Por Augusto Nunes, 22/12/2015,
www.veja.com.br
Sempre caprichando na pose de quem recitava de fraldas artigos e incisos
da Constituição, o ministro Luís Roberto Barroso resolveu mostrar, na sessão em
que o Supremo Tribunal Federal embaralhou o processo de impeachment, que usa as
horas livres do recesso para decorar normas que regulamentam as atividades dos
demais Poderes. Conseguiu apenas confirmar que, para impedir o desmoronamento
da argumentação mambembe, é capaz de sonegar informações essenciais e mentir
publicamente.
─ Alguém poderia imaginar que o Regimento Interno da Câmara pudesse
prever alguma hipótese de votação secreta legítima ─ concede o doutor em tudo
na abertura do vídeo de 1min57. ─ Eu vou ao Regimento Interno da Câmara
dos Deputados e quando vejo os dispositivos que tratam da formação de
comissões, permanentes ou temporárias, nenhum deles menciona a possibilidade de
votação secreta.
─ Vossa Excelência me permite? ─ ouve-se o cerimonioso aparte de Teori
Zavascki.
─ Pois não ─ autoriza o professor de impeachment.
─ Salvo engano meu, há um dispositivo, sim, do Regimento Interno, artigo
188, inciso III ─ prossegue Teori. ─ Diz que a votação por escrutínio secreto
far-se-á para eleição do presidente e demais membros da Mesa Diretora, do
presidente e vice-presidente de comissões permanentes e temporárias, dos membros
da Câmara que irão compor a comissão representativa…
Teori faz uma pausa para virar a página. Barroso, que acompanha a
leitura que está terminando, tenta interrompê-la:
─ Sim, mas olha aqui…
─ … e dos cidadãos que irão integrar o Conselho… ─ continua
Teori.
As sobrancelhas simetricamente arqueadas e os cílios enfileirados
realçam o sobressalto de Barroso com a aproximação do perigo. Então, confisca a
palavra e recomeça a leitura do inciso III, cuja íntegra aparece na no vídeo do
Portal Vox que escancara a pilantragem togada: para esconder a fraude, o juiz
esperto amputa as quatro palavras finais do texto: E NAS DEMAIS ELEIÇÕES.
Animado com a rendição balbuciada pelo confuso Teori, Barroso declama
outra falácia:
─ Considero, portanto que o voto secreto foi instituído por uma
deliberação unipessoal e discricionária do presidente da Câmara no meio do
jogo.
Conversa fiada. O Brasil decente é que considera uma infâmia o que
Barroso fez para ganhar o jogo. O trecho do Regimento Interno foi guilhotinado
por uma deliberação pessoal e discricionária de um servidor público que é pago
pelo povo para defender a lei. Coisa de
vigarista.
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