As manobras
de Dilma para angariar apoio não estão dando certo. A reforma ministerial dá frutos
podres
Por
Ruth de Aquino, 09/10/2015,
Não, presidente Dilma
Rousseff. Talvez seja tarde para descobrir o óbvio. Fidelidade se constrói,
respeito se conquista, amor se cultiva. Mesmo num país em que os partidos
políticos se desmoralizam a tal ponto que tudo parece estar à venda no
Congresso – do voto à consciência –, Dilma percebe que é hoje uma mulher traída
e uma líder mal-amada.
Não importa quantos cargos ela
tenha distribuído, quantas concessões tenha feito. Não importa quantos mimos
tenha oferecido a seus concubinos. Eles traem. Conspiram. Querem mais. A
insatisfação costuma conduzir à infidelidade. Se até os partidos comprados
traem Dilma, a rebeldia não se explica apenas pelo vício da prostituição do
poder. Nem os pares de Dilma se afeiçoaram a ela – muitos, se não falam mal
pela frente, o fazem pelas costas.
Toma lá. E não dá cá. De todas
as derrotas sofridas por Dilma nos últimos dias – e não foram poucas –, a falta
de quórum na Câmara para votar seus vetos às pautas-bomba pode ter sido a que
mais a magoou. Um sinal do que vem por aí. Sua maior luta, hoje, é travada nas
duas Casas, e não com juízes, procuradores, jornalistas ou eleitores. “Juntos,
somos imbatíveis”, disse Dilma em Barreiras, na Bahia. Juntos... Com quem,
exatamente? Com senadores e deputados.
As manobras de Dilma para
angariar apoio não estão dando certo. A “reforma ministerial”, de custo moral e
ético muito alto, dá frutos podres. Delcídio do Amaral (PT-MS), líder do governo
no Senado, diz: “Acho que alguma coisa não está funcionando”. Acha mesmo ou tem
certeza? O líder do PR na Câmara, Maurício Lessa, afirma: “O governo não pode
achar que resolve a vida só com o PMDB”. Não mesmo. Há um novo bloco de
partidos revoltados. O “baixo clero” pode ser muito baixo. O que é pior: os
dois maridos oficiais – o PT e o PMDB – não estão unidos em torno da matriarca.
O elemento peemedebista
Eduardo Cunha, presidente da Câmara, cada vez mais afundado em suas contas
movediças, familiares e milionárias em dólares na Suíça, exerce poder
avassalador contra Dilma – mas pode cair antes de qualquer um em Brasília.
Comprovadas as contas secretas e a origem de corrupção, Cunha não poderá
continuar a presidir a Câmara. Simples assim. Não tem moral para falar de
moral. Dilma e Lula sonham em lavar Cunha a jato.
Não sinto pena de Dilma. Ela
fez por merecer o pesadelo atual. Muito pior foi o pesadelo em que ela jogou o
Brasil, ao usar no ano passado R$ 106 bilhões em barbeiragens fiscais para
enganar o eleitor mais crédulo. Criou uma Ilha da Fantasia em que o estudante,
a dona de casa, o trabalhador, o pequeno empresário, o jovem idealista, a
classe média e os mais carentes se inspiraram para reelegê-la.
Dos R$ 106 bilhões, R$ 40
bilhões de bancos públicos foram usados nas pedaladas – o termo usado para
adiar pagamentos e maquiar as contas públicas. Estamos, todos nós, pagando
agora por isso. Nos primeiros oito meses de 2015, como foi publicado no jornal O Globo na sexta-feira, o Tesouro Nacional já repassou a BNDES, Banco do Brasil
e FGTS R$ 14,4 bilhões. Objetivo? Cobrir os gastos com juros subsidiados de
programas federais no ano passado. Esse é o preço, até agora, da operação-bomba
para reeleger Dilma.
Nunca antes na história um
presidente pedalou com um doping dessa magnitude. Nunca antes se usou tamanho
artifício para mascarar uma gestão incompetente e temerária e alimentar o
marketing piegas da mãe do PAC. É uma constatação financeira, técnica, nada
ideológica ou política. Basta examinar os gráficos, ano a ano. São números, não
palavras. Não há subjetividade nem torcida contra.
Quando Dilma vê “luz no fim do
túnel”, é natural. Não tem saída a não ser parecer otimista. Jaques Wagner, o
novo escudeiro imposto por Lula na Casa Civil, é só elogio: “A presidente é uma
guerreira, ela opera muito bem diante da dificuldade... ela entende que (a reprovação das contas pelo
Tribunal de Contas da União) é
uma página virada e que a batalha definitiva será no Congresso”. Leia-se
batalha para continuar a governar. Batalha para não sofrer impeachment. Para
não desmilinguir.
A reprovação das contas de
Dilma pelo TCU já era esperada. Mas não por essa goleada de 8 a zero. Unânime,
inédita, histórica. Dilma se preocupa com o uso que o Congresso fará dessa
derrota. O país tenta olhar o lado bom. O da prestação de contas. Contas
fiscais e morais. Afinal, quem quer fidelidade precisa ser fiel, em primeiro
lugar. Precisa ser responsável. A moeda que conta para nós é esta, a da
responsabilidade com a nação e com os eleitores. Tanto a presidente quanto o
Congresso deveriam saber que não é possível cobrar sacrifício ou fidelidade de
quem se sente espoliado ou traído.
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