Por Augusto Nunes, 15/01/2016,
www.veja.com.br
Editorial do Estadão:
Da
enxurrada de novas revelações sobre o petrolão e similares, salta aos olhos uma
questão politicamente delicada, mas cada vez mais incontornável: alguém pode
acreditar de boa-fé que um escândalo dessas proporções possa ter ocorrido, se
não com a participação direta e explícita, pelo menos com o tácito beneplácito
ou o conhecimento do fato por parte das mais altas autoridades da República, a
começar por quem chefia o Estado e o governo? Assim não surpreende que,
nos últimos dias, tenham se avolumado as referências de envolvimento direto ou
indireto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no escândalo do petrolão e,
agora, seja a presidente Dilma Rousseff que apareça no noticiário – que é mais
policial que político.
Em
matéria de escândalos, Lula está escolado. Haja vista o mensalão, que o tempo
se encarregou de rebaixar a astro de grandeza secundária numa constelação de
atentados muito mais brilhantes à moralidade pública. Na verdade, pode-se dizer
que faz parte do charme populista do ex-presidente seu estilo blasé no trato
daquilo que a esquerda, por convicção ideológica, e ele próprio, por
conveniência, chamam depreciativamente de “moralidade burguesa”. De resto, o
ex-presidente parece não se importar com a máxima que recomenda considerar
sempre com desconfiança quem faz fortuna material na vida pública.
Dilma
Rousseff é caso diferente. Ela tinha razão quando afirmava que não havia
objetivamente nada a “embaçar” sua reputação. Mas agora o noticiário registra,
a partir de informações constantes da delação premiada do notório Nestor
Cerveró, “que Fernando Collor de Mello disse que havia falado com a presidente
da República, Dilma Rousseff, a qual teria dito que estavam à disposição de
Fernando Collor de Mello a presidência e todas as diretorias da BR
Distribuidora”. Essa garantia que o senador alagoano teria afirmado ter
recebido de Dilma é coerente com a anterior determinação do antecessor dela,
Lula, de abrir as portas da BR Distribuidora a Collor “em troca de apoio
político à base governista no Congresso Nacional”.
Essa
referência ao acordo entre Lula e Collor, quando o primeiro cumpria seu segundo
mandato presidencial, baseia-se em delação premiada de Nestor Cerveró e consta
da denúncia apresentada ao STF pelo procurador-geral da República, Rodrigo
Janot. Essa denúncia tem como acusado o deputado petista Vander Loubet (MS).
A
suspeita em relação à Dilma Rousseff, levantada pela delação do ex-diretor da
Petrobras, tem, por enquanto, o mesmo valor daquela que atingiu o governo do
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a propósito da compra de uma petroleira
argentina pela Petrobras. São suspeitas que precisam ser devidamente
investigadas e provadas. Governistas e petistas apressaram-se a reforçar a
gravidade da acusação a FHC. Pode-se fazer exatamente o mesmo sobre a acusação
a Dilma.
A
presidente da República afirmou a pessoas próximas, segundo o Globo,
que seu antecessor alagoano teria cometido um “exagero” e feito uma
“interpretação” da conversa que tiveram, ao passar adiante a versão de que a
presidência e a diretoria da subsidiária da Petrobras teriam sido colocadas a
sua disposição. Pela “interpretação” de Collor, Dilma teria apenas confirmado
aquilo de que ele já dispunha desde o governo Lula, daí ser razoável supor que
a presidente teria preferido deixar as coisas como estavam.
Como Dilma não nega a conversa
com Collor – apenas o “exagero” do senador –, está aí uma clara demonstração de
que a chefe do governo tinha conhecimento do fato de que um pedaço importante
da Petrobras, a BR Distribuidora, havia sido transformado em feudo de um grupo
político “aliado” do governo. Hoje está claro que a empresa na qual Nestor
Cerveró ganhou uma diretoria como reconhecimento dos serviços prestados ao PT
foi transformada numa usina de ilicitudes, inclusive o desvio de recursos para
as contas dos “donos” do pedaço. Foi o preço pago pelo lulopetismo para
converter em aliado um dos inimigos que combateu com maior ferocidade nos
tempos em que pregava a ética na política. E Dilma não sabia de nada?
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