O país nunca esteve tão poroso às
respostas simples e erradas para problemas difíceis; é preciso ter um edifício
institucional imune a movimentos sísmicos
Por Reinaldo
Azevedo 07/08/2016,
www.veja.com.br
Na reta final do impeachment - e poucos
duvidam que Dilma Rousseff será defenestrada, tudo está certo e nada no lugar.
Como diria Camões, a firmeza está apenas na inconstância. Se for assim, acho
que é chegada à hora de o país pensar em construir um edifício institucional
com molas, que acomode movimentos sísmicos, que não vão parar tão cedo.
O movimento das placas tectônicas vai
durar ainda muito tempo. Temos tarefas: é preciso alimentar os brasileiros,
dar-lhes empregos, chances de futuro, educação, saúde… Ninguém investe dinheiro
na instabilidade, a não ser os especuladores. É por isso que é preciso tornar
estável o movimento — para que as surpresas, por contraditório que isto possa
parecer, obedeçam a um padrão.
Já afirmei isto aqui no blog e em todos
os veículos em que atuo: tudo indica que as delações da Odebrecht e da OAS —
sempre a depender de provas — vão determinar os sobreviventes da política
brasileira. Neste fim de semana, nuvens se adensaram sobre o céu do PMDB e do
PSDB. Os petistas, como sabemos, já estão destroçados. E não! Ainda não sabemos
o que é verdade, o que é mentira, o que é simples especulação. Mas isso não
elimina o principal problema no curto prazo: a imprevisibilidade.
A chance de se ministrar um remédio
errado a partir de um diagnóstico equivocado é gigantesca. Se já não vamos,
como país, muito bem das pernas, a possibilidade de que tudo possa ficar pior
nunca foi tão clara.
Não vou escrever aqui nenhuma novidade:
não combato, na atual quadra da política, apenas o caixa dois e a roubalheira.
São crimes! Seus responsáveis têm de ser punidos. Mas a narrativa de que o mal
é esse é coisa de petistas; obedece ao padrão Lula: “Todos fizeram e fazem; nós
também. Logo, se todos pecam, todos estão absolvidos”.
Uma ova! No poder, o PT foi mais do que
um usuário de caixa dois — para efeitos de raciocínio, vamos supor que todos
sejam — ou um ladrão de dinheiro público: também nesse caso, vamos partir do
princípio de que essa é a regra. Os petistas também foram ladrões da
institucionalidade. Atuaram para destruir os outros partidos políticos; para
fazer uma reforma que os eternizasse no poder; para censurar a imprensa; para
se estabelecer, em suma, como única força política viável.
Para realizar o seu projeto, os
petistas hipertrofiaram o estado; conduziram a economia à ruína — é a maior
recessão de sua história —; hostilizaram o capital privado virtuoso,
tornando-se, na prática, sócios de empresários eleitos; atrelaram as eleições à
distribuição de benesses, transformando políticas sociais em máquina de caçar
votos; jogaram abertamente em parceria com a inflação e destruíram as contas
públicas.
ATENÇÃO! ISSO EM
NADA MINIMIZA OS CRIMES EVENTUALMENTE COMETIDOS POR OUTROS PARTIDOS E POR
POLÍTICOS DE OUTRAS LEGENDAS. MAS NÃO VOU CAIR NA FARSA PETISTA DE QUE É TUDO A
MESMA COISA.
Que os peemedebistas, tucanos e outros
tantos, a exemplo de petistas, paguem por eventuais transgressões à lei. Mas
rejeito com veemência o “são todos iguais”. Se, a alguns, não faz diferença que
o PMDB tenha tirado como resolução de seu congresso a liberdade de imprensa, a
mim faz. Se a alguns não faz diferença que o PSDB não exercite, por princípio,
a política da intolerância e não tenha um projeto hegemônico que aniquila as
outras forças, a mim faz.
Sim, que todos paguem. Mas eu me nego a
considerar que todos são iguais. Além das questões penais, que podem e devem
ser levadas às últimas conseqüências, há as questões que dizem respeito à
política e que continuam a ter seu espaço autônomo.
Resposta
Dito isso, vamos a uma resposta que
considero necessária. A primeira tentação, agora, será gritar: “Eleições já!”.
Pois é. Eis à hora pela qual anseiam os “puros” da extrema esquerda e da
extrema direita, aqueles que “não têm nada a ver com isso o que está aí”.
Digamos que não tivessem: eles têm uma resposta para os desafios que estão
dados?
Fico cá pensando nas lições de educação
moral e cívica que os “limpinhos” como Marcelo Freixo, Luíza Erundina,
Bolsonaro ou, quem sabe, Marina Silva (será mesmo?) têm a dar ao Brasil. No
caso da Rede, vejo o seu senador empenhado, por exemplo, em votar contra o
impeachment de Dilma…
Penso, em particular, na resposta das
esquerdas que se querem autênticas: elas têm uma solução para a crise: aumentar
o poder do estado, o que é sinônimo de ampliar o campo de atuação dos
corruptos.
Parlamentarismo
já
Precisamos de um sistema que absorva as
crises, que balance, mas não caia. Os grandes partidos deveriam dar início
agora, e não depois, a um entendimento que preserve algumas instâncias do
estado — Banco Central e Receita, por exemplo — dos movimentos sísmicos da
política para que esta, na crosta, possa chacoalhar à vontade.
Eu não me importo de acordar e ter de
perguntar: “Quem é o primeiro-ministro hoje?”, desde que as regras que
organizam a economia, por exemplo, sejam estáveis.
É preciso pôr fim ao presidencialismo
já, com vistas a 2018. Não podemos é deixar a política exposta à ação de
milagreiros. É claro que as esquerdas vão chiar e tentar impedir. E cumpre que
a gente as impeça de nos roubar o futuro.
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