Por Felipe Recondo, Brasilia, 02/12/2012,
www.estadão.com.br
Refúgio no
passado para políticos processados criminalmente, o Supremo Tribunal Federal
está prestes a concluir...
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efúgio no passado para políticos processados
criminalmente, o Supremo Tribunal Federal está prestes a concluir o julgamento
do mensalão com a condenação de 25 réus a penas que superam 282 anos, imprime
um novo ritmo para as cerca de 500 ações penais contra parlamentares e começa a
mudar a cultura do foro privilegiado.
A condenação de seis parlamentares em 2010 e 2011
deu início à mudança do histórico de impunidade que envolvia o julgamento de
inquéritos e ações penais no Supremo Tribunal Federal. A condenação de três
deputados e sete ex-parlamentares, incluindo o ex-ministro José Dirceu, na
maior ação penal que tramitou no tribunal, tem potencial para mudar o quadro
histórico definitivamente e agilizar o julgamento dos cerca de 500 casos que
envolvem parlamentares - conforme os últimos dados do STF.
Relator do processo e crítico do foro privilegiado,
o ministro Joaquim Barbosa já confidenciou que um dos efeitos do mensalão pode
ser uma mudança na Constituição. A avaliação comum entre alguns ministros do
STF é de que a ação penal do mensalão jamais seria julgada se não fosse o foro
por prerrogativa de função. Se ficasse a cargo da primeira instância da
Justiça, o processo demoraria anos entre idas e vindas, recursos e manobras
processuais até transitar em julgado.
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om o novo cenário no julgamento de ações penais,
políticos pendurados no tribunal passam a ver o antigo refúgio como o fim da
linha. A condenação no Supremo não é passível de recursos ou manobras
protelatórias. As penas elevadas impostas aos réus do mensalão e a
parlamentares condenados nos últimos anos também seriam motriz para uma eventual
alteração.
Dúvida. Apesar desse novo perfil, uma dúvida
permanece. O histórico de julgamentos do Supremo lhe garantiu a fama de ser
excessivamente "garantista". Entre 2007 e 2010, 132 ações penais e
inquéritos foram julgados definitivamente pelo Supremo, com apenas seis
condenações. Alguns casos emblemáticos contribuíram para essa fama, a começar
pela absolvição do ex-presidente Fernando Collor de Mello, passando pelo
engavetamento do inquérito aberto contra o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci
por violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, em
2006.
No julgamento do mensalão, ministros considerados
garantistas, como Gilmar Mendes, votaram pela condenação dos réus e impuseram
penas elevadas. Eles acompanharam Barbosa, relator do processo cujos votos em
casos do passado sempre foram considerados mais severos. A votação folgada em
alguns itens e os votos de alguns dos ministros surpreenderam advogados e
juristas que acompanham a jurisprudência da Corte.
A condenação dos mensaleiros pode ainda ter um
efeito multiplicador. Juízes de primeira e segunda instâncias e ministros do
Superior Tribunal de Justiça (STJ) aguardam a publicação do acórdão do
julgamento para avaliar as conseqüências deste caso para a jurisprudência criminal
do país. Os votos proferidos pelos ministros em plenário, especialmente sobre
as acusações de lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta de instituição
financeira, podem mudar a jurisprudência sobre os casos.
Mas ministros do STJ afirmam que é preciso aguardar
a publicação do acórdão para saber se o que foi dito em plenário ao longo do
julgamento vai para o papel e, assim, poderá ser usado como precedente para
outras condenações. O acórdão deve ser publicado apenas no ano que vem, depois
que todos os ministros liberarem seus votos.
Dos seis deputados condenados pelo Supremo antes do
mensalão, nenhum está cumprindo pena. O caso mais problemático é do deputado
Natan Donadon (PMDB-RO). Condenado a 13 anos de prisão, continua em plenário
graças a um recurso que aguarda julgamento há um ano.
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