Se, no entanto, adversários são vítimas de injustiças, aplaudem os
malfeitos, quando não os promovem
Por Reinaldo Azevedo, 30/10/2015,
www.veja.com.br
Um dos aspectos do petismo que mais me
causam asco é que os companheiros só se lembram de defender fundamentos do
Estado de Direito quando se trata de beneficiá-los. Se for para prejudicá-los,
nunca! Se ilegalidades atingem seus adversários, eles as aplaudem, quando não
as promovem. São hipócritas, autoritários e institucionalmente trapaceiros.
Por que digo isso? Vejam o caso da
intimação de Luís (começarei a grafar com “s”) Cláudio, filho de Lula, para
depor num dos inquéritos da Operação Zelotes. Foi feita às 23h de terça-feira,
quando ele voltava da festa de aniversário de pai. É estranho? É. Foi realizada
fora de hora? Foi. É preciso explicar? É. Eis, então, o problema.
Quantas vezes o senhor José Eduardo
Cardozo, ministro da Justiça, cobrou a Polícia Federal sobre procedimentos
heterodoxos? Será que adversários do governo nunca foram alvos de exageros, de
ações espalhafatosas, de certa atração pelos holofotes? Ora, consultem o
arquivo do meu blog para ver. E, no entanto, qual era a resposta a
procedimentos assim, especialmente no primeiro mandato de Lula? “Ah, esse é um
governo que não poupa os ricos…”
Eu, Reinaldo Azevedo, reclamei aqui de
ações da Polícia Federal que surpreendiam as pessoas de manhã, ainda de pijama
ou camisola, com homens armados até os dentes e as indefectíveis algemas, mesmo
não havendo a menor chance de a pessoa fugir ou agredir um agente do estado.
Pior: com câmeras de televisão e holofotes na cara. E sabem o que aconteceu?
Tomei porrada. Eu estaria contra a severidade investigativa…
Ah, mas agora é o filho de Lula! Agora
é o filho do Babalorixá de Banânia! Eu não acho que se a Polícia Federal ou
qualquer ente do Estado devam ser livres para agir como lhes der na veneta,
seja com Fábio Luís, seja com o Zé da Esquina, seja com um bilionário. Eles têm
de se comportar dentro da lei. Mas é isso o que Lula e o PT estão pedindo?
Não! Eles não estão apenas indignados
com a intimação fora de hora. Isso é só um pretexto. Eles não se conformam é
com o fato de o rapaz ser um dos investigados; eles não se conformam é que os
valores republicanos valham também para os aristocratas do clã Lula da Silva;
eles não se conformam é com o fato de que todos possam ser iguais perante a
lei.
Eu defendo o que defendo pouco me
importando quem esteja no poder ou quem seja o alvo do estado. Se esperam que
eu vá aplaudir o que me parece uma ação óbvia de constrangimento, podem
esquecer, não vou. Se acham que apoiaria qualquer ilegalidade só porque atinge
gente que acho que tem de estar fora do poder — e, a depender do caso, na
cadeia —, também podem tirar o cavalo da chuva.
Ao contrário: eu quero justamente é a
igualdade. Por isso mesmo, se a Polícia Federal, durante as investigações,
chegou a operações no mínimo heterodoxas envolvendo um dos filhos de Lula, o
que se há de fazer? Investigar, ora essa! Mas não! O PT logo denuncia uma
conspiração porque, no fundo, o que quer é impunidade. E acaba vendo diminuída
a legitimidade de sua reclamação quando esta, num primeiro momento ao menos,
parece justa.
Ah, sim: também vi alguns coleguinhas
que andavam se divertindo com certa irascibilidade das forças policiais ficar
de coraçãozinho mole, agora que o alvo é o filho de Lula. Indignação seletiva
não é indignação, é canalhice moral.
A Polícia Federal tem de explicar
apenas por que foi à casa de Luís Cláudio às 23h, já que o rapaz não está
abaixo da lei. E o PT e Lula têm de explicar por que acreditam que ele está
acima da lei.
Nenhum comentário:
Postar um comentário