Descoberta levou juiz federal
Sérgio Moro a decretar nova prisão preventiva do presidente e executivos da
empreiteira
Veja,
24/07/2015,
www.veja.com
O novo
decreto de prisão preventiva do presidente da Odebrecht, Marcelo Bahia
Odebrecht, decorre da descoberta de oito novas contas ligadas ao grupo abertas
em nome de empresas offshores Smith & Nash Engeinnering Company, Arcadex
Corporation, Havinsur S/A, Golac Project, Rodira Holdings, Sherkson
Internacional. Documentos enviados pela Suíça ao Ministério Público Federal
brasileiro apontam pagamentos de 10.924.390,04 dólares aos ex-diretores da
Petrobras Paulo Roberto Costa (Abastecimento), Renato Duque (Serviços), Pedro
Barusco (gerência de Engenharia), Jorge Zelada (Internacional) e Nestor Cerveró
(Internacional) por meio dessas contas.
A decisão de Moro, tomada diante de novas provas
que se acumularam desde a prisão do empresário e dos outros executivos ligados
ao grupo, abrange, além do presidente da empreiteira, os executivos Márcio
Faria, Rogério Araújo e Alexandrino Alencar - afastados após as prisões, em 19
de junho. "Na data de ontem, o MPF apresentou a este Juízo documentação
bancária recebida, em cooperação jurídica internacional, da Suíça relativamente
às contas e transações da Odebrecht com as contas controladas por dirigentes da
Petrobras", registrou o juiz federal Sérgio Moro, no novo decreto de
prisão dos executivos da empreiteira.
Os documentos apresentados e os resumos das
autoridades suíças feitos à força-tarefa da Lava Jato indicam que a Odebrecht
teria realizado depósitos via 10 empresas off-shores nas contas dos dirigentes
da Petrobras de duas formas. Duas delas já eram conhecidas, a Constructora Del
Dur e a Klienfeld. "Diretamente, pela utilização de contas em nome das
off-shores Smith & Nash Engeinnering Company, Arcadex Corporation, Havinsur
S/A, das quais é a beneficiária econômica final e, portanto, controladora, com
transferências diretas dessas contas para contas controladas por dirigentes da
Petrobras."
A outra forma de pagamentos seria feita de maneira
indireta. "Pela realização de depósitos por meio das contas acima e
igualmente das contas em nome das off-shore Golac Project, Rodira Holdings,
Sherkson Internacional, das quais também é a beneficiária econômica final e,
portanto, controladora, em contas em nome de outras off-shores controladas por
terceiros", acrescenta o juiz, em sua decisão.
São elas as off-shores
Constructora International Del Sur, Klienfeld Services e Innovation Research. "Tendo os valores em seguida
sido transferidos para contas controladas por dirigentes da Petrobras."
Duas dessas empresas já eram alvo das investigações, com base nos depoimentos
dos delatores e nos primeiros documentos fornecidos por autoridades da Suíça.
Beneficiários - Os documentos suíços revelaram, segundo sustenta o
MPF, que a "conta em nome da off-shore Smith & Nash Engeinnering
Company, que tem por beneficiário econômico a Odebrecht, realizou depósitos
milionários na conta em nome da Sagar Holdings controlada por Paulo Roberto
Costa". Primeiro delator da Lava Jato, o ex-diretor de Abastecimento da
Petrobras confessou ter recebido 23 milhões de dólares da Odebrecht, mantidos
em contas secretas na Suíça. A partir dos dados de suas contas e de outros
delatores, como Pedro Barusco (ex-gerente de Engenharia da Petrobras) e o
lobista Julio Gerin Camargo foram possíveis o cruzamento de dados das
autoridades brasileiras e suíças.
Costa era braço do PP, no esquema de controle
políticos de diretorias da Petrobras para desvios de 1% a 3% em contratos. No
caso do PT e do PMDB, outros dois partidos que controlavam o esquema, foram
identificados os caminhos dos recursos que pagaram propina para os ex-diretores
de Serviços Renato Duque (braço do PT) e Internacional Nestor Cerveró e Jorge
Luiz Zelada (ambos do PMDB). "A conta em nome da off-shore Arcadex
Corporation, que tem como beneficiária econômica a Odebrecht, realizou
depósitos milionários na conta em nome da Milzart Overseas controlada por
Renato Duque e na conta Tudor Advisory controlada por Jorge Luiz Zelada",
informa Moro.
