Por Augusto Nunes, 13/12/2015,
www.veja.com.br
Texto de Carlos Brickman
A discussão sobre o impeachment, de certa forma, não tem sentido. Ninguém vai derrubar um governo que já está
no chão. A presidente mora no palácio, usa o avião presidencial, tem um bom
cartão corporativo. Mas governar não governa.
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, seu adversário mais visível, é um
morto político adiado, com muito passado e zero de futuro. Está acossado pelo
Ministério Público, preso a explicações em que é difícil acreditar, defendido
por aliados de ocasião, prontos a abandoná-lo; e envergonhados por estar a seu
lado. Pois este deputado encurralou a presidente. Para enfrentá-lo, Dilma
transformou sua Presidência na Geni de Chico Buarque: “pra tudo que é nego
torto, do mangue e do cais do porto”, deu empregos na Esplanada. Tenta garantir
um terço dos deputados para salvar-se do impeachment, pois é, 171. E, cedendo
tudo o que cedeu, nas últimas votações teve só um tiquinho a mais. Não chega a
200 deputados num plenário de 513; perde uma votação atrás da outra; parece
sonada.
No boxe, há derrotas por pontos, há derrotas por nocaute; e há o nocaute
técnico, quando o treinador joga a toalha, considerando que o boxeador está sem
condições de continuar a luta. Dilma está sem condições de continuar a luta. É
surrada impiedosamente por um adversário que se preocupa com ela apenas parte
do tempo, porque a outra parte, muito maior, tem de usar para salvar a própria
pele. Salvar, no caso, não é manter o mandato: é livrar-se do japonês da
Federal.
Para os dilmistas, é hora de jogar a toalha e preservar a pessoa que
defendem.
A onça bebe água
O ex-presidente Lula deve depor nesta quinta-feira, 17, na Polícia
Federal, em Brasília. Objetivo: ouvi-lo sobre a suspeita de compra de medidas
provisórias editadas em seu governo, investigada pela Operação Zelotes. Segundo
o delegado Marlon Oliveira Cajado dos Santos, Lula deverá prestar
esclarecimentos sobre “fatos relacionados ao lobby realizado para a obtenção de
benefícios fiscais para as empresas MMC Automotores, subsidiária da Mitsubishi
no Brasil, e o Grupo CAOA (fabricante de veículos Hyundai e revendedor das
marcas Ford, Hyundai e Subaru), bem como outros eventos relacionados a essas
atividades”.
Prepare-se, caro leitor: se alguém mexe com Lula, o PT se eriça e se
pinta para a guerra.
Na lei ou na marra
Na terça, dia 8, quando ficou claro que o governo seria derrotado no
Congresso, a tropa de choque petista optou pelo confronto físico, tentando
matar a sessão. O sempre atento colunista Ucho Haddad (www.ucho.info), analisando os vídeos, localizou o deputado
federal Zeca do PT, ex-governador de Mato Grosso, gritando com seus
companheiros para que destruíssem as urnas. “Quebrem as máquinas, quebrem as
máquinas!”
Refrescando a memória, foi Zeca do PT que apresentou a Lula o empresário
José Carlos Bumlai, preso na Operação Lava Jato. Só que, com ou sem urna, a
votação ocorre. E Dilma não tem os votos.
Três por um
São incorretas as notícias de que o banco BTG-Pactual, de André Esteves
(preso pela Operação Lava Jato), recebeu R$ 2 bilhões do Fundo Garantidor de
Crédito. O crédito oferecido ao BTG-Pactual é o triplo, de R$ 6 bilhões.
Como lembra o presidente de honra da Federação do Comércio de São Paulo,
José Papa Jr., é o segundo socorro bilionário do Fundo em pouco tempo. O Pan
Americano, banco de Sílvio Santos, estava mal. A Caixa comprou parte do banco
por R$ 700 milhões, o Fundo Garantidor de Crédito entrou com perto de R$ 5
bilhões, e Esteves pôs pouco menos de R$ 500 milhões. Foi o que menos gastou,
mas ficou como controlador, tendo a Caixa como minoritária.
Deve ser, como um certo filho famoso, o Ronaldinho dos Negócios. E tem
quem lhe faça ótimos passes.
A água…
Sabe por que, tantos anos depois da data prevista para a conclusão das
obras, o canal de transposição das águas do São Francisco não ficou pronto? A
resposta deve ser dada pela Operação Vidas Seca que começou na sexta-feira, com
24 mandados de busca e apreensão e quatro prisões em nove estados. As suspeitas
a investigar envolvem o consórcio OAS/Galvão/Barbosa/Melo/Coesa; e há ligações
entre essa investigação, a Vidas Secas, e a Operação Lava Jato.
Numa das secas do Nordeste, o imperador D. Pedro II prometeu vender até
a última jóia da Coroa para levar água à região. O mundo evoluiu muito desde os
tempos do imperador. Hoje as jóias da Coroa não dariam nem para o pixuleco.
…e sangue
Houve época, em São Paulo, em que era perigoso transitar por certas ruas
do centro quando se realizava alguma operação policial: sacos de relógios
contrabandeados choviam nas calçadas, tentativa dos contrabandistas de
livrar-se das provas.
As coisas se sofisticaram: quando a Polícia Federal bateu à porta da
Hemobrás no Recife, sacos de dinheiro voaram pela janela ─ e justo pela janela
da diretoria. A Hemobrás veja só, é uma empresa estatal, do Ministério da
Saúde, cujo trabalho é reduzir a dependência externa do Brasil no setor de
derivados do sangue. E é exatamente lá que há vampiros sugando verbas.
O diretor da
Hemobrás, Rômulo Maciel Filho, foi indicado pelo senador Humberto Costa, do PT.
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