Por Augusto Nunes, 12/10/2015,
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Editorial Publicado no Estadão
Na
primeira reunião com seu novo Ministério, a presidente Dilma Rousseff não
tratou de questões administrativas, pois ela já não governa mais. O único tema
relevante do encontro foi a perspectiva, cada vez mais real, de que sofra um
processo de impeachment. E Dilma implorou a seus ministros que trabalhem para
manter o mandato presidencial, pois para isso foram nomeados ─ e não para
administrar a coisa pública e cuidar do bem-estar da Nação.
Dilma é hoje uma alma penada, como aquelas que, segundo a tradição
medieval cristã, esperam abreviar seu sofrimento por meio da caridade dos que
despejam alguns trocados na bacia de doações da igreja. A petista recorre agora
a essa “bacia das almas” porque perdeu todas as chances de se redimir de seus
pecados políticos e administrativos e depende exclusivamente da boa vontade de
terceiros como última cartada para salvar-se do inferno do ostracismo. E essa
boa vontade, como se sabe, não é nada desinteressada.
Dilma montou um novo Ministério na expectativa de aplacar o apetite
fisiológico da chamada “base aliada” e, assim, garantir apoio no Congresso para
impedir a aprovação de mais gastos públicos e, principalmente, para barrar o
impeachment. A persistente falta de quórum para votar os vetos de Dilma a
projetos que criam despesas mostrou que os novos amigos da presidente não têm
como entregar aquilo que lhe prometeram, pois está cada vez mais claro que, uma
vez dada à mão, os “governistas” querem arrancar também o braço ─ e não se
satisfarão com esse membro.
Enquanto isso, a “governabilidade” fica a depender de gente cada vez
menos qualificada, num processo de degradação da administração que desautoriza
qualquer manifestação de otimismo sobre o país num futuro previsível. Para
Dilma, porém, isso não parece ser importante. A única coisa que interessa é
segurar-se na cadeira presidencial, custe o que custar.
Para isso, a presidente e seus cada vez mais raros defensores passaram
os últimos tempos a acusar a oposição de atropelar as instituições democráticas
com o objetivo de dar um golpe. No entanto, com a derrota sofrida no Tribunal
de Contas da União, que rejeitou as contas de seu governo, e no Tribunal
Superior Eleitoral, que autorizou o prosseguimento de uma ação que pode lhe
cassar o mandato, ficou claro que as instituições, repletas de ministros
nomeados pelo próprio governo petista, funcionam muito bem ─ e então Dilma
se viu obrigada a mudar seu discurso.
Agora, a presidente, caprichando no “dilmês”, diz que pode estar em
curso no país um “golpe democrático”, a exemplo do que, segundo ela, aconteceu
no Paraguai em 2012. Trata-se de uma referência ao impeachment do então
presidente paraguaio, Fernando Lugo, como resultado de um processo que durou
pouco mais de 24 horas ─ tudo feito segundo o que previa a lei local. Na
visão de Dilma, a oposição brasileira, assim como fez a paraguaia, quer dar um
“golpe” usando as ferramentas oferecidas pelas próprias instituições
democráticas. Assim, seu impedimento não seria legítimo, mas fruto de manobras
espúrias, com simples aparência de legalidade.
Com isso, Dilma quer desmoralizar qualquer forma de processo contra si e
contra seu governo, mesmo que seja conduzido dentro do mais estrito respeito às
normas democráticas e constitucionais. É, para dizer o mínimo, uma atitude
autoritária.
Em vez de denunciar o tal “golpe à paraguaia” no Brasil, Dilma deveria
se empenhar em salvar um pouco da dignidade que lhe resta, a começar pelo
reconhecimento sincero de seus erros. Mas não. Dilma até desistiu de negar as
“pedaladas fiscais”, pois já não é mais possível dizer que elas não existiram,
mas instruiu seus ministros a dizer que aquele artifício contábil foi
necessário porque era a única maneira de manter em dia os programas sociais em
meio à crise econômica. Com isso, a petista admite que pecou, mas quer
convencer o país de que foi por uma boa causa. Se é assim que Dilma pretende
ser remida de suas faltas, haja indulgência.
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