Novo ministério expõe o
"dilema dos políticos" de Barbara Geddes: quanto maior a necessidade
de sobrevivência política do presidente, menos eficaz será seu governo
Por Sergio
Praça, 02/10/2015, www.veja.com.br
Apesar de discursar, agora a pouco, sobre medidas
que reduziriam gastos administrativos dos ministérios (incluindo redução de 10%
do salário dos ministros), o tom da reforma ministerial é: menos eficácia
governamental, mais chances de sobrevivência política.
O primeiro golpe na eficácia governamental foi o
corte de despesas geral do governo, extinguindo programas como o Ciências Sem
Fronteiras e inviabilizando vários outros. Só saberemos o efeito completo do
corte no fim do ano.
Mais ministérios para o PMDB implicam menos
eficácia governamental. Este é o trad-off analisado por Barbara Geddes em seu
clássico “Politician’s
Dilemma” (University of Califórnia Press, 1996). Ela analisa o
período democrático de 1945-1964 e aponta que presidentes querem três coisas:
terminar o mandato, governar com eficácia e construir uma base organizacional
própria para disputar eleições futuras.
Segundo Geddes, cada um desses objetivos requer uma
estratégia específica. Para construir apoio organizacional para eleições, o
presidente deveria nomear apenas filiados a seu partido para cargos no governo.
Para governar com eficácia, o presidente optaria por um governo tecnocrático,
focado em extrair o melhor da expertise de funcionários concursados.
Finalmente, para conseguir terminar seu mandato, presidentes ameaçados
conseguiriam apoio parlamentar distribuindo muitos cargos tanto para seu
partido quanto para parceiros da coalizão.
Essa última estratégia é a que se desenha a partir
de hoje para o governo Dilma. Ao anunciar cortes administrativos, a presidente
tentou maquiar o fato de que as
políticas públicas que prometeu na campanha terão chances ainda menores de
serem implementadas.
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