Por Augusto Nunes, 14/08/2015,
www.veja.com.br
Valentina de
Botas
É normal passear aos domingos, como neste 16 de
agosto, um domingo como outro qualquer e isso o torna especialíssimo: é coisa
corriqueira cidadãos de um país que buscam a trilha da civilização marcharem
contra um governo ladrão e inepto, anormal é não fazê-lo; e é especial porque
levou 13 anos para raiar. Somos corriqueiros, portanto reconhecemos quando o
destino salpica coisas especiais no nosso cotidiano acostumado a si mesmo.
Então, tudo se perfuma, não é mesmo? São ridículos
os atos grandiloqüentes, cansativas as falas retumbantes. Há virtude e nobreza
em viver na trivialidade. Sonhamos; nascemos; temos na ponta da língua,
sem conseguir lembrar, o nome daquele filme com aquele ator que teve um caso
com aquela atriz que era a preferida daquele diretor. Que mais? Desperdiçamos
nosso tempo e o alheio; perdemos a hora.
Coisas básicas, comezinhas, emprestando algum
sentido à realidade que quase sempre se vira sem ele. Dilma Rousseff,
continuadora do regime que torna o assalto ao Estado uma normalidade com a qual
o brasileiro vinha se ajeitando e dando graças Deus; a presidente que verga,
mas não quebra porque lhe foi mais lucrativo quebrar a Petrobras; e que,
vestindo a legitimidade do cargo como uma roupa que não lhe serve mais, janta
com autoridades dos três poderes rebaixadas no festim escarnecedor para
deglutir a institucionalização do país.
A incompetência e a arrogância convictas mantêm
Dilma alheia ao agravamento da crise econômica e em confronto com a maioria da
população. Assim, o presidente da CUT, nutrida por uma grana da qual está
dispensada de prestar contas recolhida até de quem não é sindicalizado, anuncia
a luta armada para defender a mamata concedida na república de pixulecos. A grandiloqüência
da patifaria no Palácio da Alvorada, patrimônio de todos nós que pagamos tudo,
ofensiva à democracia verdadeira, louva a democracia fictícia dos vigaristas em
mais um ato de escárnio com as instituições e a nação.
Com que armas o sindicalista paramilitar lutará?
Compradas onde e de quem? Vai atirar em gente desarmada? Os que marcharemos no
domingo não têm sequer as oposições, armados que estamos apenas com a lei e
nossa indignação. A presidente encontra-se sitiada pela lei, da eleitoral ao
código penal, e não pela “turma do Leblon” ou “dos Jardins”, ao contrário do
que vociferou o líder do MTST que fura a fila das moradias populares. Cerzindo
a continuidade do mandato com apoios comprados e arrendados, nessa hybris sem
volta, Dilma Rousseff insiste em ignorar os anseios por normalidade da
população.
Claro, dia 17 seremos ainda um país onde apenas metade
das residências tem rede de esgoto, com uma educação desoladora, com uma
canalha política gozando a vida, enfim, ainda um país sob a vigência de mazelas
curáveis se aplicado o tratamento correto, mas a passividade diante da anomalia
chamada PT, o fenômeno mais sórdido da história da república, é vulnerabilidade
que agrava todas as outras. Dia 16 só será especial se os indignados marcharmos
pela normalidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário