Governo judicializa o
impeachment, mas setores da imprensa agora inventam que, se Câmara recorrer, é
pura manobra! Tomem tento!!!
Por Reinaldo Azevedo, 19/12/2015,
www.veja.com.br
Huuummm… Deixem-me ver se
entendi. Então o governo pode mobilizar seus bate-paus nos partidos da base e
no Supremo; entrar com uma ação no tribunal; estuprar, com a ajuda dos togados,
a Constituição; reescrever a Carta Magna e o Regimento da Câmara e do Senado —
em meio à troca de elogios —, mas qualquer movimento de resistência a isso não
passa de manobra espúria de Eduardo Cunha?
Nós, da imprensa, como categoria,
já fomos melhores: quando não estávamos, ainda que eventualmente sem saber, a
serviço de um partido e de uma causa.
Eu tenho uma novidade para os
coleguinhas. Existe, por exemplo, um troço chamado “embargo de declaração”. A
Câmara dos Deputados é parte na causa que foi julgada pelo Supremo. Ou não é?
Alguém sabe depois do que se
votou ali, quando pode e quando pode haver voto secreto? Alguém sabe quando
pode e quando não pode haver uma candidatura avulsa? Alguém sabe quando pode e
quando não pode haver uma disputa?
Se, como quer o esvoaçante
Roberto Barroso, uma comissão só existe se indicada pelos líderes, por que
haver, então, eleição? Por que discutir voto aberto ou fechado?
“Ah, mas, se Cunha recorrer a
instrumentos como embargo de declaração, ele estará apenas adiando o desfecho,
esperando que a piora da economia leve o povo às ruas…”
É mesmo? Que deputado sapeca!
Ele deveria fazer o jogo do PT e
apressar o rito o máximo possível, não é mesmo? Não me matem de tédio!
Ora, convenham: agora que Dilma
terá na Fazenda e no Planejamento petista da gema, basta, então, tirar o país
da lama e desmoralizar os que querem o impeachment… Isso não muda os crimes
cometidos, mas se tem um argumento: “Querem tirar do poder uma presidente
competente…”.
Não entendi a tese. E sempre
estou pronto para ouvir explicações. Então o governo decide judicializar à
questão do impeachment, contando com tipos como Roberto Barroso, mas a parte
que perdeu deveria se declarar impedida de recorrer aos instrumentos que a
própria legalidade oferece?
Se a Mesa da Câmara recorrer a
embargos de declaração, acho que estará cumprindo a sua função. Se não o fizer,
estará prevaricando. Se for Eduardo Cunha ainda a fazê-lo, estará cumprindo o
seu papel de presidente da Câmara. Se outro estiver em seu lugar e não o fizer,
então estará sendo apenas um esbirro do Planalto.
Esse negócio de democracia é pra
valer. Ou a gente acata ou não acata.
Eu acato.
Espero o embargo de declaração.
E, enquanto ele for julgado, com a questão devidamente esclarecida, o rito do
impeachment tem de ser congelado.
“Ah, mas a economia vai piorar, e
isso é ruim para Dilma.” Ora, basta que ela não piore… Uma coisa é certa: a
gente não deixa de seguir as regras legais só porque a presidente é
incompetente.
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