Em discurso a petistas, ex-presidente pede apoio à política econômica e
acena a Cunha; documento do partido ataca política econômica e... Cunha!
Por Reinaldo Azevedo, 29/10/2015,
www.veja.com.br
A cara de pau de Lula, todos sabem, é uma coisa
assombrosa, sem par na história da política brasileira. Não é de hoje. É coisa
histórica. Logo no primeiro ano de seu governo, em 2003, confrontado com o fato
de que Antonio Palocci decidira fazer um superávit primário superior ao do
último ano do governo FHC e que o PT dizia que essa história de superávit era
só safadeza pra pagar banqueiro, o Macunaíma bem-sucedido disparou: “A gente,
quando está na oposição, faz muita bravata”. E ponto. E houve quem tivesse
achado aquilo genial. Há quem confunda pragmatismo com descaramento. Adiante.
Lula falou nesta quinta ao PT. Sabem o que ele
disse sobre as escolhas de Dilma? Isto:
“Tivemos um grande problema político, sobretudo na
nossa base, quando tomamos atitude de fazer o ajuste que era necessário fazer.
Ganhamos as eleições com um discurso e, depois, tivemos que mudar o discurso e
fazer o que dizíamos que não íamos fazer. Isso é fato conhecido pela nossa
querida presidente Dilma Rousseff”.
Viram? Lula admite o estelionato. Só haveria uma
possibilidade de essa sua fala não ser moralmente dolosa: Dilma não saber,
durante a campanha, a situação real do país. Bem, na melhor das hipóteses pra
ela, convenham, sabia. Na pior, ela seria inimputável por insanidade mental.
Ah, claro! Ele admitiu que o país está sem governo.
Segundo disse, é preciso logo aprovar as medidas de ajuste fiscal para que
Dilma comece a “governar o Brasil de fato”. É? Então isso que temos aí é o quê?
Ora, é o estelionato!
“O que interessa à oposição é discutir qualquer
assunto, e não discutir o que interessa
que é aprovar; o que a Dilma mandou para o Congresso. Ou alguém acha que outra
coisa é importante? Que é derrubar Eduardo Cunha, discutir impeachment e depois
votar o que a Dilma mandou para o Congresso?”.
Resta evidente que ele deu uma ordem para que os
petistas deixem de lado a pauta “Cunha”. Ele sabe muito bem que, agora, está
apenas nas mãos do presidente da Câmara dar início ou não à tramitação da
denúncia contra a presidente.
Lula, que, até havia outro dia, estava
desestabilizando Joaquim Levy, resolveu defender o ministro da Fazenda,
afirmando que gritam “Fora, Levy”, como já se gritou antes “Fora, Palocci”. E
observou que o ajuste fiscal é condição para o PT recuperar o prestígio. Há
menos de um mês, com as duas bênçãos, a Fundação Perseu Abramo pediu a cabeça
do ministro da Fazenda.
Ah, sim: desse encontro, sairá um documento. Vai
descer o porrete na política econômica conduzida por Levy e em… Eduardo Cunha…
Entenderam?
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