Por Augusto Nunes, 05/12/2015,
www.veja.com.br
Texto de J. R. Guzzo publicado na VEJA
O Sr. José Carlos Bumlai deverá ter prioridade de atendimento na portaria
principal do Palácio do Planalto, devendo ser encaminhado ao local de destino,
após prévio contato telefônico, em qualquer tempo e em qualquer circunstância.
Eis aí o que estava escrito numa ordem exibida no saguão de entrada do
Palácio do Planalto durante o governo do ex-presidente Lula, visível para
qualquer pessoa que soubesse ler uma frase em português. Quem poderia querer
mais que isso, em matéria de força junto “ao homem”? Nem o presidente Barack
Obama, ou o papa Francisco, se fosse papa naquela época, podia chegar ao
Planalto e ir entrando assim direto, “em qualquer tempo e em qualquer
circunstância”. Mas nesta vida tudo passa, e às vezes passa da pior maneira
possível. Dias atrás esse Bumlai, o único cidadão do planeta com direito a
entrar na sala de Lula quando lhe desse na telha (ao que se diz, só a
primeira-dama tinha a mesma licença), viu-se cercado por agentes de polícia em
Brasília, preso por suspeita de corrupção em negócios com a Petrobras e
despachado para um xadrez da Polícia Federal em Curitiba, por causa dos
processos penais da Operação Lava-Jato. Nem Deus sabe no que pode dar isso
tudo. Mas ficou positivamente certo, acima de qualquer dúvida, que um amigo de
primeiríssima intimidade de Lula, mais forte que qualquer outro pelo tratamento
oficial que lhe davam no Palácio, está na cadeia. Que tal? Não foi a imprensa
que escreveu a tal ordem exposta na portaria principal do edifício de despachos
do ex-presidente, nem a oposição, nem as elites. Alguém lá dentro achou que era
uma boa idéia deixar uma coisa dessas registrada por escrito ─ e agora é
impossível negar o que foi feito. A prova da intimidade entre Lula e Bumlai já
está dada, de graça, sem a necessidade de cinco minutos de investigação
policial, e não há nenhuma maneira de sustentar que isso é algo normal.
Pecuarista de vida financeira tumultuada, dono de empresas falidas e assim
mesmo presenteado com cerca de 500 milhões de reais em empréstimos do BNDES,
Bumlai está metido em muitas das histórias mais tenebrosas do surto de
corrupção na Petrobras ao longo dos governos Lula e Dilma Rousseff. A começar
por uma questão básica: que raios estaria fazendo um criador de gado no meio de
negócios bilionários com petróleo? Agora, mais uma vez, o público será chamado
a fazer um esforço de fé em modo extremo para achar que não aconteceu “nada de
mais”. Bumlai, entre um caminhão de outras explicações do tipo “carne moída”,
que o deputado Eduardo Cunha apresentou para justificar milhões de dólares que
recebeu no exterior, sustenta o seguinte: um empréstimo que tomou sem
garantias, e nunca pagou, de um banco beneficiado num contrato de 1,6 bilhões
de dólares com a Petrobras não foi uma doação ─ a dívida sumiu, segundo diz,
com a venda de “embriões de boi” para o credor. Bumlai sustenta, igualmente,
que não é amigo de Lula; é um mistério, nesse caso, por que só ele tinha de ser
atendido imediatamente quando chegava ao Palácio do Planalto. E o próprio Lula
sustenta o quê? Não sustenta nada; simplesmente não fala sobre isso. É onde
estamos.
*** Depois do pecuarista amigo, o senador Delcídio Amaral, do PT, líder
do governo no Senado ─ nada menos que isso. Depois do senador, o banqueiro
André Esteves, promovido a cinco-estrelas da alta finança brasileira nestes
anos de ascensão social criada pelos governos Lula e Dilma Rousseff. Fica mais
grave, a cada dia, a superlotação do sistema carcerário neste país.
*** Nada como um
bom retrocesso, de vez em quando, para fazer as coisas irem para a frente.
Depende, é claro, do tipo de “retrocesso” do qual se está falando ─ no caso, é
o que Lula considera retrocesso, e a experiência mostra que, quando ocorre o
contrário do que ele quer, a possibilidade de erro é realmente mínima. Acaba de
acontecer com a eleição do novo presidente da Argentina, uma liderança que
horroriza o triângulo Lula-Dilma-PT e manda para o espaço os seus sonhos de uma
América Latina de “esquerda”. Espelho do governo brasileiro de hoje, a
Argentina companheira foi derrotada nas urnas, após doze anos de desastre
contínuo ─ e agora sobra à política externa do Brasil, como supremos aliados, a
companhia de potências como Venezuela, por enquanto, ou Bolívia. A Argentina,
com certeza, voltará a fazer parte do mundo que dá certo, e como tal será
tratada. O Brasil da recessão de 3% e dos 9 milhões de desempregados continuará
“progressista” e dando errado.
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