E não pensem os “jovens turcos”
do MP que os que foram às ruas cobrar moralidade na política daremos carta
branca para novos demiurgos
Por Reinaldo
Azevedo, 25/08/2016,
www.veja.com.br
Léo Pinheiro, o ex-chefão da OAS,
prestou depoimento ontem ao juiz Sergio Moro sobre aquele caso envolvendo o
ex-senador Gim Argello, que teria feito parte de um grupo que passou a cobrar
propina para a CPMI da Petrobras não convocar os empreiteiros.
E o que fez Léo? Ora, o que qualquer um
faria no lugar dele, depois da decisão tomada pelo bravo procurador-geral da
República, Rodrigo Janot: ficou calado.
Tudo há seu tempo. Mas posso assegurar
que pelo menos um ex-capa-preta da Câmara está acendendo velas a seu
capeta-da-guarda - já que anjos não se metem com essa gente. Há uma boa possibilidade
de sair ileso.
Eis aí: essa já é a primeira conseqüência
de Janot ter decretado o fim da delação premiada de Léo Pinheiro, transformando
o empresário no bode expiatório de um Ministério Público que fugiu do controle.
De qual controle? Do controle das regras e fundamentos da democracia.
É realmente impressionante que
associações de procuradores e ao menos uma de juízes endossem a ação de Janot,
falando em nome do combate à impunidade.
Em vez de botar ordem na casa, o
procurador-geral da República alimenta hipóteses conspiratórias completamente
destrambelhadas, como se alguém estivesse interessado em pôr fim à
investigação.
O homem decreta que as informações de
um dos principais empreiteiros do esquema não mais interessam. Mas seus
críticos é que estariam conspirando contra a Lava Jato.
Vamos ser claros? A freqüência com que
membros do MP apareciam fazendo política, em vez de se dedicar à investigação,
já indicava que algo estava fora do lugar.
Fico à vontade para falar porque
critiquei comportamentos destrambelhados quando o PT ainda estava no poder.
Então não venham os tontos dizer que só me ocupo disso agora porque, afinal, os
petralhas já caíram. Não tenho inimigos de estimação. Sou amigo é dos
procedimentos do estado de direito.
De resto, quem, pelo visto, quer pôr um
ponto final à apuração é Rodrigo Janot, certo? Eu estou aqui cobrando a delação
de Léo Pinheiro.
Mas, pelo visto, o procurador-geral e o
MP como um todo estão realmente convencidos de que já não precisam dar
satisfações a ninguém. Basta-lhes tomar decisões e dizer que assim são as
coisas.
Imaginem se, diante da constatação de
que Júlio Camargo mentia, o Sr. Janot tivesse resolvido mandar para o
triturador de papéis a sua delação… Eduardo Cunha estaria hoje numa situação
muito melhor.
Mas quê! Na delação em si, Camargo
mentiu e disse que nunca tinha pagado propina a Cunha. Resolveu falar a verdade
num depoimento a Sergio Moro, na primeira instância, o que, do ponto de vista
técnico, já é uma aberração.
Não sofreu punição nenhuma. Afinal, a
Janot interessava quebrar as pernas do deputado, cujo processo andou bem mais
rápido do que o de outros políticos. Ou não andou? E isso não quer dizer que o
dito-cujo não mereça punição severa!
Janot tem de voltar atrás na sua
decisão. Não é o dono da investigação. Ou tem de se explicar. Também não é dono
da história.
Hoje, quem assa a pizza é ele. Não
adianta estufar o peito e fazer ar altivo. Tem de prestar contas de seus atos,
sim!
E não pensem os “jovens turcos” do MP
que os que fomos às ruas cobrar moralidade na política daremos carta branca
para novos demiurgos.
O que fizemos foi mandar pra casa os
demiurgos, doutores! Voltem já para as leis e para a Constituição!
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