A reforma do apartamento tríplex
do ex-presidente — que incluiu a instalação de um elevador privativo — foi paga
por uma das empreiteiras envolvidas no escândalo de corrupção da Petrobras
Por Robson
Bonin e Kalleo Coura,
02/10/2015,
www.veja.com.br
Bancar melhorias na Casa da Dinda, a residência de
Fernando Collor, no Lago Norte, em Brasília, era uma das muitas maneiras de
agradar ao então presidente, deposto do cargo por corrupção em 1992. A mesma
tática foi e está sendo usada por empreiteiras para demonstrar afeição ao
ex-presidente Lula. Em meados de 2014, depois de quase dez anos de espera, a
ex-primeira-dama Marisa Letícia viajou à Praia das Astúrias, no Guarujá, para
buscar as chaves do apartamento dos sonhos da família. O refúgio dos Lula da
Silva no litoral é um tríplex de 297 metros quadrados. São três quartos, suíte,
cinco banheiros, dependência de empregada, sala de estar, sala de TV e área de
festas com sauna e piscina na cobertura. Ah, sim, para um eventual panelaço das
elites, o tríplex tem varanda gourmet no 1º andar. O plano de comemorar o
réveillon no imóvel foi adiado pela decisão de fazer ali uma reforma. O
porcelanato e os acabamentos de gesso foram refeitos, a planta interna foi
modificada para abrigar um escritório e um elevador privativo, interligando os
ambientes do 1º andar com a ala dos quartos, no 2º nível, e a área de festas,
na cobertura. Acompanhada de perto por dona Marisa, a obra não custou um
centavo à família do ex-presidente. Do primeiro parafuso ao último azulejo,
tudo foi pago pela OAS, uma das empreiteiras envolvidas no escândalo de
corrupção da Petrobras.
VEJA teve acesso a documentos e a fotos (em
VEJA.com) que detalham a reforma do tríplex presidencial e mostram que os
serviços foram contratados pela empreiteira. O trabalho foi feito pela Tallento
Inteligência em Engenharia, uma empresa conhecida no mercado por executar obras
de alto padrão em prazos curtos - duas exigências dos contratantes, mas não as
principais. A exigência maior era a discrição. As investigações da Lava-Jato
revelariam meses depois às razões disso. Iniciada em 1º de julho de 2014, a
reforma transcorreu sob medidas de segurança incomuns. A fechadura da porta de
acesso era trocada toda semana. A reforma da cobertura tríplex chamou a atenção
dos moradores do prédio.
"Nos dias em que eles marcavam para visitar a
obra, a gente tinha de parar o trabalho e ir embora. Ninguém era autorizado a
permanecer no apartamento. Só ficamos sabendo quem era o dono muito tempo
depois, pelos vizinhos e funcionários do prédio, que reconheceram dona Marisa e
o Lulinha (Fábio Luís Lula da Silva, o filho mais velho do ex-presidente)",
disse a VEJA um dos profissionais que colaboraram na reforma. O ex-presidente
Lula esteve no tríplex algumas vezes. O segredo durou até dezembro do ano
passado, quando o jornal O Globo publicou detalhes de uma investigação
sobre a Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop).
Controlada pelo PT, a entidade faliu e deixou 3 000 famílias sem receber seus
imóveis. O tríplex destinado a Lula, com uma das melhores vistas do Guarujá,
avaliado em 2,5 milhões de reais, foi um dos poucos a ser entregues. VEJA
revelou em abril passado que, depois de um pedido feito pelo próprio
ex-presidente a Léo Pinheiro, executivo da OAS, seu amigo, preso na Operação
Lava-Jato, a OAS assumiu a construção do prédio, que estava parada. Além de
Lula, parentes do tesoureiro petista João Vaccari Neto, também preso,
sindicalistas e familiares de Rosemary Noronha, a amiga íntima de Lula, foram
contemplados com apartamentos em outros prédios da Bancoop assumidos pela OAS.
Revelado o privilégio, e diante da repercussão negativa, desapareceu o
entusiasmo da família Lula pelo imóvel.
O ex-presidente passou a negar ser o proprietário
do tríplex, embora admita que sua esposa seja dona das cotas de um apartamento
no mesmo edifício, o Solaris. Não é mentira. É apenas uma meia verdade. No
papel, o tríplex ainda está em nome da OAS. Funcionários da empreiteira
procurados por VEJA confirmaram que o apartamento pertence aos Lula da Silva,
está parcialmente mobiliado, permanece fechado e está à venda por 2,3 milhões
de reais. "Para entrar aí, só com autorização da cúpula da construtora. Só
eles e o Lula têm a chave", disse a VEJA, na semana passada, um
funcionário da própria OAS.
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