Por Augusto Nunes, 09/12/2015,
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Por anos a fio, Luiz Fachin foi simultaneamente procurador do estado e
advogado militante. A essa acumulação de funções, proibida pela Constituição
paranaense e, portanto ilegal, somou-se uma agravante só contornada por gente
dotada do dom da ubiqüidade: Fachin continuou a dar aulas na universidade. E o
duplo emprego virou triplo.
Em numerosos artigos, entrevistas e discursos, o doutor em
extravagâncias bacharelescas deixou claro seu menosprezo pelo preceito
constitucional que garante a propriedade privada no Brasil. Nunca escondeu os
laços afetivos com o MST, uma velharia comunista que não tem existência
jurídica. E sempre defendeu enfaticamente a desapropriação de terras produtivas
para fins de reforma agrária, sem o pagamento de indenização aos proprietários
lesados.
Indicado para uma vaga no Supremo Tribunal Federal por Dilma Rousseff,
Fachin superou a sabatina no Senado com a ajuda militante do cabo eleitoral
Álvaro Dias. Na discurseira em que se derramou em elogios e rapapés ao
sabatinado, o parlamentar tucano advertiu os que lastimaram a deserção do até
então combativo oposicionista: todos iriam arrepender-se quando Fachin
começasse a agir no Supremo.
Nesta terça-feira, em decisão monocrática, o magistrado dos sonhos de
Álvaro Dias suspendeu a comissão do impeachment que a Câmara começou a montar
horas antes. A palavra final caberá ao plenário do tribunal, que examinará a
pendência na próxima quarta-feira. Mas agora está claro que Fachin entrou em
campo para manter no cargo a presidente a quem deve o emprego.
Na conversa gravada pelo filho de Nestor Cerveró, o senador Delcídio do
Amaral e seus comparsas se mostram muito animados com a informação de que
determinado caso seria julgado por Fachin. A interrupção do processo de
impeachment ajuda a entender o entusiasmo da turma empenhada em desmoralizar a
Operação Lava Jato.
Para devolver à
condição humana ministros convencidos de que a toga transforma advogados em
divindades, basta que os milhões de indignados retomem as ruas e mostrem
claramente o que o país que presta pensa de gente assim. O Congresso fará a
vontade do povo. O STF não ousará desafiá-la com atrevidas manifestações de
gratidão ao padrinho. Ou madrinha.
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