Em negociação de delação
premiada, Léo Pinheiro revela que, a pedido do ex-presidente, contratou a
empresa do então marido de Rose, a ex-secretária do petista acusada de tráfico
de influência. Objetivo era o de silenciá-la. ISTOÉ teve acesso à prova que estabelece
o elo entre a New Talent e a empreiteira
Por Pedro
Marcondes de Moura, Sergio Pardellas,
12/08/2016 www.istoé.com.br
HOMEM BOMBA
Ex-presidente da OAS e amigo de Lula, Léo Pinheiro dará detalhes à Justiça
sobre a operacão montada para comprar o silêncio de Rosemary (Crédito: RAFAEL
ARBEX/AE)
SOB SUSPEITA O escritório da New Talent, destino de
recursos pagos pela OAS para Rose, fica neste prédio simples na zona sul de São
Paulo (Crédito:Reprodução)
Um dos capítulos do acordo de delação premiada que
o ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, vem negociando com a Lava Jato trata
especificamente dos favores prestados pela empreiteira a Lula. É nele que
Pinheiro vai relatar aos procuradores como foi montada e executada uma operacão
destinada a comprar o silêncio de Rosemary Noronha, a protegida do
ex-presidente petista. Detalhará como a empreiteira envolvida no Petrolão a
socorreu após ela ser demitida do gabinete da Presidência em São Paulo, em
dezembro de 2012, e ter se tornado alvo da Polícia Federal na Operação Porto
Seguro pelo envolvimento com uma organização criminosa que fazia tráfico de
influência em órgãos públicos. Conforme Léo Pinheiro já adiantou aos
integrantes da Lava Jato, uma das maneiras encontradas pela OAS para ajudá-la
foi contratar a New Talent Construtora, empresa do então cônjuge de Rose, João
Vasconcelos. A contratação, disse Pinheiro, atendeu a um pedido expresso de
Lula. Documentos em poder da força-tarefa da Lava Jato e de integrantes do
Ministério Público de São Paulo, aos quais ISTOÉ teve acesso, confirmam que a
New Talent trabalhou para a OAS.
Mensagens trocadas por executivos da OAS no fim de
2014 interceptadas pela Polícia Federal na Operação Lava Jato mostram a pressa
dos dirigentes da empreiteira em “resolver o problema de João Vasconcelos e
Rose.” Nas conversas, em que chegaram até a mencionar os telefones da protegida
de Lula e do ex-marido dela, os executivos narram a pressão do “amigo”,
possivelmente o ex-presidente Lula, para que fosse encontrada logo uma solução.
Pudera. Fora do cargo, respondendo criminalmente na Justiça e sem o prestígio
de outrora, Rosemary Noronha fazia chegar à cúpula do partido que se sentia
abandonada. Não escondia o descontentamento com integrantes da gestão Dilma.
Acreditava que o Palácio do Planalto nada fez para protegê-la da Operação Porto
Seguro. Rose atemorizava os petistas com uma possível delação. Os petistas
temiam que ela contasse o que testemunhou graças à proximidade de décadas com o
ex-presidente Lula. Os dois se conhecem desde 1988. Na época, ela trabalhava na
agência em São Bernardo do Campo onde o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC
possuía conta. Pouco depois, passou a gerenciar as contas do próprio Lula e
recebeu um convite para secretariá-lo no escritório do PT em São Paulo. Ficou
doze anos no cargo. Nos bastidores do partido, comentava-se que uma opinião
dela poderia viabilizar ou encerrar de vez as chances de alguém se reunir com o
futuro presidente. Quando o PT chegou ao Palácio do Planalto em 2003, Rose logo
recebeu um cargo. Foi designada assessora do gabinete do executivo federal em
São Paulo e, depois, chefe do escritório da presidência da República na capital
paulista. Não raro, ausentava-se da cidade para acompanhar as comitivas do
petista em eventos e viagens ao exterior. Seu poder era tanto que poucas
pessoas arriscavam se indispor com Rosemary. Mesmo com a posse de Dilma, Rose
se manteve no posto na cota de Lula.
