Fernando Gabeira fala que Dilma é
uma irresponsável por oferecer o Ministério da Saúde a um grupo de oportunistas
do PMDB e afirma que sua continuidade no poder é a garantia de um não-futuro
para o Brasil
Por Thiago
Prado, do Rio de Janeiro,
26/09/2015, www.veja.com.br
Hélio Bicudo não é mais o único ex-petista
histórico a defender abertamente o impeachment de Dilma Rousseff. Em entrevista
ao site de VEJA, o ex-deputado federal Fernando Gabeira afirma o mesmo,
apostando que este será o destino da presidente nos próximos meses. Gabeira
ainda aborda os riscos que a Operação Lava-Jato corre no Supremo Tribunal
Federal (STF) - ocupada, segundo ele, por ministros "medíocres"
indicados pelo PT - e abre o jogo sobre o que pensa dos caciques do PMDB,
protagonistas da atual luta política. Leia trechos da entrevista.
Como o
senhor projeta o cenário político brasileiro para os próximos meses?
Tenho uma dedução de que a Dilma não completa o
mandato por falta de credibilidade e capacidade política. Sobre a campanha dela
pesam acusações muito pesadas e graves vinculadas ao Petrolão. Não é possível
que o maior escândalo do mundo moderno não tenha repercussão no partido e no
governo. São bilhões desviados e isso precisa ser punido de alguma forma. O
presidente da Volkswagen, por exemplo, renunciou imediatamente após a
descoberta de um erro esta semana (a empresa instalou um software em automóveis
para enganar agências reguladoras e usuários sobre a emissão de gases poluentes
em veículos a diesel).
O senhor
acha então que o melhor para o Brasil seria a saída de Dilma?
Eu acho. É preciso raciocinar: o que é mais
traumático para o país? Em uma visão mais imediata, o impeachment, de fato,
traz alguns transtornos e solavancos. Mas a médio e longo prazo, ele é o
caminho para a recuperação. A continuidade da Dilma é um não-futuro, uma falta
geral de perspectivas. Dilma sabia de tudo, era presidente do conselho de
administração da Petrobras na compra da refinaria de Pasadena e foi durante
muito tempo ministra de Minas e Energia. Temos um tesoureiro do PT condenado a
15 anos de prisão (João Vaccari Neto, condenado esta semana por corrupção pelo
juiz Sérgio Moro). Como assim? Ele colocou todo o dinheiro numa mochila e não
usou para nada? É um absurdo. Neste processo ela e o país vão sangrar muito.
Acho até que era melhor uma renúncia, mas não sou ingênuo politicamente para
achar que o PT adotará este caminho. O impeachment dá a eles o discurso de
vítima.
Em 2005,
durante o escândalo do mensalão, o senhor deu uma entrevista para a VEJA
dizendo que "o PT acabou". Se naquele tempo o senhor já dizia isso do
partido, o que falar atualmente?
Lá atrás eu disse isso porque o PT havia acabado
como proposta de renovação. Hoje é pior ainda. Ele morreu e não quer ser
enterrado. Existe uma rejeição ao mal cheio agora e desenvolveu na sociedade
uma ira com o partido. Principalmente pela forma como o PT nega os feitos e
tenta driblar a consciência das pessoas. Eles se recusam a assumir as conseqüências.
O máximo que a Dilma consegue fazer é admitir que errou tentando fazer o bem.
Qual o
tamanho da responsabilidade de Lula no que aconteceu com o PT? O poder o mudou
ou ele sempre foi assim?
Não sou um grande psicólogo do Lula porque ele
desafia demais a minha capacidade de entendê-lo. No documentário Entreatos, em
um determinado ele disse que se incomodava porque o tratavam como operário e
que, na verdade, ele era da classe média. Ou seja, a primeira grande ambição do
Lula era ascender socialmente. Aquilo já me mostrava que a questão não era
levar a classe operária ao poder, mas sim ao paraíso. Depois que ele deixa o
governo, passa a ser um lobista das grandes empreiteiras. E pelos dados
divulgados agora - onde mora, a maneira como se veste e se desloca -, podemos
dizer que Lula se tornou um milionário. É ele o coordenador de tudo o que está
aí. Lula escolheu Dilma para sucedê-lo porque tem pavor de pessoas que querem
fazer sombra a ele. Ele escolheu um poste. “O problema é que depois os
cachorros acabam achando o poste para fazer xixi”.
Qual a
importância da operação Lava-Jato para o futuro do Brasil?
É importante que se diga que as investigações nunca
mais serão as mesmas no Brasil. Houve um avanço na modernização e evolução do
trabalho de cooperação internacional. A questão é se o avanço acontecerá também
nas punições dos investigados. Ou seja, se o avanço investigativo vai ser
contido pelas instancias judiciais superiores. O Supremo tem muitos ministros
medíocres que foram colocados pelo PT. A gratidão do cara medíocre por estar
naquele lugar é imensa.
E a postura
do PMDB esta semana?
Parte recusou indicar ministérios e a outra começou
a negociar cargos no governo federal... Neste pântano o PMDB é o único que parece saber o
que quer. Ele está se afastando um pouco do governo e prevê uma convenção
nacional em 15 de novembro, no dia de proclamação da República, onde deverá
sair do governo e se unir à oposição. Há ao menos um calendário a cumprir. Mas
o PMDB também tem um grupo de oportunistas. Então a Dilma sempre terá alguém
para conversar, sempre vai ter alguém para aceitar um ministério. Ela resolveu
fazer algo extremamente irresponsável. Ofereceu o Ministério da Saúde, o de
maior orçamento da Esplanada e que envolve a vida das pessoas.
Passados
oito anos da eleição que o senhor perdeu para Eduardo Paes, é possível dizer se
foi melhor ou pior para o Rio de Janeiro a sua derrota?
A experiência teria sido diferente. Mas acho que o
Paes se comportou bem em alguns quesitos. A pessoa que ia ser a minha secretária
de Fazenda foi a dele (Eduarda La Roque). Uma das coisas que eu pensava era
colocar a prefeitura contribuindo mais com a segurança, usando inteligência,
investindo em câmaras. A sensação que eu tenho que o governo do estado só não
dá conta. O secretário José Mariano Beltrame parece isolado, o que está
acontecendo é superior à capacidade da polícia. Tenho minhas dúvidas também se
a Olimpíada é boa para o Brasil. Trouxemos o evento em um momento de euforia
econômica e de ilusão de prosperidade. Hoje, a intenção de mostrar uma grandeza
internacional pode trazer resultados opostos ao que esperávamos. Olha a fama
que a Baía de Guanabara está trazendo para o país. A violência a mesma coisa.
Estamos expondo as nossas fragilidades.
O senhor tem
saudades da política e das últimas campanhas?
Não. Naquela ocasião o governador era o Sérgio
Cabral e havia todo um esquema criminoso que estava presente e que só agora
aparece, embora o Cabral tenha sido inocentado na Lava-Jato. Disputei contra
ele em 2010, contra milhões de reais, e posso te dizer que este dinheiro não
foi colocado para fortalecer a democracia. Era um dinheiro destinado a
corromper. E quem fez a campanha do Eduardo Paes dois anos antes foi a mesma
máquina do Cabral e do (Jorge) Picciani.
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