Por Augusto Nunes, 31/08/2015, www.veja.com.br
Editorial
do Estadão:
É da natureza do populismo partir do princípio de que
o povo é ignorante e acrítico, incapaz de discernir o falso do verdadeiro em
matéria de política. O populismo prospera onde a ignorância impera.
Os populistas, portanto, cultivam a ignorância. Um de seus truques é repetir
mentiras incansavelmente até que sejam aceitas como verdades. É o que estão
fazendo Lula, Dilma e o PT, no desespero de sobreviverem no fundo do poço em
que foram colocados pelo descrédito popular. Para eles, tudo o que não convém
ao populismo petista é “golpe”. Principalmente fazer oposição ao governo.
Diante de uma platéia de mais de 2 mil pessoas em
Montes Claros, Minas Gerais, Luiz Inácio Lula da Silva não fez cerimônia: “Eu
gostaria que todos aqueles que todo santo dia inventa um golpe para tirar Dilma
aprendessem a respeitar a democracia (…). Se eles querem o poder, que esperem
2018. Mas não venham com golpe”. A presidente Dilma foi mais sutil – imaginem
só – falando a atletas em solenidade no Palácio do Planalto: “É possível sofrer
derrotas, dificuldades no caminho, mas todo atleta levanta e segue em frente.
Muitas vezes não ganha na primeira, na segunda ou na terceira. E segue lutando
para ganhar. E respeita o resultado do outro atleta, que é o vencedor”. Por sua
vez, o presidente do PT, Rui Falcão, em reunião com lideranças petistas em São
Paulo, queixou-se de que a oposição tenta “enfraquecer a presidente”. Esperava
o quê?
A regra de ouro que o lulopetismo quer ver aplicada
– aos outros, é claro – é a seguinte: quem perde uma eleição, como aconteceu
com Aécio Neves e Marina Silva em outubro do ano passado, tem de se recolher à
condição de derrotado e “respeitar a democracia”. Qualquer iniciativa para
“enfraquecer a presidente” é tentativa de promover “terceiro turno”. Exigir que
eventuais ilicitudes cometidas na campanha presidencial de Dilma sejam
investigadas é “golpe”. Falar em impeachment da chefe do governo – recurso
constitucional que o PT defendeu contra seu hoje aliado Fernando Collor – é
“atentado à democracia”. Em resumo: está proibido fazer oposição.
A soberba é desde sempre uma forte característica
do PT. O partido nasceu predestinado a mudar “tudo isso que está aí” e ainda
hoje muitos petistas se consideram ungidos para essa missão divina. Como
autoproclamados salvadores da pátria, sempre olharam os não petistas com enorme
desdém. Dividiram o País entre “nós” e “eles” e decidiram que na luta sem
tréguas contra a perversa “elite” não existem adversários, mas inimigos.
Finalmente descobriram que, quando não se consegue derrotar o inimigo, a
solução é aliar-se a ele. Assim, aqueles que eram antes os mais legítimos
representantes da perversa “elite”, os grandes banqueiros e homens de negócio,
passaram a ser cortejados para que apoiassem o PT, dando a seu governo “estabilidade
política” e “equilíbrio institucional”.
A partir do momento em que chegaram ao poder, os
petistas se deram conta de que seu grande problema passava a ser como nele se
manter. A solução era óbvia: fazer alianças, não importa com quem nem a que
custo. É verdade que nos primeiros anos o panorama social melhorou. E não se
deve desmerecer essa importante conquista. Mas, se nessa questão há mérito,
sobra demérito na igualmente fundamental questão moral. A crônica policial e
forense dos últimos anos demonstra que a corrupção tomou conta da política e da
administração pública em níveis sem precedentes. Como temos repetido neste
espaço, Lula e o PT não inventaram a corrupção, mas tornaram-na prática
generalizada, endêmica. E beneficiaram-se disso, tanto no plano político quanto
no material, como se constata pelo elenco de endinheirados petistas
encarcerados – ou ainda em liberdade.
Sobrou para o PT o discurso – o que não representa
nenhuma dificuldade para políticos que, como Lula, nunca desceram do palanque –
e a esperança de que, por força da repetição, suas patranhas se tornem
verdades. Mas é uma esperança vã. O brasileiro não é idiota. Nem um competente
encantador de multidões como Lula consegue enganar todo mundo, todo o tempo. O
“terceiro turno” das pesquisas de opinião demonstra que o Brasil repudia
categoricamente o populismo lulopetista.
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