Neste 29 de agosto, o país verá em ação a Dilma que
diz frases sem pé nem cabeça até quando lê e a Dilma que não diz coisa com
coisa quando desanda no improviso
Por Augusto
Nunes, 28/08/2016,
www.veja.com.br
A pior oradora de todos os tempos protagoniza
derrapagens espetaculares até quando está lendo discursos encomendados a quem
consegue juntar sujeito e predicado. Foi assim em dezembro de 2009, durante a
Conferência do Clima promovida em Copenhague, quando a chefe da Casa Civil do
governo Lula surpreendeu o mundo com a notícia
assombrosa:
“O meio ambiente é, sem dúvida, uma ameaça ao desenvolvimento
sustentável”, recitou Dilma Rousseff sem tirar os olhos do papel. E foi em
frente. Como não se corrigiu, não se explicou e nem pediu desculpas, continua
valendo o que disse.
Em agosto de 2013, numa visita a Campinas, Dilma começou a ler à tarde o
discurso escrito
para ser lido à noite. Ela contava a sofrida saga de “uma mulher que estudou
até a quinta série do curso fundamental porque vivia na roça com mais nove
irmãos e não teve condições de continuá estudando” quando se deu conta de que
aquilo era para mais tarde. “Mas essa mulher eu vou tratá dela no próximo… na
próxima cerimônia que eu vou participá aqui em Campinas que é a formação do
Bolsa Família”, informou. Dado o aviso, desandou a explicar por que “a casa
própia é muito importante”. Isso mesmo: “própia”.
Se a Dilma dos discursos escritos é uma oradora de
alta periculosidade, a Dilma dos palavrórios de improviso é uma selvagem serial
killer da retórica. Neste 29 de agosto, a transmissão pela TV Senado do
depoimento da presidente agonizante permitirá que milhões de brasileiros
acompanhem ao vivo a primeira e última apresentação conjunta dessas duas
Dilmas. A que diz frases sem pé nem cabeça até quando lê vai caprichar num
falatório fantasiado de Auto da Injustiçada. A que não diz coisa com coisa
quando improvisa vai responder a perguntas dos senadores.
Dilma garante que foi ela quem resolveu defender-se
pessoalmente no Senado. Como nenhum dos áulicos que seguem freqüentando o
palácio assombrado ousou apresentar-lhe os perigos da ideia de jerico, a
performance da segunda-feira vai atestar que o impeachment livrará o Brasil,
simultaneamente, de uma recordista mundial de incompetência, de uma mentirosa
compulsiva e de uma torturadora da língua portuguesa.
Ela seria poupada desse vexame derradeiro se a
missão impossível fosse repassada aos senadores que permanecem a bordo da
embarcação condenada cujo piloto é José Eduardo Cardozo. O texto que inunda com
lágrimas de esguicho os golpistas cruéis, por exemplo, deveria ser berrado por
Lindbergh Farias, uma gritaria a serviço da pouca vergonha. As réplicas aos
senadores favoráveis ao impeachment ficariam por conta dos integrantes da
tropa, devidamente municiados com vídeos que registram alguns dos melhores
piores momentos da chefe.
Gleisi Hoffmann cuidaria de mostrar que a
presidente reincidiu em pedaladas criminosas por ter compreendido que a Lei de
Responsabilidade Fiscal é mesquinharia de avarento shakespeariano diante da
grandiosidade de um Minha Casa, Minha Vida. Vale tudo para impedir que tão esplêndido
programa definhe por falta de verbas — até raspar o cofre do Banco do Brasil.
Quem discordar de Gleisi será calado pela exibição do vídeo em que Dilma ensina
que uma casa é muito mais que uma casa: “Porque casa é primeiro sinônimo de
segurança. Casa, depois, é sinônimo de uma outra coisa muito importante. Um
lugar para a gente construir laços afetivos. É ali na casa que o pai e a mãe
amam as crianças, dão instruções para as crianças, educam as crianças… e os
jovens. É ali na casa também que cumeça… né? Os encontros, os namoros, os
noivados, os casamentos”.
Em seguida, Vanessa Grazziotin explicaria que a
gastança ilegal com obras de infraestrutura só é coisa de meliante juramentado
aos olhos de gente que não sabe direito, por exemplo, para que serve uma ponte.
É só ouvir o que a presidente diz no vídeo: “Por que o que é uma ponte? Uma
ponte é geralmente, e é algo que nós devemos nos inspirar, porque uma ponte é
um símbolo muito forte. Pensem comigo, uma ponte ela une, uma ponte fortalece,
uma ponte junta energia, uma ponte permite que você supere obstáculos”.
Kátia Abreu provaria que só uma estadista dotada de
um sexto sentido pode enxergar as coisas que só Dilma vê — quem mais seria
capaz de ver um cachorro oculto por trás de cada criança? No desfecho da
contra-ofensiva, Humberto Costa apresentaria o vídeo em que a Mãe do Brasil
Maravilha, numa única frase, saúda a mandioca, exalta o milho e anuncia a
descoberta da mulher sapiens.
O show do quinteto de patetas faria mais que
abreviar em algumas horas o desfecho da chanchada do impeachment. Também
obrigaria a nação a apressar a caça a respostas exigidas por duas perguntas
perturbadoras. Como pôde o Brasil eleger e reeleger um poste fabricado pelo
farsante que oficializou a celebração da ignorância? E como conseguiu o país
sobreviver a figuras assim?
Nenhum comentário:
Postar um comentário