Com a delação da OAS em mãos, não será difícil para
as autoridades comprovarem como foi, de fato, colocado em prática o plano para
comprar o silêncio de Rosemary Noronha via a contratação da empresa do seu
ex-marido. A primeira prova que estabelece o elo entre a New Talent e a OAS já
foi fornecida aos promotores paulistas e procuradores do Petrolão. Diz respeito
à recuperação judicial da própria empreiteira. Denunciada na Lava Jato, a OAS
viu os seus caixas secarem com o cancelamento de contratos e o atraso de
pagamentos de obras suspeitas de superfaturamento. Precisou ingressar com um
pedido na Justiça para ganhar tempo para pagar bancos e fornecedores. É
justamente no edital em que constam as empresas que dizem ter créditos a
receber da OAS que a empresa do ex-marido de Rosemary figura. Não se sabe
quanto João Vasconcelos recebeu da empreiteira no total, mas a New
Talent Construtora reclama R$ 15,4 mil que teriam ficado pendentes.
O AMIGÃO OAS reformou o triplex de Lula e o
ajudou com Rosemary, que ganhou apartamento da Bancoop (Crédito: DENISE
ANDRADE/Estdão Conteúdo; WERTHER SANTANA/ESTADÃO)
Os procuradores federais e os promotores paulistas
tiveram mais surpresas ao esquadrinharem a empresa. Apesar de se dizer uma
companhia de engenharia de “construção de edifícios” na Junta Comercial do
Estado de São Paulo (Jucesp), a New Talent sequer possui um veículo. Sua sede
fica em uma pequena sala de um prédio simples de quatro andares em cima de uma
farmácia na zona sul da capital paulista. Possui capital social de R$ 120 mil,
valor irrisório se comparado ao de outras firmas do mesmo ramo. No papel, a New
Talent tem outras duas pessoas como donas. A primeira é o genro de Rose, Carlo
Alexandro Damasco Torres. A segunda, Noemia de Oliveira Vasconcelos é mãe do
ex-marido de Rose. Em comum, os dois sócios possuem patrimônios incompatíveis
com um negócio deste porte. Segundo as autoridades, a empresa pertence a João
Vasconcelos, o ex-cônjuge de Rose. Em contratos da companhia, é ele quem
aparece como o responsável.
Na ficha da New Talent na Jucesp consta ainda um
pedido de bloqueio de bens de outubro de 2015 de mais de R$ 2 milhões. Trata-se
de uma decisão tomada pela Justiça Federal com base nas acusações de
improbidade administrativa contra Rose, o ex-marido João Vasconcelos, a New
Talent e outros investigados na Operação Porto Seguro por integrarem uma rede
de tráfico de influência no setor público.
DENÚNCIA Na edição que circulou sábado 6,
ISTOÉ mostrou outros favorecimentos à Rosemary (Crédito: Reprodução)
UM PRESENTE MILIONÁRIO
As ajudas recebidas por Rosemary Noronha foram além
do contrato firmado pela OAS com a New Talent a pedido de Lula. Como ISTOÉ
mostrou com exclusividade na sua última edição, a amiga do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva teria recebido um dúplex no Condomínio Residencial Ilhas
D’ Itália, com cerca de 150 metros quadrados e piscina interna, localizado em
uma área valorizada da capital paulista. Documentos e depoimentos colhidos por
integrantes do Ministério Público de São Paulo que conduzem a operação Alcatéia,
uma nova fase da investigação do triplex ocultado pela família Lula no Guarujá,
mostram que há fortes indícios de que Rose recebeu o apartamento sem pagar nada
pelo bem. O empreendimento foi iniciado pela falida Cooperativa Habitacional
dos Bancários (Bancoop), que lesou sete mil famílias, e finalizado pela OAS.
Rose faria parte de um grupo de pessoas ligadas a Lula, à cúpula do PT e à
Central Única dos Trabalhadores que teria se beneficiado de fraudes na
cooperativa e das transferências de empreendimentos inacabados para a OAS.
Em nota enviada à ISTOÉ na última semana, Rosemary
Noronha afirmou que não recebeu “nenhum apartamento” e que forneceu
“documentação que comprova a quitação do apartamento que” adquiriu. A questão,
para o Ministério Público de São Paulo, é que Rosemary enviou apenas os
comprovantes de pagamento de um outro imóvel, localizado no Condomínio Torres
da Mooca. Não mandou aos promotores nenhum documento ou explicação do dúplex de
150 metros quadrados, que está em nome de sua filha Mirelle. Às autoridades, a
própria Mirelle disse que quem obteve o dúplex foi sua mãe. Em janeiro de 2014,
Rose teria repassado o imóvel para a filha, que também não conseguiu comprovar
o pagamento.
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