BRASÍLIA - O PT reagiu com veemência à
decisão da Procuradoria-Geral da República de mandar investigar as acusações...
Por Denise Madueño, Vera
Rosa e Daiene Cardoso, 09/01/2013, O Estado de São Pulo, estadão.com.br
"Lula durante evento em Paris: petista diz que
Valério mentiu em depoimento"
BRASÍLIA
- O PT reagiu com veemência à decisão da Procuradoria-Geral da República de
mandar investigar as acusações de Marcos Valério Fernandes de Souza contra Luiz
Inácio Lula a Silva. Após ser condenado no julgamento do mensalão, o empresário
mineiro passou a acusar o ex-presidente de ter sido beneficiado pelo esquema. O
partido classifica a atitude como uma "manobra sórdida" e deve
transformar a festa de seus 33 anos de fundação, agora em fevereiro, num ato
político de desagravo ao seu principal líder.
O Estado
revelou na quarta-feira, 9, que o procurador-geral da República, Roberto
Gurgel, informou a colegas que irá encaminhar o depoimento de Valério, prestado
em 24 de setembro, à primeira instância do Ministério Público Federal - após
deixar a Presidência, Lula deixou de ter foro privilegiado e terá seu caso
analisado por procuradores federais de Minas, São Paulo ou Distrito Federal.
Gurgel
divulgou uma nota oficial na qual afirma ainda não ter tomado a decisão (mais
informações abaixo). Fontes da Procuradoria-Geral, porém, confirmaram ao Estado
que a decisão de dar prosseguimento ao caso já foi de fato tomada em dezembro.
O
presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), disse considerar "um
absurdo" o Ministério Público apurar se houve envolvimento de Lula no
mensalão. Na mesma linha, dirigentes do PT apontaram o dedo para Valério,
acusando-o de tentar criar um fato político para minimizar o impacto de sua
condenação pelo Supremo Tribunal Federal - o empresário foi condenado a mais de
40 anos de prisão e tenta, por meio de novas informações, diminuir a pena ao
receber o benefício da chamada delação premiada.
No
depoimento prestado à Procuradoria-Geral em setembro, Valério disse que pagou
despesas pessoais de Lula, no início de 2003, por meio de depósito na conta da
empresa de segurança Caso, de propriedade do ex-assessor da Presidência Freud
Godoy.
"É
um absurdo que se produza uma nova investigação sobre esse tema, envolvendo o
presidente Lula. Esse tema foi investigado à exaustão", disse Maia, ao
lembrar que 25 réus foram condenados pelo Supremo. "Além disso, houve uma
CPI e todas as pessoas investigadas tiveram suas vidas devassadas. Qualquer
tentativa de envolver o presidente Lula nisso não tem cabimento."
Para
Maia, Valério "não é confiável". "É um homem condenado a 40 anos
de cadeia e busca, agora, criar um fato político para atenuar sua condição. Não
me parece razoável que tenha de se reabrir um caso que já foi tratado nas mais
diversas instâncias", completou o presidente da Câmara. "É uma
manobra sórdida de alguém que tenta sair do buraco", emendou o deputado
federal Paulo Teixeira (PT-SP).
Lula
sempre negou conhecer Valério, a quem chamou de "mentiroso" e
"jogador". O ex-presidente descansa em Angra dos Reis (RJ) com a
família e não quer alimentar o assunto.
O
presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, divulgou nota na quarta-feira na
qual afirma que Gurgel "desmentiu" ter a intenção de investigar o
petista. Ele criticou o jornal. "Em relação à manchete de primeira página
do jornal O Estado de S. Paulo (...) lamento profundamente que o jornal tenha
induzido ao erro seus leitores e outros órgãos da imprensa, já que não há hoje
nenhuma decisão oficial sobre o assunto por parte da Procuradoria-Geral da
República, de acordo com manifestação oficial do órgão desmentindo a matéria.
Estranho tal equívoco na primeira página de um jornal tão tradicional como O
Estado de S. Paulo, e prefiro acreditar que não existiu nenhum viés
mal-intencionado no ocorrido", afirma a nota.
No mesmo
depoimento em que acusou Lula, Valério afirmou ter sido ameaçado de morte por
Okamotto a fim de que não contasse o que sabia. "Se o Ministério Público
tem algum elemento de credibilidade e acha relevante fazer a investigação sobre
isso (a acusação de ameaça), acho que tem mais é de fazer. Esse é o papel do
Ministério Público", disse Okamotto quando o conteúdo do depoimento foi
revelado pelo Estado em dezembro.
Para o
secretário de Assuntos Institucionais do PT, Vilson Oliveira, o partido não tem
nada a temer. "No aniversário do PT, em fevereiro, vamos fazer um ato
político na Câmara em defesa de Lula, do partido e de todos os nossos
militantes. É um ato pró-PT."
Além de
comemorar 33 anos, o PT completa em 2013 uma década à frente da Presidência,
desde a eleição de Lula e agora com Dilma Rousseff. "Não é a primeira vez
que tentam criminalizar o legado de Lula", disse o líder do PT na Câmara,
José Guimarães (CE). "O procurador pode mandar o depoimento para a primeira
instância e vai ver que não tem nada", afirmou o secretário de Assuntos
Institucionais do PT. "Ele deveria agir sempre assim, mas das outras vezes
não foi tão rápido", ironizou. No ano passado, o PT acusou Gurgel de
engavetar investigações que apontavam a ligação entre o então senador
Demóstenes Torres e o contraventor Carlos Cachoeira.
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