Por Augusto Nunes, 18/12/2015,
www.veja.com.br
Editorial
do Estadão:
Os ditos “movimentos sociais”, nome de fachada para muitas organizações fora da lei que servem
como massa de manobra do PT realizou
na quarta-feira passada várias manifestações país afora para protestar contra o
impeachment da presidente Dilma Rousseff. A pretensão dessa tropa é provar que
sua capacidade de mobilização é maior do que a dos movimentos que querem o
afastamento da petista – logo, que sua causa tem mais apoio popular do que a
dos cidadãos que consideram que Dilma deve ser punida por sua irresponsabilidade
fiscal. Com isso, segundo tal raciocínio, ficaria claro que os defensores do
impeachment não passam, afinal, de um punhado de golpistas reacionários, sem respaldo do “povo”.
Mas que “povo” é esse, afinal? Que “povo” vai a uma manifestação
vestindo coletes da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em ônibus fretados e
com sanduíches de mortadela garantidos? Não eram muitos os que desfilavam na
Avenida Paulista sem pertencer à militância
paga. A maioria absoluta dos manifestantes estava lá como parte desse
certame de popularidade inventado pelos sindicalistas petistas para distorcer a
realidade.
E a realidade, inegável, é que para o PT restou apenas à militância
movida a caraminguás – os manifestantes profissionais, para quem pouco importa
a quem se dirigem os gritos de guerra que são treinados para entoar, desde que
recebam seu sanduíche e o cachê ao
final da passeata. Se dependesse apenas dos brasileiros comuns que hoje
defendem Dilma e o PT, o protesto se resumiria a uma assembléia de centro
acadêmico.
Se alguém tem dúvida a esse respeito, basta ver a mais recente pesquisa
do Ibope sobre a aprovação do governo Dilma. Diz à enquete que 70% dos
eleitores consideram a administração da petista “ruim” ou “péssima”, enquanto
apenas 9% entendem que é “ótima” ou “boa”. Além disso, 82% disseram desaprovar
a maneira como Dilma governa, contra 14% que aprovam. Por fim, 78% afirmaram
não confiar na presidente, enquanto só 18% confiam.
São números que deveriam desautorizar qualquer pretensão dos petistas e
de seus sequazes de se julgarem apoiados pelos brasileiros – cuja maioria, a
esta altura, está cansada da roubalheira, da incompetência e do colapso moral
que marcam a passagem do PT pela Presidência. Mas pudor não é mesmo o forte
dessa turma. Para mostrar uma força que não têm, eles não conhecem limites
éticos.
Um exemplo dessa desfaçatez foi dado pelo Sindicato dos Professores do
Distrito Federal, que, em seu chamado para os protestos do dia 16, informou que
as aulas das escolas públicas da capital do país seriam “compactadas” – isto é,
os alunos, que nada têm a ver com a história, seriam amontoados em períodos
limitados ao longo do dia para permitir que os professores pudessem atender à “convocação”
do sindicato. Tudo isso em nome da luta “pelo respeito à democracia” – decerto
a mesma “democracia” que vigora em regimes autoritários pelos quais esse
pessoal nutre extasiada devoção.
Ciente de que não
lhe restam alternativas, Dilma escancarou as portas do Palácio do Planalto para
esses movimentos. Um dia depois das manifestações, a presidente e quatro de
seus ministros receberam representantes da tal Frente Brasil Popular, entre os
quais o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), João Pedro
Stédile. É evidente que eles foram cobrar a conta do apoio – como disse o
notório Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST),
Dilma “tem que entender o recado” e aproveitar “a última chance de mudar, antes
de perder mais apoio”. E Dilma, que nunca foi adepta da austeridade fiscal e da
racionalidade econômica, parece mesmo cada vez mais inclinada a permitir que
esses grupelhos interessados em arruinar de vez a economia do Brasil, em nome
de uma idéia de “justiça social” que pereniza a pobreza em vez de erradicá-la,
ditem a agenda da Presidência daqui em diante.
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