"A conta em nome da off-shore Havinsur S/A,
que tem como beneficiária econômica a Odebrecht, realizou depósitos milionários
na conta em nome da Milzart Overseas controlada por Renato Duque",
acrescentou o juiz. Os documentos da Suíça teriam comprovado que as contas da
Smith & Nash, Arcadex, Havinsur e Golac "têm como fonte de recursos
depósitos que lhe foram repassados por contas no exterior de empresas do Grupo
Odebrecht, como a Construtora Norberto Odebrecht, Osel Odebrecht, Osela Angola
Odebrecht e CO Construtora Norberto Odebrecht".
Para o juiz da Lava Jato, "pelo relato das
autoridades suíças e documentos apresentados, há prova, em cognição sumária, de
fluxo financeiro milionário, em dezenas de transações, entre contas controladas
pela Odebrecht ou alimentadas pela Odebrecht e contas secretas mantidas no
exterior por dirigentes da Petrobras". "Trata-se de prova material e
documental do pagamento efetivo de vantagem indevida pela Odebrecht para os
dirigentes da Petrobras, especificamente Paulo Costa, Pedro Barusco, Renato
Duque, Nestor Cerveró e Jorge Luiz Zelada."
Dinheiro - Pela Smith & Nash, apurou-se as entradas e de
saídas de recursos da conta, entre 2006 e 2011. Em dólar, houve entrada de
45.404.373,84 e saída de 15.234.200,00. Houve saída também de recursos em
francos suíços no total de 1.925.100,00 para Sagar Holding S.A. "Em
relação às saídas de recursos da conta Smith & Nash identificadas na
documentação, ressalta-se como beneficiários as contas das off-shores
Constructora Internacional Del Sur SA, Klienfeld Services INC e Sagar Holding
S.A. (de Paulo Roberto Costa)", aponta o MPF. Na conta Havinsur S.A.,
segundo a Procuradoria, há demonstrativo de operação de débito, realizada em
25/3/2010 no valor de 565.000 dólares para a Milzart Overseas Holdings INC, de
Renato Duque. Foram levantados também os valores de entradas e de saídas de
recursos, em 2009, da conta Arcadex Corp. Chegou-se ao montante de
25.251.444,42 dólares (entrada) e 2.053.672,68 dólares (saída). Ocorreu, ainda,
saída de recursos em euro no total de 63.684,09 para Tudor Advisory INC, ligada
a Jorge Zelada.
De acordo com o documento, a offshore Klienfeld
Services recebeu 3.403.000,00 dólares da Smith & Nash, entre 2008 e 2010,
82.696.500,00 dólares, da Sjerkson Internacional, entre 2012 e 2014, e
31.200.000,00 dólares da Golac Projects, entre 2008 e 2009. Todas vinculadas à
Odebrecht. "A Klienfeld Services também é identificada como repassadora de
2.618.171,87, entre 2007 e 2010, para as offshores vinculadas aos ex-diretores
e gerente da Petrobras, Milzart Overseas (Renato Duque), Quinus Services (Paulo
Roberto Costa) e Pexo Corporation (Pedro Barusco)", aponta o documento.
A off-shore Arcadex Corp, da Suíça, repassou
2.053.672,68 dólares para conta homônima para uma conta na Áustria.
'Coincidentemente', afirma o MPF, uma conta Arcadex Corporation, existente na
Áustria, remeteu 434.980,00 dólares para a conta Milzart Overseas de Renato
Duque. A offshore Innovation Research Engineering And Development recebeu
3.398.100,00 dólares, em Antígua e Barbuda, da Golac Projects, vinculada à
Odebrecht, em 2010. "Essa mesma off-shore Innovation, repassou 286.311,17
dólares para a Pexo Corporation (de Pedro Barusco), em 2009, e 4.005.800,00
dólares para a Sygnus Assets (de Paulo Roberto Costa), em 2011."
(Com Estadão Conteúdo)
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