Por Augusto Nunes, 17/10/2015,
www.veja.com.br
Texto de Roberto Pompeu de Toledo
O
PSDB já foi partido de ricos quadros e boas bancadas.
Hoje tem heróis solitários. Os antigos ensinam que celebrar heróis edifica os
povos. Na moderna imprensa, à prática de desancar vilões atribui-se valor
infinitamente maior do que à de celebrar heróis. Esta coluna vai
hoje trocar o moderno pelo antigo e celebrar três heróis do que ainda
resta de dignidade no PSDB.
O
primeiro é Alberto Goldman, 78 anos, ex-deputado, aguerrido opositor da
ditadura militar, vice-governador de São Paulo sob José Serra e
governador quando lhe incumbiu completar o mandato do titular. Goldman
insurgiu-se na semana passada contra o apoio do PSDB ao deputado Eduardo Cunha.
Declarou ele ao jornal O Globo: “Quando os meninos vêem um
filme de terror e sabem que alguém vai
morrer, dizem: "Fulano é carne morta. Cunha é carne morta. Tomara que
“leve consigo alguns pesos que serão bem levados”. Antes, Goldman já havia
criticado seu partido pelo apoio à derrubada do chamado fator previdenciário,
invenção do governo Fernando Henrique para inibir as aposentadorias precoces.
O
segundo herói é Arnaldo Madeira, 75 anos, fundador do PSDB, ex-vereador de São
Paulo, ex-deputado federal e coordenador do programa de Aécio
Neves na campanha presidencial do ano passado. Madeira critica o apoio de seu
partido à derrubada do fator previdenciário e ao fim da reeleição, duas medidas
instituídas durante o governo Fernando Henrique. Disse ele ao colunista
Bernardo Mello Franco, da Folha de S.Paulo: “Está difícil entender o partido. Em
vez de defender conceitos, estamos
fazendo uma oposição igual à que o PT nos fazia. Só falta o PSDB votar contra a
Lei de Responsabilidade Fiscal”.
O
terceiro é o deputado Samuel Moreira, 52 anos, mineiro criado em São Paulo,
ex-prefeito de Registro (SP), ex-deputado
estadual, eleito deputado federal pela primeira vez no ano passado. Moreira é
um estranho no nosso panteão. Ao contrário dos dois anteriores, figuras
históricas do tucanato, era até duas semanas atrás um obscuro estreante na
política federal. Conquistou a posição, com louvor, por ser o único, entre os
54 integrantes da bancada do PSDB na Câmara Federal, a votar pela manutenção do
fator previdenciário, na votação dos vetos presidenciais do dia 23 de setembro.
“Criar mais despesas para a Previdência não é prudente para o momento que o
país está vivendo, com os cofres públicos dilapidados”, disse ele.
Nossa
trinca de heróis prova coisa rara, nestes
dias, na cena política, que há ainda gente capaz de pôr
os valores acima das manobras oportunistas. O contraste com relação à infeliz
bancada tucana na Câmara, regida pelo deputado Carlos Sampaio, segundo pauta do
senador Aécio Neves, eleva-os e dignifica-os. O líder Carlos Sampaio fez de sua
gente dóceis carneirinhos a serviço do enrolado Eduardo Cunha. Na semana
passada vacilou, diante da evidência das contas suíças em nome do presidente da
Câmara, mas ainda assim disse que Cunha merecia o “benefício da dúvida” e
deveria continuar na presidência da Câmara. Entre os deputados de sete
partidos que na quarta-feira se mobilizaram para abrir processo de quebra de decoro
contra Cunha, havia até um do PMDB, o pernambucano Jarbas Vasconcelos ─ outro
herói solitário. Do PSDB, nenhum.
Nas
frustradas tentativas do Congresso, também na semana passada, devotar
os vetos presidenciais à chamada “pauta-bomba”, o PSDB integrou alegremente a
maioria que se recusou a dar quórum para a realização das sessões. Houve tucano
que aproveitou para adiantar que, caso houvesse a sessão, votaria pela
derrubada dos vetos. Então temos que, caso o PSDB vire governo, os servidores
do Judiciário poderão contar com aumentos de até 79% (um dos itens da pauta-bomba).
Também não haverá fator previdenciário que limite aposentadorias, seja em que
idade for. E na presidência da Câmara pode estar alguém denunciado em
investigações judiciais, com empresas registradas em paraísos fiscais e contas
secretas na Suíça, que isso não fará a menor diferença.
A corrupção, a falta de escrúpulos
na prática política e a irresponsabilidade administrativa dos anos PT estão a
exigir uma alternativa em tudo oposta no exercício do poder. A atuação do PSDB
nos últimos meses o descredencia como candidato a tal alternativa. Os três
heróis somam apenas isso ─ três. Suas solitárias vozes apenas realçam a miséria
do conjunto da tropa. O PSDB precisará de muitos mais para alçar-se à altura
do crucial momento que vive o país.
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