Em proposta de colaboração com a
Justiça, Léo Pinheiro fala de suas relações com o magistrado e de uma obra em
sua “mansão de revista”
Por Robson
Bonin, Thiago Bronzatto e Rodrigo Rangel, 19/08/2016, www.veja.com.br
INFILTRAÇÃO
- Dias Toffoli: o ministro reafirmou que conhece o empreiteiro e garante que
não pediu nem recebeu nada dele
Era um encontro de trabalho como muitos que
acontecem em Brasília. O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, e
o empreiteiro José Aldemário Pinheiro Filho, conhecido como Léo Pinheiro, então
presidente da construtora OAS, já se conheciam, mas não eram amigos nem tinham
intimidade. No meio da conversa, o ministro falou sobre um tema que lhe causava
dor de cabeça. Sua casa, localizada num bairro nobre de Brasília, apresentava
infiltrações e problemas na estrutura de alvenaria. De temperamento afável e
voluntarioso, o empreiteiro não hesitou. Dias depois, mandou uma equipe de
engenheiros da OAS até a residência de Toffoli para fazer uma vistoria. Os
técnicos constataram as avarias, relataram a Léo Pinheiro que havia falhas na
impermeabilização da cobertura e sugeriram a solução. É um serviço complicado
e, em geral, de custo salgado. O empreiteiro indicou uma empresa especializada
para executar o trabalho. Terminada a obra, os engenheiros da OAS fizeram uma
nova vistoria para se certificarem de que tudo estava de acordo. Estava. O
ministro não teria mais problemas com as infiltrações — mas só com as infiltrações.
A história descrita está relatada em um dos
capítulos da proposta de delação do empreiteiro Léo Pinheiro, apresentada
recentemente à Procuradoria-Geral da República e à qual VEJA teve acesso.
Condenado a dezesseis anos e quatro meses de prisão por corrupção, lavagem de
dinheiro e organização criminosa no escândalo do petrolão, Léo Pinheiro decidiu
confessar seus crimes para não passar o resto dos seus dias na cadeia. Para
ganhar uma redução de pena, o executivo está disposto a sacrificar a fidelidade
de longa data a alguns figurões da República com os quais conviveu de perto na
última década. As histórias que se dispõe a contar, segundo os investigadores,
só são comparáveis às do empreiteiro Marcelo Odebrecht em poder destrutivo. No
anexo a que VEJA teve acesso, pela primeira vez uma delação no âmbito da
Lava-Jato chega a um ministro do Supremo Tribunal Federal.
No documento, VEJA constatou que Léo Pinheiro, como
é próprio nas propostas de delação, não fornece detalhes sobre o encontro entre
ele e Dias Toffoli. Onde? Quando? Como? Por quê? Essas são perguntas a que o
candidato a delator responde apenas numa segunda etapa, caso a colaboração seja
aceita. Nessa primeira fase, ele apresenta apenas um cardápio de eventos que
podem ajudar os investigadores a solucionar crimes, rastrear dinheiro,
localizar contas secretas ou identificar personagens novos. É nesse contexto
que se insere o capítulo que trata da obra na casa do ministro do STF.
Tal como está, a narrativa de Léo Pinheiro deixa
uma dúvida central: existe algum problema em um ministro do STF pedir um favor
despretensioso a um empreiteiro da OAS? Há um impedimento moral, pois esse tipo
de pedido abre brecha para situações altamente indesejadas, mas qual é o crime?
Léo Pinheiro conta que a empresa de impermeabilização que indicou para o
serviço é de Brasília e diz mais: que a correção da tal impermeabilização foi
integralmente custeada pelo ministro Toffoli. Então, onde está o crime? A
questão é que ninguém se propõe a fazer uma delação para contar frivolidades.
Portanto, se Léo Pinheiro, depois de meses e meses de negociação, propôs um
anexo em que menciona uma obra na casa do ministro Toffoli, isso é um sinal de
que algo subterrâneo está para vir à luz no momento em que a delação for homologada
e os detalhes começarem a aparecer.
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