Segundo informa a Folha,
delatores da Odebrecht estariam dispostos a denunciar R$ 23 milhões de caixa
dois para a campanha de Serra em 2014; reportagens da VEJA dizem que delatores
da empreiteira denunciarão R$ 10 milhões em dinheiro vivo para o PMDB e que
João Santana e Mônica Moura põem fim às desculpas da presidente afastada
Por Reinaldo
Azevedo, 07/08/2016,
www.veja.com.br
As placas tectônicas da política
brasileira não vão parar tão cedo de se mover. Tratarei desse tema específico
em outro post. Agora vamos ao terremoto deste fim de semana.
Manchete da Folha deste domingo
informa que diretores da Odebrecht afirmaram, nas negociações para o acordo de
delação premiada, que a campanha de José Serra (PSDB) à Presidência em 2010
recebeu R$ 23 milhões da empreiteira pelo caixa dois — parte do dinheiro teria
sido depositada no exterior. Funcionários da companhia, segundo o jornal, devem
relatar que, entre 2007 e 2010, intermediários do então governador teriam
recebido propina derivada das obras do Rodoanel.
Em resposta enviada ao jornal, a
assessoria do agora ministro das Relações Exteriores nega pagamentos
irregulares e diz que os gastos de campanha eram de responsabilidade do
partido. A mensagem qualifica de absurda a acusação do pagamento de propina e
diz que, quando Serra chegou ao governo, o contrato com a empreiteira para a
construção do Rodoanel já estava em vigência.
PMDB
Não é só. Reportagem da revista VEJA
informa que diretores da mesma Odebrecht estariam dispostos a apresentar à
força-tarefa documentos que comprovariam que a empreiteira entregou R$ 10
milhões em dinheiro vivo ao PMDB para a campanha de 2014.
O dinheiro teria sido pedido a Marcelo
Odebrecht, então ainda na presidência do grupo, em jantar no Palácio do Jaburu,
na presença de Michel Temer, vice-presidente então, e Eliseu Padilha, hoje
ministro da Casa Civil. Um total de R$ 4 milhões teria sido repassado entre
agosto e setembro de 2014; os outros R$ 6 milhões teriam chegado à legenda via
Paulo Skaf. O site do TSE aponta que a Odebrecht doou ao PMDB R$ 11,3 milhões.
Dilma
Tudo isso, então, joga água no moinho
de Dilma e do PT? Não parece. Outra reportagem da VEJA, intitulada, não por
acaso, “A destruição de Dilma”, informa que João Santana e sua mulher, Mônica
Moura, disseram à força-tarefa que a petista sempre soube do caixa dois. Mais
do que isso: teria sido uma espécie de sua garantidora.
Em 2014, informa a revista, convidado
pela então presidente a fazer a segunda campanha, Santana teria resistido,
alegando justamente dificuldades de pagamento. Dilma teria garantido que
dinheiro não seria problema e que ninguém menos do que Guido Mantega, então
ministro da Fazenda, cuidaria da estrutura do caixa dois — em companhia de
Antonio Palocci.
Segundo informa a revista, tal
“tecnologia” teria sido exportada para a campanha de outros países. Da delação
do casal, deve fazer parte a acusação de que a campanha de Nicolás Maduro, na
Venezuela, também contou com caixa dois, alimentado pela Odebrecht e pela
Andrade Gutierrez.
Vamos ver
Todas essas informações constariam ou
de delações que já podem estar concluídas, ainda que não homologadas — como no
caso de João Santana e Mônica Moura —, ou de delações ainda por fazer, a
exemplo das dos diretores da Odebrecht. Obviamente, não basta a acusação. É
preciso que se apresente alguma prova.
Mais: os pagamentos de propina, na sua
forma clássica, deixam cicatrizes — por exemplo, contas no exterior recheadas
com muitos milhões de dólares. A propina vertida na forma de doação oficial já
é um capítulo bem mais delicado. É claro que se abrem flancos para duas coisas:
1) para o beneficiário dizer que não sabia que o dinheiro estava ancorado, sei
lá, num superfaturamento; 2) para uma denúncia vazia, aí do eventual interesse
do denunciante.
Seja como for, a política segue
mergulhada no transe. O impeachment de Dilma no fim deste mês encerra um
capítulo, mas a obra é longa e segue aberta, sendo escrita por narradores que
também não sabem aonde querem chegar. Uma resposta errada, agora, pode nos
jogar numa espiral negativa que, depois do roubo generalizado aos cofres
públicos, vai nos roubar também o futuro.
É desse assunto que tratarei no post
“TRANSE 2”.
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