O vice é decorativo, a presidente sempre pareceu decorativa e o eleitor
se
sente decorativo, um mero figurante
sente decorativo, um mero figurante
Por
Ruth de Aquino, 11/12/2015,
Esta é uma carta pessoal. Não entendo como o
desabafo veio parar aqui no site de ÉPOCA, na última página da revista e nas
redes sociais. Tudo vaza, as barragens se rompem, os responsáveis não são
punidos nem presos e nós ficamos ao desabrigo, sem dinheiro para entrar em
recesso. Quem vazou? Dididilma quis ver a lama chegar ao mar antes do
Réveillon? Mimimichel decidiu rasgar a fantasia antes do Carnaval? A nossa
pátria mãe, subtraída em tenebrosas transações, viu passar, neste fim de ano de
2015, o bloco do sanatório geral.
Quem resolveu expor ao país a fratura de um governo
desmoralizado num momento em que o Brasil é rebaixado em todos os sentidos?
Deveriam todos ser impedidos. Impedidos de trabalhar só de terça a quinta no
Congresso, impedidos de ganhar tantas mordomias, impedidos de roubar das
estatais, dos hospitais, das escolas, das estradas, dos eleitores e dos
contribuintes. Impedidos de tirar férias, impedidos de mentir deslavadamente,
impedidos de ter direito a vale-apartamento, vale-combustível, vale-assessor,
vale-aposentadoria e vale-tudo. Quem não vale nada e não se importa com o
Brasil, só com seu bolso e seu prestígio, deveria ser cassado.
O zika vírus acometeu os Poderes da República e acentuaram
os problemas neurológicos dos parlamentares, aqueles que um dia chamamos de
“representantes do povo”. Descobriu-se a verdadeira identidade do
mosquito Aedes aegypti, transmissor de várias doenças: ele se chama
Eduardo Cunha. Está disfarçado de presidente da Câmara nas águas paradas do
país. Ele é frio e inabalável em suas piruetas e seus delírios. As picadas do
mosquito provocam, entre outros sintomas, náusea, fadiga e dores. Não há
repelente capaz de combater o Aedes Cunha Chikungunya.
O Conselho de Ética está contaminado. A julgar pelas cabeçadas, ofensas, agressões e tapas entre marmanjos de gravata em sessões preliminares, destinadas apenas a decidir se prossegue ou não a análise da cassação de Cunha, o diagnóstico é claro. Enlouqueceram todos aqueles muito próximos do presidente da Câmara, que pertence a um novo partido, o PMDB do C. Esse partido briga com o PMDB do T e o PMDB da D. Como diz o deputado Lúcio Vieira Lima, do PMDB baiano, “querem transformar o PMDB em um motel, com essa alta rotatividade, de entrar num dia e sair num outro”.
O Conselho de Ética está contaminado. A julgar pelas cabeçadas, ofensas, agressões e tapas entre marmanjos de gravata em sessões preliminares, destinadas apenas a decidir se prossegue ou não a análise da cassação de Cunha, o diagnóstico é claro. Enlouqueceram todos aqueles muito próximos do presidente da Câmara, que pertence a um novo partido, o PMDB do C. Esse partido briga com o PMDB do T e o PMDB da D. Como diz o deputado Lúcio Vieira Lima, do PMDB baiano, “querem transformar o PMDB em um motel, com essa alta rotatividade, de entrar num dia e sair num outro”.
Aparentemente, votamos em cabras-machos, que não
levam desaforo para casa. Foi só um deputado do Conselho de Ética chamar o
outro de bagunceiro que se instalou a briga física.
– Aceito tudo, mas me tocar, não – gritou o
deputado Zé Geraldo, do PT da Bahia, que queria validar o processo contra o
presidente da Câmara, já adiado por sete vezes.
– Macho nenhum vai tocar em mim, não. O senhor é
moleque – gritou o deputado Wellington Roberto, do PR da Paraíba, aliado de
Aedes Cunha.
Os machos não podem se tocar, só podem se agredir. Enquanto isso, Cunha dá entrevista sorrindo, parece se divertir. Seu colega Renan Calheiros, presidente do Senado, também envolvido em denúncias de corrupção, está impaciente e acha que Cunha poderá até ser preso ou afastado, para ser julgado. Renan lembra direitinho que renunciou para não ser cassado.
Não é só “bagunceiro” que virou ofensa a cabra-macho em Brasília. “Namoradeira” virou ofensa visceral à cabra-fêmea. Numa festa natalina de beija-mão a Temer, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, entrou para o bloco do sanatório geral ao jogar seu vinho branco em José Serra. Reagiu como barraqueira ao ser chamada de namoradeira pelo tucano mais desajeitado e bobo do tucanato.
Os machos não podem se tocar, só podem se agredir. Enquanto isso, Cunha dá entrevista sorrindo, parece se divertir. Seu colega Renan Calheiros, presidente do Senado, também envolvido em denúncias de corrupção, está impaciente e acha que Cunha poderá até ser preso ou afastado, para ser julgado. Renan lembra direitinho que renunciou para não ser cassado.
Não é só “bagunceiro” que virou ofensa a cabra-macho em Brasília. “Namoradeira” virou ofensa visceral à cabra-fêmea. Numa festa natalina de beija-mão a Temer, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, entrou para o bloco do sanatório geral ao jogar seu vinho branco em José Serra. Reagiu como barraqueira ao ser chamada de namoradeira pelo tucano mais desajeitado e bobo do tucanato.
Kátia podia ter se limitado a dizer sua verdade –
que Serra tinha sido deselegante e que, por esse tipo de comportamento, jamais
seria eleito presidente da República. Mas não. A porta-voz dos ruralistas e
amiga de Dilma se transformou, com um tufão nos quadris. E continuou irada nas
redes sociais, despejando adjetivos contra Serra, “desrespeitoso, arrogante e
machista”. Dizer que Serra é machista é chover no inundado.
O vice-presidente é decorativo, a presidente sempre
pareceu decorativa e o eleitor se sente decorativo, mero figurante nesse samba
atravessado. A letra do antológico “Vai passar”, de Chico Buarque, foi composta
ao fim de “uma página infeliz de nossa história”, a ditadura militar. Hoje, com
o país afundando na depressão e o espetáculo constrangedor oferecido pelo
Legislativo e pelo Executivo, eu me pergunto quem seria o mestre-sala e a
porta-estandarte do sanatório geral. Eles são um exemplo para a ala mirim
maluquete, representada pela neta de Lula fazendo gestos obscenos em rede
social. Vai demorar para passar. O Carnaval será uma alegria fugaz. Confio nas
novas gerações para reinventar a vida boa, ô lerê, ô lará.
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