária e importância política, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, tem bons empreguinhos a oferecer. Por exemplo, o Conselho de Gestão Estratégica das Políticas Públicas do Governo, Congep. O Maranhão, segundo Estado mais pobre do país (e há 50 anos sob o comando férreo da família Sarney), paga 206 conselheiros com assento no Congep. Cada um dos laboriosos escolhidos recebe R$ 5.800 mensais para comparecer a uma reunião no Congep, de 30 em 30 dias. Não, explica o Governo maranhense, não se trata de uma boca rica, daquelas de ganhar sem trabalhar: os conselheiros se esfalfam intensamente todos os dias, escravos que são da cidadania, em contato permanente com a comunidade, buscando, analisando e coordenando informações de sua região, e as levam para uma discussão geral todos os meses.
O caro leitor está desempregado, sem perspectivas? Seus problemas acabaram! Dependendo de sua posição partidária e importância política, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, tem bons empreguinhos a oferecer. Por exemplo, o Conselho de Gestão Estratégica das Políticas Públicas do Governo, Congep. O Maranhão, segundo Estado mais pobre do país (e há 50 anos sob o comando férreo da família Sarney), paga 206 conselheiros com assento no Congep. Cada um dos laboriosos escolhidos recebe R$ 5.800 mensais para comparecer a uma reunião no Congep, de 30 em 30 dias. Não, explica o Governo maranhense, não se trata de uma boca rica, daquelas de ganhar sem trabalhar: os conselheiros se esfalfam intensamente todos os dias, escravos que são da cidadania, em contato permanente com a comunidade, buscando, analisando e coordenando informações de sua região, e as levam para uma discussão geral todos os meses.
São 206 beneméritos, que ganham o pão maranhense
com o suor de seu rosto, não é?
Muito prazer, Sra. Dilma
A presidente Dilma talvez tenha se inspirado na
reunião dos 206 da governadora Roseana para reunir pela primeira vez seus 39
ministros ─ vários dos quais ainda não tinham se reunido a sós com ela. Dos 39,
vieram 36. Faltou até Mercadante, que pela primeira vez perde a chance de
enfiar-se na foto atrás de Dilma.
Não se decidiu nada; mas os que foram ao menos
puderam apresentar-se a ela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário