Por
Reinaldo Azevedo, 17/11/2013,
www.veja.com.br.
Quando leio a
indignação de Paulo Henrique Amorim com a prisão dos “fundadores” do PT (post
acima), sou obrigado a acionar a memória. Quando o vejo afirmar, em tom de
ironia, que “ainda não foi possível mandar prender Lula”, tenho de observar que
quem tentou mandar Lula para a cadeia foi… Paulo Henrique Amorim, como já
demonstrei aqui.
Quem vê ou lê o hoje
ultrapetista, ultragovernista, ultraesquerdista e ultralulista Amorim não diria
que, na campanha eleitoral de 1998, ele foi um implacável algoz de Lula.
Era o chefão do Jornal da Band e liderou uma verdadeira campanha contra o
então candidato petista à Presidência, que disputava o cargo pela terceira vez.
Lula teve de recorrer à Justiça e ganhou direito de resposta. Vejam uma das
reportagens contra Lula. Volto em seguida.
Na reportagem acima,
Amorim já informa que Lula ganhara na Justiça o direito de resposta. O vídeo é
significativo porque o agora ultrapetista, ultragovernista, ultraesquerdista e
ultralulista faz uma reconstituição de sua denúncia. O esforço da investigação
de Amorim buscava demonstrar que o apartamento de cobertura em que morava (e
mora) Lula era fruto de uma maracutaia envolvendo Roberto Teixeira, seu
compadre, e o dono da construtora que levantou o edifício, que teria obtido um
benefício ilegal na Prefeitura de São Bernardo quando o petista Djalma Bom era
o prefeito. Existe o vídeo em que este incansável perseguidor da verdade
apresenta a reportagem específica, contra Teixeira. Vocês terão a chance de
vê-lo também.
Os filmes demonstram
que Amorim pode mudar de opinião sobre o objeto de seus afetos e ódios, mas não
muda o estilo. Em 1998, Lula era um pato manco. FHC o venceu pela segunda vez
no primeiro turno. O PT tinha feito a besteira de combater o Real — do qual
Amorim era, obviamente, um grande admirador. Mas também é o caso de louvar a coerência
do Colosso de Rhodes do jornalismo: ele nunca muda de lado! É sempre governista
e não abre mão de ser implacável com quem está fora do poder.
Entendam melhor a
denúncia que ele fazia contra o Roberto Teixeira. Retomo depois.
Atenção! Não há um só
— e a Internet está aí, aberta à pesquisa — desses governistas fanáticos que
não tenha sido governista fanático em qualquer tempo. E isso inclui o passado
mais remoto, o regime militar. Nesse particularíssimo sentido, são todos mais
espertos do que este escriba. Como comecei cedo na militância política, fui
crítico de todos os governos, de Geisel pra cá. Ontem, o alvo era Lula — um
representante da oposição. Hoje, os alvos são outros: os que ele considera
adversários do PT.
Direito de resposta
Lula ganhou direito
de resposta e responde a Amorim. Vejam. Volto depois.
Voltei: a ética de Lula
Lula reclama do que
considera ataque injusto contra ele, construído com inverdades. E como faz
isso? Pontuo alguns momentos.
1min - Notem que ele sugere saber alguma coisa sobre a vida pessoal de
Fernando Henrique Cardoso, mas, generoso que é, decidiu não usar na campanha.
Nota: se a denúncia de Paulo Henrique Amorim tivesse fundamento, não se tratava
de problema pessoal coisa nenhuma!
2min29s - Lula saca o argumento que ficou internacionalmente
conhecido por “Minha mãe nasceu analfabeta”. Usa, para não variar, a sua origem
humildade como atestado prévio de honestidade. O que é, evidentemente, uma
mistificação.
3min08s – Vejam ali o chefão do PT, o partido dos dossiês, a reclamar que os
jornalistas não pensam na sua família, nos seus filhos, que vão à escola.
Quando foi que os petistas levaram isso em consideração? Sempre moeram a
reputação dos adversários sem piedade.
4min - Para se defender, Lula sai atacando o governo FHC e saca a denúncia
estupidamente mentirosa sobre o Proer. O homem que reclamava das injustiças de
que era vítima atacava o muito bem-sucedido programa de reestruturação de
bancos, que preparou o país para enfrentar crises. Anos depois, na Presidência,
dado o estouro da bolha nos EUA, o Apedeuta sugeriu a Obama que adotasse o…
Proer!
4min30s - Ataca a imprensa, que acusa de privilegiar o
candidato do governo. Expoente hoje do jornalismo chapa-branca e “de alma
marrom”, segundo Agamenon, Paulo Henrique acusa a imprensa de privilegiar os
candidatos da oposição…
5min25s – Lula anuncia que vai processar seus acusadores. Não sei no que deu o
processo. Se descobrir, eu conto.
A ética de Amorim
Vocês sabem que Amorim
resistiu a cumprir o acordo judicial em que se obrigava a publicar, sem
comentários adicionais, uma retratação em que reconhecia a idoneidade do
jornalista Heraldo Pereira. Muito bem! Vejam, a partir de 6min19s, o que o
valente faz com o direito de resposta de Lula. Encerrado o pronunciamento do
outro, sem nem um intervalo, ele reitera as denúncias e ainda acrescenta
supostos elementos novos.
Vale dizer: ele
decidiu cumprir, muito à sua maneira, a decisão judicial. É evidente que
jornalistas e veículos não são obrigados a gostar do direito de resposta nem
precisam se calar depois dele. Mas há um modo ético de conduzir a questão. E,
evidentemente, não é esse.
Cumpre um
esclarecimento: Amorim era fanaticamente antilulista em 1998, mas não
trabalhava para o governo FHC. Certamente a Band, a exemplo de todas as
emissoras, tinha anúncio de estatais, mas o Colosso de Rhodes não contava com
patrocínio pessoal de empresas públicas. A prática, como se conhece hoje, é
criação do lulo-petismo — foi uma das inovações do modelo petista de
comunicação.
Lula pedia mais
responsabilidade da imprensa. Hoje, com dinheiro público, seus áulicos fazem o
que se vê. E Amorim se tornou seu amigo desde pequeno.
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