Em um ambiente de depressão econômica e corrupção generalizada, o
Congresso Nacional vai decidir se afasta Dilma Rousseff da Presidência por
crime de responsabilidade
Por Daniel Pereira, 04/12/2015,
www.veja.com.br
Dilma Rousseff: a presidente agora tem pressa
O Brasil passará a conviver com a
sobreposição de cenários ainda mais complexos. Na economia, estão dadas as
condições para o que pode ser a crise mais profunda de todos os tempos. A
inflação e o desemprego sobem rapidamente. Na defensiva, as indústrias se
recolhem ao mínimo de atividade produtiva. O comércio prevê o pior Natal em
décadas. As lideranças políticas, que deveriam se empenhar em apontar a porta
de saída dessa espiral destrutiva, parecem ocupadas demais tentando salvar a si
mesmas das investigações de corrupção que envolve mais de meia centena de
autoridades - entre elas o presidente da Câmara, o presidente do Senado,
assessores e ex-assessores da presidente da República. Como se não bastasse
isso, o que já está ruim tende a piorar com a discussão sobre o impedimento da
presidente Dilma Rousseff. A partir desta semana, quando será instalada a
comissão do impeachment, o país enfrentará momentos de extrema tensão,
conflitos de interesses, debates acalorados e tentativas de manipulação. É
desse substrato típico das democracias que, espera-se, surgirá à força capaz de
fazer o Brasil voltar a respirar.
Pela Constituição, cabe ao
comandante da Câmara dos Deputados aceitar ou negar os pedidos de impedimento
apresentados contra o presidente da República. O deputado Eduardo Cunha deu
seguimento na semana passada ao recurso formulado pelo jurista Hélio Bicudo,
pelo ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior e pela advogada Janaina
Paschoal. Eles alegam que Dilma cometeu crime de responsabilidade ao praticar
as chamadas pedaladas fiscais e gastar recursos sem a devida autorização prévia
do Congresso. Caberá aos deputados corroborar tais alegações, o que levará à
abertura de processo de impeachment contra a petista, ou rechaçá-las, o que
resultará no arquivamento do caso. Em tese, será discutida uma questão
meramente técnica. Na prática, o impeachment é um processo essencialmente
político, que refletirá as convicções de cada parlamentar. Ao fim e ao cabo,
são eles que decidirão se Dilma ainda tem condições e autoridade para continuar
à frente do cargo para o qual foi eleita com 54 milhões de votos.
Um exemplo do que está por vir no
terreno das manipulações pôde ser visto logo nos primeiros minutos após Eduardo
Cunha anunciar a admissão do processo de impeachment. O deputado foi chamado de
corrupto e chantagista e acusado de agir motivado pelo nada nobre instinto de
vingança. Esses argumentos encontram amplo respaldo nos fatos, mas são usados
de maneira ardilosa para tentar confundir os brasileiros. Dilma e Cunha são
adversários figadais. A presidente disse que não era ladra, numa referência
indireta ao fato de o deputado ter sido acusado de embolsar propinas do
petrolão. Cunha reagiu, chamando a petista de "mentirosa" por ter
declarado que jamais ofereceu a ele um acordo de proteção mútua. Em linha com a
cartilha dos marqueteiros oficiais, a presidente quer restringir o caso a um
duelo de biografias da santa da moralidade com o tinhoso do fisiologismo. O
fogo cruzado entre os dois, que dominou a agenda política nos últimos meses,
agora é absolutamente secundário. A decisão sobre o futuro da presidente não
cabe mais a Eduardo Cunha nem a negociatas de caráter pessoal. A presidente
sabe disso e quer que o Congresso analise o seu impedimento o mais rapidamente
possível. Os agentes econômicos concordam com esse sentido de urgência. O
simples início da tramitação do caso fez a cotação do dólar cair e a Bolsa
subir, puxada pela valorização das ações de empresas controladas pelo governo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário